Diálogos na USP #25″Voltar às aulas não faz nenhum sentido nessa altura”

A opinião é do professor Renato Janine Ribeiro, o qual, juntamente com o professor Vinicio de Macedo Santos, participou da primeira edição do ano do programa Diálogos na USP

 11/03/2021 - Publicado há 3 anos
Diálogos na USP - USP
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Diálogos na USP #25"Voltar às aulas não faz nenhum sentido nessa altura"
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A pandemia de coronavírus faz – e continua fazendo – cada vez mais vítimas pelo mundo, principalmente no Brasil, onde são registradas quase duas mil mortes por dia. Em meio a várias discussões que envolvem o caos na saúde, o calendário de vacinação, a restrição  de circulação nas cidades e a postura dos governantes, um tema merece particular importância: o retorno ou não às escolas. As aulas presenciais devem voltar? De que forma? Ou o melhor a ser feito neste momento é manter a educação remota, ou seja, a distância ? Para discutir essas e outras questões, o Diálogos na USP, em sua retomada, recebe os professores Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação no governo de Dilma Roussef e professor de Ética e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, além de colunista da Rádio USP, e Vinicio de Macedo Santos, professor de Metodologia de Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Para este último, estamos diante de uma situação dramática para a sociedade e para a educação brasileira, uma situação que não vem de hoje, mas de março do ano passado. “Este momento de discutir a questão do retorno às atividades é da maior importância, não só porque revela um atraso nessa discussão, mas porque se discute o retorno  no pior momento da pandemia, principalmente pelos efeitos que esse retorno tem sobre as crianças, sobretudo as do ensino público”, argumenta ele, para quem “a luta pela sobrevivência absorve essas crianças, afastando-as da escola, porque há necessidade de participar de atividades que garantam o sustento da família. Esse vínculo, embora haja obrigatoriedade da educação, é muito tênue, muito frouxo, porque as contingências sociais são determinantes”. Por outro lado, segundo ele, discutir a questão do retorno não é só meramente discutir o fechamento ou a abertura de escolas, mas sim examinar o que se está fazendo e as condições que estão sendo criadas.

Renato Janine entende, por sua vez, que estamos vivendo o que se costuma chamar de um dilema, uma escolha difícil a se impor a pais e educadores. “Estamos numa situação em que, por um lado, um ano sem aulas presenciais, sobretudo para as crianças menores, impacta severamente a sua socialização”. O segundo ponto é que se está no meio de uma chacina. “Estamos vendo gente morrer numa dimensão que nunca houve […], a situação está fora de controle e está fora de controle devido à incompetência do governo federal”. Ele observa que o Brasil ficou absolutamente isolado, com um governo que não comprou as vacinas que lhe foram oferecidas e com um governo que constantemente critica o distanciamento físico, critica o uso de máscaras e as próprias vacinas. A situação, na opinião de Janine, é de descontrole e, nessa situação, voltar às aulas seria uma temeridade,” não faz nenhum sentido nessa altura”.

 


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