No Momento Odontologia desta semana Ana Carolina Fragoso Motta, professora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP e que atua em pesquisas na área de fisiopatologia das doenças infecciosas e estudo das manifestações bucais de doenças inflamatórias autoimunes, fala como os medicamentos podem interferir na saúde bucal.
Segundo Ana Carolina, alguns medicamentos causam efeitos adversos que afetam a saúde bucal. Eles podem causar, por exemplo, hipossalivação, que resulta em sintomas de boca seca, desequilíbrio da microbiota bucal com consequente infecção oportunista, lesões inflamatórias na mucosa bucal, como mucosite, e em alguns casos necrose do osso. “Medicamentos da classe dos ansiolíticos e antidepressivos são os que mais causam boca seca e o uso não racional de antimicrobianos, principalmente antibióticos, podem causar desequilíbrio da microbiota oral e resultar em infecções oportunistas. Drogas com ação imunossupressora, imunomoduladoras ou anti-inflamatórias quando usadas cronicamente podem causar feridas na boca que se apresentam com manchas vermelhas, ardência, erosões e úlceras. Por fim, drogas do grupo dos bisfosfonatos, podem causar necrose do osso”, informa.
No caso da boca seca, diz Ana Carolina, é importante substituir o medicamento em uso por outros que resultem em menos efeitos de secura de boca. “Em relação ao desequilíbrio da microbiota é importante fazer o uso de antimicrobianos apenas o estritamente necessário e com orientação médica.” Já sobre as drogas com ação imunossupressora e anti-inflamatório, a professora diz que muitas vezes esses são os únicos medicamentos para o controle da doença sistêmica do paciente, por isso quando não for possível substituí-las é importante o acompanhamento por um estomatologista (ramo da odontologia especialista no diagnóstico das doenças da boca) para controle dessas lesões. Com relação ao uso contínuo dos bisfosfonatos, a professora lembra que é importante sempre manter a boca em condições de saúde e sempre avisar ao dentista sobre o uso desses medicamentos. “Sempre é importante o acompanhamento do paciente por um estomatologista para manejar esses efeitos e, ainda, manter a comunicação com o médico que prescreve esses medicamentos para avaliar a necessidade de substituição deles, tanto para a saúde em geral como para a saúde bucal.”
O professor Paulo César Rodrigues Conti, titular do Departamento de Prótese e Periodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, lembra que algumas classes de medicamentos, como antidepressivos, também podem desencadear a bruxismo, que é o ranger e apertar dos dentes, por isso sempre que perceber esses sintomas, o paciente deve procurar um profissional dentista para avaliação e tratamento, se for o caso. Bruxismo foi tema do último episódio do Momento Odontologia, ouça aqui.
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