O podcast Ambiente é o Meio desta semana conversa com Lucas William Mendes, biólogo e pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. Especialista em microbioma, Mendes estuda os microrganismos de solos, particularmente aqueles ligados às plantas e à agricultura no Brasil, e afirma que o surgimento de bactérias resistentes a antibióticos se deve ao desmatamento de florestas.
O aumento de genes resistentes a antibióticos, presentes nas bactérias, adverte o pesquisador, tornou-se “um dos três principais pilares de problemas de saúde pública mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)”. E trata-se de uma consequência natural da transformação de áreas de florestas em pastagem, por exemplo, já que faz aumentar “a competição entre as bactérias”. Segundo o biológico, a remoção da mata, a queima do solo e a fertilização provocam essa maior competição entre as bactérias, aumentando, por conseguinte, a diversidade e abundância de genes resistentes a antibióticos.
“A diversidade microbiana do solo é a mais abundante em relação a qualquer outra diversidade que existe”, informa Mendes, adiantando que essa característica do solo importa para a ciclagem de nutrientes e metabolização de alguns compostos. Assim, garante, muitos serviços ecossistêmicos, que têm relação com a saúde e crescimento das plantas, passam pelos microrganismos do solo. Por isso, a transformação de uma área de floresta em pastagem ou cultivo agrícola modifica a estrutura das comunidades de microrganismos do solo, fazendo desaparecer bactérias importantes.
O desmatamento sem critérios, continua Mendes, diminui a abundância dos microrganismos que fazem a fixação natural de nutrientes no solo e exige processos artificiais para que a terra se torne agricultável (fertilização). Assim, as pesquisas do biólogo têm focado nas comunidades microbianas em solos de diferentes biomas brasileiros e suas associações com as plantas. O objetivo é entender as funções e a importância desses microrganismos para o meio ambiente e “fornecer informações úteis para o uso da microbiota do solo na manutenção de ecossistemas, recuperação de áreas degradadas e promoção de cultivos agrícolas”, diz.
Trazer essa comunidade benéfica de microrganismos da floresta para as áreas de agricultura e pastagem pode promover uma agricultura mais sustentável e se tornar “uma ferramenta muito importante que será usada, com certeza, no futuro”, espera Mendes.
Ambiente é o Meio