Minuto Saúde Mental # 39: Por que os idosos esquecem com mais facilidade coisas do cotidiano, mesmo sem demência?

A diferença principal entre os lapsos de memória e de outros processos cognitivos no envelhecimento normal e nas demências está no comprometimento funcional

 11/11/2021 - Publicado há 2 anos
Minuto Saúde Mental - USP
Minuto Saúde Mental - USP
Minuto Saúde Mental # 39: Por que os idosos esquecem com mais facilidade coisas do cotidiano, mesmo sem demência?
/

O processo de envelhecer está ligado a alterações em várias funções normais do organismo. O avanço da idade provoca, por exemplo, perda de massa e tônus muscular e alterações hormonais que modificam a saúde de vários tecidos, dos órgãos e do comportamento sexual. O cérebro, que é um órgão formado por tecidos neurais, está sujeito a esses mesmos processos e é a sede da nossa memória, junto com todas as outras funções cognitivas. No Minuto Saúde Mental desta semana, o professor João Paulo Machado de Sousa fala sobre a memória no processo de envelhecimento.

“Em termos fisiológicos, o envelhecimento parece estar bastante relacionado a um processo chamado estresse oxidativo”, diz o professor.  A oxidação, que é o mesmo processo que faz com que o ferro enferruje, ocorre por causa do que os pesquisadores conhecem como espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. São moléculas químicas que, no organismo jovem, são adequadamente neutralizadas pelas substâncias antioxidantes. Os antioxidantes estão presentes, por exemplo, no chocolate, no café, em frutas e verduras de cor avermelhada e no vinho tinto, entre vários outros alimentos.

Com o avanço da idade, o equilíbrio entre as moléculas oxidantes e antioxidantes é progressivamente alterado e o estresse oxidativo acaba atuando sobre o DNA e, consequentemente, sobre os tecidos orgânicos. “O estresse oxidativo está ligado a doenças que aparecem com frequência cada vez maior conforme envelhecemos, como as doenças cardiovasculares e renais e  afeta os neurônios, que são as células cerebrais.”

Nos idosos, o cérebro perde tecido e conexões com a progressão da idade, e isso acaba por afetar a memória, a atenção, o raciocínio e a capacidade de tomada de decisões, mesmo na ausência de demência ou, como os profissionais de saúde mental chamam hoje, de diagnósticos de comprometimento cognitivo.

A diferença principal entre os lapsos de memória e de outros processos cognitivos no envelhecimento normal e nas demências está no comprometimento funcional, ou seja, embora a pessoa possa ter maior dificuldade de lembrar de certas coisas com o avanço da idade e perca a chave do carro ou o celular com maior frequência, estas dificuldades não impedem que a pessoa leve uma vida normal e produtiva dentro do contexto da idade que tem. “Quando os lapsos passam a prejudicar o andamento da vida cotidiana e afetam as várias funções que precisamos desempenhar a cada dia para cuidar de nossos afazeres, então é hora de procurar ajuda.”


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.