Minuto Saúde Mental #67: Os Smurfs não têm depressão – psicodélicos na linha de frente da pesquisa por novas medicações psiquiátricas

Apesar dos resultados positivos, especialista alerta para as situações perigosas do uso indiscriminado de substâncias alucinógenas

 02/03/2023 - Publicado há 1 ano
Minuto Saúde Mental - USP
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Minuto Saúde Mental #67: Os Smurfs não têm depressão - psicodélicos na linha de frente da pesquisa por novas medicações psiquiátricas
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Nesta edição do podcast Minuto Saúde Mental, o professor João Paulo Machado de Sousa fala sobre o atual aumento das pesquisas com as drogas alucinógenas. Para ilustrar, Sousa lembra da vida dos Smurfs, “criaturinhas azuis que vivem felizes em uma vila escondida na floresta e moram em casas-cogumelo” de um desenho animado dos anos 80. Com o investimento, “a ciência pode estar mais próxima de explicar porque o astral é tão alto entre esses seres mágicos”, diz o professor.

É que essas drogas, depois de muito tempo longe dos laboratórios, têm sido objeto de estudo de vários grupos de pesquisadores sérios em diferentes países. São drogas também conhecidas como psicodélicas e incluem o ácido lisérgico (ou LSD), a ayahuasca (tema de outro episódio do Minuto Saúde Mental), e a psilocibina, que é a substância contida nos cogumelos alucinógenos.

Sousa conta que desde 2016 um grupo da Escola de Medicina Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tem encontrado efeitos positivos da psilocibina no tratamento de sintomas depressivos. Em um estudo recente, esses pesquisadores trataram 24 pacientes com uma combinação de psilocibina e psicoterapia e tiveram resultados surpreendentes: o tratamento reduziu os sintomas depressivos em 71% dos participantes depois de quatro semanas. No final do período do estudo, que durou 24 semanas no total, mais da metade dos pacientes foi considerada em remissão, o que significa que a intensidade dos sintomas já não os caracterizava mais como deprimidos.

Conta ainda que o surgimento de uma série de resultados semelhantes levou o órgão responsável pela regulamentação de medicações da Austrália a incluir, no início de fevereiro deste ano, a psilocibina e o MDMA, que é a substância contida no ecstasy, entre os remédios que podem ser prescritos por psiquiatras no tratamento de transtornos mentais.

Notícias como essa, adianta o professor, são muito bem-vindas, mas sempre acabam levando uma multidão de pessoas insatisfeitas com seu tratamento atual a buscar essas substâncias como curas milagrosas. “É nessa hora que precisamos lembrar que estamos falando de substâncias potentes com efeitos realmente fortes sobre o nível de consciência e que podem levar a situações perigosas se usadas de forma indiscriminada”, alerta.

Segundo Sousa, agora é hora de deixar a ciência fazer o seu trabalho e “torcer para que, em breve, tenhamos novas medicações para reduzir o sofrimento causado pelos transtornos mentais”.


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

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