O Ambiente é o Meio desta semana conversa com o biólogo e professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP Wagner Ferreira dos Santos. Especialista em conservação de primatas não-humanos e comportamento animal, Santos fala sobre o projeto de monitoramento dos bugios na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, na qual é coordenador.
Os bugios, grupo de primatas do gênero Alouatta, encontrados no Cerrado, não produzem a substância que dá a tonalidade avermelhada aos pelos, diferente daqueles encontrados em outros biomas. Esse fenômeno foi notado pelo pesquisador na região de Ribeirão Preto, onde os bugios vivem em pequenos fragmentos isolados de mata, que “perdeu muito da sua vegetação nativa”. Segundo Santos, a cobertura nativa local é de apenas 3,42%, algo que “impacta diretamente nas espécimes que vivem na região e um deles é o bugio”. A perda dessa vegetação, adianta o professor, está relacionada à “expansão agrícola, à crescente urbanização e, quando não, ao desmatamento e às queimadas”.
Essa espécie que vive em Ribeirão Preto, conta Santos, é herbívora e os machos pesam cerca de 12kg, enquanto as fêmeas têm em torno de 10kg. São folívoros comportamentais (herbívoros com uma alimentação à base de folhas) e, por isso, “de uma certa forma, eles conseguem sobreviver ainda”. Esses animais sofrem ainda a endogamia (acasalamento entre indivíduos com algum grau de parentesco, que são geneticamente semelhantes), o que favorece a ocorrência de doenças transmitidas hereditariamente.
No campus da USP em Ribeirão Preto, Santos coordena estudos específicos com os bandos de bugios que vivem na mata da Universidade. “Vamos ver se existe a possibilidade de se trazer mais algum animal para cá para, realmente, evitar endogamia”, completa o professor.
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