As cantatas de Johann Sebastian Bach refletem o compositor alemão sob tantos ângulos e o expressam em tantos estados de espírito que elas revelam a sua personalidade, não menos que sua arte. É uma contradição que a um homem tão emocional tenha sido atribuída, até a nossa geração, uma fria precisão matemática. Esse retrato é persistente devido, em não pequena medida, ao desconhecimento da linguagem musical de Bach.
É isso o que escreve o historiador inglês Charles Sanford Terry (1864-1936) no livro The Music of Bach – An Introduction (A Música de Bach – Uma Introdução), um clássico da bibliografia sobre Bach. Para ele, o tratamento que Bach dava às melodias dos hinos congregacionais, tão familiares e amados pelos fiéis, é uma das mais maravilhosas características de suas cantatas – a maior parte delas composta para ser apresentada durante o culto luterano. Ainda de acordo com Terry, a riqueza de inventividade que Bach dispensa a essas melodias revela a profunda estima que o compositor tinha por elas. “Bach não se satisfazia em introduzi-las numa forma simples de hino a quatro vozes. Frequentemente ele trata a melodia num coro elaborado na sua mais plena habilidade contrapontística, segundo o modo dos prelúdios corais para órgão.”
Como exemplo do que Charles Terry comenta em seu livro, Manhã com Bach apresenta nesta edição a cantata Schmücke dich, o liebe Seele, “Embeleza-te, ó, amada alma” (BWV 180). O podcast exibe ainda o Concerto para Cravo em Lá Maior (BWV 1055).