No podcast Os Novos Cientistas desta quinta-feira (10) o assunto foi o futebol, mas fora de campo. Mais especificamente, sobre o jornalismo esportivo e seus discursos sobre a violência no esporte e as torcidas organizadas. A conversa foi com o pesquisador Marcelo Fadori Soares Palhares, que defendeu seu doutorado sobre o tema na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. A pesquisa intitulada Torcidas organizadas e jornalismo esportivo: discursos sobre violência no futebol teve a orientação do professor Ary Rocco Jr., da EEFE.
“A violência no futebol brasileiro e a atuação das torcidas organizadas são temas que se entrelaçam no imaginário popular”, disse Palhares. Segundo ele, a ideia de que atos violentos no futebol advêm apenas dessas organizações é corroborada a partir de falas, notícias, comentários e intervenções que, historicamente, ocorreram no âmbito do jornalismo esportivo. Para o seu estudo, Palhares analisou 2.258 notícias referentes às torcidas organizadas. Os conteúdos levantados foram da revista Placar, e dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. “Selecionei o material desde 1969, ano da fundação da Gaviões da Fiel, primeira torcida organizada no Brasil, até o ano de 2020”, contou.
Palhares apontou ainda que as notícias destacadas na pesquisa apresentaram três principais discursos: o da fidelidade, o da fiscalização e o da violência. O primeiro refere-se principalmente ao amor da torcida pelo time, e ao compromisso dela em acompanhá-lo e transformar as arquibancadas em festa. O segundo diz respeito à cobrança feita pela torcida sobre o time, frente a algum resultado ou situação insatisfatória. Já o terceiro traz episódios de violência que envolvem a torcida. “Neste último, porém, foi identificado que a associação da violência à torcida restringe-se apenas à violência física”, destacou. Mas o estudo identificou outros fenômenos violentos, como a homofobia, racismo, xenofobia etc., e que não se vinculam à palavra violência nas matérias. Assim, o debate sobre o assunto fica reduzido, o que propicia uma associação simplista das torcidas organizadas à violência nos jogos, sendo esta retratada como a grande responsável pelas brigas nas arquibancadas.
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