Ambiente é o Meio #1: Na Amazônia, a maior parte da água potável está em áreas preservadas pelos indígenas

Afirmação vem de estudo realizado por expedição de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

 07/07/2021 - Publicado há 3 anos
Ambiente é o meio - USP
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Ambiente é o Meio #1: Na Amazônia, a maior parte da água potável está em áreas preservadas pelos indígenas
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O podcast Ambiente é o Meio desta semana conversa com Paulo Roberto de Souza Moutinho, doutor em Ecologia e um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), organização científica não governamental fundada em 1995. O tema não podia ser outro, a necessidade de preservação da floresta amazônica que, segundo Moutinho, só consegue cumprir sua função pelo papel dos povos indígenas.

Atual pesquisador sênior do Ipam, Moutinho trabalha na Amazônia brasileira há mais de 20 anos, estudando as causas do desmatamento na região e suas consequências para a biodiversidade, a mudança climática e os povos indígenas e tradicionais. E é categórico ao afirmar que só é possível encontrar água potável em áreas onde há indígenas preservando a floresta. E este, segundo Moutinho, foi um dos resultados da última expedição realizada por pesquisadores do Ipam na Amazônia.

Moutinho conta que “os riachos estão contaminados com o garimpo, pelo menos nessa área ao longo da Transamazônica; quando não é o garimpo, é o gado que detona toda a água”. Relata que, durante a expedição, só conseguia beber água de qualidade, “sem usar filtros, ter que ferver ou procurar fonte ou nascente” onde a floresta ainda estava intacta, geralmente, áreas localizadas em terras indígenas. 

O pesquisador adianta que o que descobriram não foi nenhuma novidade, já que “a ciência já provou esse efeito de benefícios” e é por isso, segundo ele, que se deve valorizar e respeitar os direitos dos povos indígenas aos seus territórios. Conta que recentemente realizou expedições científicas de bicicleta, cobrindo 1.200 km ao longo da Transamazônica, no trecho não asfaltado, para entender melhor o local e seus povos. “Você só vai entender a região se você está lá junto ao povo”, diz, evidenciando a importância de “fazer ciência junto ao povo”. Para o pesquisador, é uma forma de aprender com os povos e também devolver o que é encontrado tanto para a população nativa quanto para todo o povo brasileiro. 

Ao falar dessa extensão de benefícios para o País como um todo, Moutinho adianta que o que é praticado na região amazônica gera consequências maiores, já que o agronegócio brasileiro, por exemplo, também depende da preservação da floresta. “Sem os povos indígenas, através da proteção dos seus direitos à terra e do seu modo de vida, preservando grandes áreas de floresta, nós teríamos um problema sério de irrigação do agronegócio brasileiro.” É que 95% da agricultura brasileira depende de chuva, comenta, lembrando que boa parte dessa irrigação é mediada pela floresta amazônica, principalmente, pela porção da floresta que está na mão dos povos indígenas. 

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) é uma organização científica, não governamental e sem fins lucrativos localizada em Belém do Pará, que trabalha para “promover ciência, educação e inovação para uma Amazônia ambientalmente saudável, economicamente próspera e socialmente justa”. 


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