Minuto Saúde Mental #38: É realmente possível que uma pessoa tenha múltiplas personalidades?

Segundo o professor João Paulo Machado de Sousa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,  este é um tema controverso na saúde mental, com diferentes grupos assumindo diferentes posições

 04/11/2021 - Publicado há 2 anos
Minuto Saúde Mental - USP
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Minuto Saúde Mental #38: É realmente possível que uma pessoa tenha múltiplas personalidades?
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Em termos bem objetivos, não existem hoje diagnósticos de dupla personalidade ou de múltiplas personalidades, como vemos às vezes no cinema e na TV, relata o professor João Paulo Machado de Sousa, no podcast Minuto Saúde Mental desta semana. O que existe, sim, é uma classe de quadros relacionados que foram agrupados sob o nome de transtornos dissociativos. Em primeiro lugar, portanto, precisamos entender o que significa dissociação dentro dos conceitos de saúde mental.

Experiências dissociativas são aquelas onde há uma desconexão entre os fatos que ocorrem com uma pessoa e a percepção que essa pessoa tem sobre eles. Um exemplo é a sensação de se estar fora do próprio corpo observando o que acontece consigo mesmo de uma certa distância ou, ainda, a sensação de que determinados acontecimentos fazem parte da história de outra pessoa, enquanto simultaneamente se sabe que eles aconteceram consigo. “Todos temos experiências dissociativas menores, como quando nos “desligamos” no meio de uma conversa ou “damos uma viajada” enquanto estamos dirigindo. Essas experiências tendem a ser leves e passageiras e não têm maiores consequências.” 

Os chamados transtornos dissociativos incluem três diagnósticos diferentes: amnésia dissociativa, transtorno de despersonalização ou desrealização e transtorno dissociativo de identidade. Na amnésia dissociativa, a pessoa sofre uma perda de memória sobre um determinado período da própria vida, que pode ir de instantes a semanas ou até anos. No transtorno de despersonalização, a principal manifestação é a impressão de se estar desconectado do ambiente, com as coisas e pessoas parecendo diferentes como se estivessem em um sonho, por exemplo. Por fim, o transtorno dissociativo de identidade é aquele que várias pessoas conhecem como transtorno de múltiplas personalidades. Nestes casos, a pessoa pode sentir que há mais de uma personalidade dentro de si mesma, como se estivesse possuída ou houvesse mais de uma pessoa morando dentro de uma mesma cabeça.

“É importante destacar que o ponto em comum entre estes transtornos é a experiência de alguma situação com impacto emocional muito forte ou, como se costuma chamar, um trauma. A carga emocional do trauma é tão forte que leva a mente a criar uma realidade paralela para que ela seja suportada, gerando a sensação de que determinados eventos terríveis não aconteceram exatamente com a pessoa, mas com outras pessoas ou em “dimensões” diferentes.”

Por último, diz o professor, “vale lembrar que qualquer experiência só pode ser definida como dissociativa caso seja muito diferente de outras experiências culturalmente aceitas ou que acontecem dentro de contextos definidos, como com os médiuns nas religiões espíritas ou os transes observados em rituais de diferentes povos”.


Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp

 

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