Minuto Saúde Mental #56: O uso de medicação psiquiátrica só deve ser interrompido com orientação médica

A interrupção do uso desses medicamentos para alguns transtornos pode prejudicar a funcionalidade do indivíduo, expondo-o a maiores riscos e fazendo com que o tratamento fique mais difícil

 07/07/2022 - Publicado há 2 anos
Minuto Saúde Mental - USP
Minuto Saúde Mental - USP
Minuto Saúde Mental #56: O uso de medicação psiquiátrica só deve ser interrompido com orientação médica
/

No Minuto Saúde Mental desta semana, com informações do médico e doutorando da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, José Diogo Souza, o professor João Paulo Machado de Sousa fala sobre a interrupção do tratamento com medicações psiquiátricas.

Segundo Souza, a psiquiatria é uma especialidade médica como outra qualquer e, embora haja um aumento da difusão do conhecimento nessa área, muita gente ainda tem medo de consultar um psiquiatra e de tomar medicações psiquiátricas. Algumas perguntas comuns que aparecem, diz o médico, são: Será que vou ficar dependente? Esses remédios vão me deixar dopado? Mudarão quem eu sou? Terei que tomá-los para o resto da vida? Posso suspendê-los quando quiser?

Souza esclarece que a imensa maioria dos psicotrópicos não causa dependência; há uma parcela muito pequena que tem esse potencial, que são os benzodiazepínicos (usados em quadros agudos de ansiedade e insônia) e os psicoestimulantes (usados para déficits de atenção). O objetivo dos tratamentos nunca é dopar os pacientes, sendo este um efeito colateral em certos casos. Além disso, também não é verdade que tais medicações alterem a nossa personalidade e nem sempre é preciso usá-los por toda a vida, embora isso possa ser necessário dependendo do quadro. Por último, e respondendo a pergunta específica de hoje, não se pode parar de usá-los sem a indicação do psiquiatra.

Os transtornos psiquiátricos são diferentes entre si e vários deles são crônicos. Assim, é de extrema importância entendermos que o tratamento medicamentoso é individualizado, variando de pessoa para pessoa e em cada momento do acompanhamento do paciente.

No caso da esquizofrenia, que é um transtorno crônico, os antipsicóticos são fundamentais e devem ser usados por toda a vida em razão de sua capacidade de diminuir sensivelmente os sintomas, aumentando a qualidade de vida dos pacientes. Uma vez que o paciente pare de usar essas medicações, há grandes chances de sintomas como alucinações e delírios retornarem, prejudicando a funcionalidade do indivíduo, expondo-o a maiores riscos e fazendo com que o tratamento fique mais difícil.

Quadros de depressão, por outro lado, podem não ser crônicos e o paciente deve, em geral, continuar com os remédios por pelo menos seis a nove meses depois da remissão dos sintomas para diminuir a chance de um novo episódio depressivo. Os sintomas mais comuns da interrupção repentina do tratamento com antidepressivos são náusea, dor de cabeça, tremores e pioras agudas dos sintomas.

Estes são apenas dois exemplos, mas que já traduzem a necessidade do seguimento psiquiátrico para todos os diferentes casos. Por definição, o objetivo do tratamento é sempre alcançar a melhor qualidade de vida para o paciente, usando a menor dose possível de medicamentos. Além disso, é importante ressaltar que o tratamento farmacológico é apenas uma parte do tratamento, que deve ser complementado com psicoterapia, atividade física, cuidados com sono e alimentação e interrupção do uso de álcool, tabaco e outras drogas. “Portanto, se você faz uso de medicamentos psiquiátricos e pensa em suspendê-los, por alguma razão, ou é familiar de um paciente que está nessa situação, converse com o psiquiatra responsável. Uma conversa franca entre paciente e médico é essencial para a melhor avaliação do caso e a melhor conduta, tendo como finalidade sempre cuidar da sua saúde.”


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.