Com quase 9 milhões de veículos motorizados circulando na capital paulista todos os dias, de acordo com dados do Detran de abril de 2019, é difícil imaginar que os carros não sejam prioridade nas cidades brasileiras. Entretanto, alternativas estão ganhando força.
O chamado transporte alternativo é uma maneira de se locomover usando meios diferentes das formas convencionais. A bicicleta, o patinete e até o skate são transportes alternativos. Andar a pé também é uma forma de transporte alternativo e é a forma priorizada pela lei brasileira.
Para explicar o assunto, o Momento Cidade desta semana buscou especialistas para responder: São Paulo deveria investir em transporte alternativo?
De acordo com a professora Erminia Maricato, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, uma das idealizadores do Ministério das Cidades e a atual coordenadora da rede BR Cidades, a legislação brasileira prioriza o pedestre, mas o planejamento das cidades nem sempre segue a norma, que se concentra nos automóveis.
Para a especialista, “o automóvel como centro da mobilidade não só é ilegal, como ele é muito predatório. Mas infelizmente, é isso que acontece. A prioridade no automóvel se nota no ponto de vista, inclusive, de obras que são feitas. Pavimentação, manutenção de pavimentação, abertura de avenidas, etc”.
Investir na chamada mobilidade ativa, que inclui o transporte a pé e o uso de bicicletas, transformaria nossa relação com as cidades. “Hoje, no mundo inteiro, se discute muito no urbanismo a mobilidade ativa porque, ao invés de você ficar sentado num automóvel, e preso no trânsito, e respirando mal, perdendo tempo, você está se exercitando”, esclarece ela.
Ainda assim, numa cidade com as dimensões de São Paulo, onde os lugares em que as pessoas moram estão, muitas vezes, distantes dos lugares em que as pessoas trabalham e se divertem, caminhar ainda é para poucos.
Para Lucas Girard, pesquisador do Centro de Estudos Sociedade e Tecnologia (CEST) da USP e um dos coordenadores do grupo Cenários Urbanos Futuros, da FAU, soluções de micromobilidade, aquelas que envolvem, por exemplo, patinetes elétricos são válidas, mas precisam de maior escrutínio.
“Se você for olhar do ponto de vista de planejamento urbano clássico, você vai falar: não tem sentido nenhum em você promover o uso de patinetes, por exemplo. Porque até do ponto de vista da disputa pelo uso do espaço público, é mais um modal que tá aí saturando calçadas, vias, disputando com pedestres, com postes, com lixeira, com árvores, com buraco…”, enumera ele.
Para ele, pensar na mobilidade ativa como transporte alternativo é o melhor caminho para solucionar problemas específicos das cidades, que vão além de esforços pontuais sobre o trânsito. “A gente tem que pensar mobilidade não como uma questão de mobilidade, mas como uma questão econômica, uma questão de como você planeja economicamente, equilibra economicamente o país”, defende Girard.
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Ficha técnica
Reportagem: Denis Pacheco
Edição: Beatriz Juska