Momento Odontologia #108: Maior mobilidade e mudanças na dieta pioraram os problemas bucais dos indígenas do Xingu

Antes de 1980 os problemas bucais dos moradores do Parque Indígena do Xingu eram desgastes em função de uma dieta mais natural; entretanto, depois disso, com a introdução da dieta industrializada, a prevalência é de outras doenças bucais, principalmente a cárie

 13/09/2021 - Publicado há 3 anos
Momento Odontologia - USP
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Momento Odontologia #108: Maior mobilidade e mudanças na dieta pioraram os problemas bucais dos indígenas do Xingu
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A introdução de uma dieta com produtos industrializados, com a presença do sal e do açúcar, por exemplo, fez com que aparecessem diversos problemas de saúde entre os índios que vivem no Parque Indígena do Xingu, no nordeste do Estado do Mato Grosso, como diabete, hipertensão e, ainda, problemas bucais, que hoje são iguais ou até maiores que aqueles encontrados na nossa sociedade. Quem fala mais sobre a saúde bucal da população xinguana no podcast Momento Odontologia desta semana é o professor Wilson Mestriner Junior, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP. 

Mestriner Junior é o coordenador do projeto Huka Katu, nome de origem na língua kamaiurá que vem do tronco linguístico tupi-guarani e significa “sorriso lindo”. O professor conta que os problemas bucais dos xinguanos no passado eram mais desgastes que ocorriam em função do padrão de uma dieta mais natural. Entretanto, no final da década de 1980, com a introdução da dieta industrializada, houve uma transição epidemiológica, com a prevalência de outras doenças bucais, principalmente a cárie.

O projeto Huka Katu começou no início do século, em 2003, e foi interrompido em 2012. De lá para cá o professor conta que a condição da saúde bucal dos índios do parque piorou muito, uma vez que os indígenas ficaram desassistidos. “A paralisação do projeto de 2012 até 2019 provocou um grande aumento da prevalência de doenças bucais e, atualmente, a condição da saúde bucal da população xinguana é pior do que a da população brasileira, mas com problemas semelhantes, prevalência da doença da cárie, uma pequena prevalência de doença periodontal, má oclusão e uma baixa prevalência de câncer bucal.”

O tratamento dessa população é feito na própria aldeia, por isso não tem intervenções com equipamentos rotatórios. Segundo Mestriner Junior são usadas estratégias de controle da doença, a principal é o tratamento restaurador com uso de material inicialmente chamado de provisório, mas quando utilizado nas crianças acaba sendo praticamente definitivo. O professor explica que por elas estarem na fase de dentição mista, com o controle a doença não é reproduzida na dentição permanente. “Além da restauração, visamos também ao controle da doença bucal, à promoção e à educação em saúde, além de capacitarmos os agentes indígenas de saúde.”

Os problemas mais graves são enviados para os municípios referência que ficam no entorno do parque para serem assistidos por especialistas, mas alguns casos foram encaminhados para a Forp, onde foram desenvolvidas cirurgias de maior complexidade.

O projeto

O projeto é desenvolvido em duas disciplinas na Forp, uma optativa, inserida no projeto pedagógico e trata da seleção dos estudantes, da preparação e planejamento das ações no parque, do conhecimento da gestão, além de conteúdos como interculturalidade, ética, etiqueta e estética. Já a disciplina dois é a atuação no parque propriamente dito, que foca na questão assistencial, mas também de como aquela sociedade se estrutura, por ser coletiva e ter alguns aspectos bem distintos da nossa. 

O objetivo é formar profissionais da área de saúde bucal para atuarem no subsistema de saúde indígena. “As ações são muito bem planejadas e possuem etapas de desenvolvimento, partimos de um diagnóstico epidemiológico, de riscos a doenças bucais, propostas no controle da doença bucal, participação dos agentes indígenas de saúde e das equipes de área, que são profissionais contratados para atuar no território. O projeto também traz o potencial da interdisciplinaridade, o que é muito importante.” 

Mestriner Junior lembra que neste momento de pandemia o processo está sendo retomado de forma muito prudente, todos os estudantes estão sendo muito bem preparados, associados a um protocolo muito rígido, com testagem de todos antes de entrar no parque. “É muito bom retomar o projeto e reconhecer a sua importância, não só para a formação dos estudantes, mas para aquela população que ficou muito tempo desassistida.”  

Produção e Apresentação Rosemeire Talamone
CoProdução: Alexandra Mussolino de Queiroz (FORP), Letícia Acquaviva (FO), Paula Marques e Tiago Rodella (FOB)
Edição: Rádio USP Ribeirão
E-mail: ouvinte@usp.br
Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 107,9; ou Ribeirão Preto FM 107.9, ou pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS  
 
 

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