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Quando o assunto é segurança pública, o medo e a apreensão são os principais sentimentos que vêm à tona. Segundo especialistas, apesar das experiências específicas mudarem a percepção de medo para cada indivíduo em relação à segurança pública, há consequências psicológicas e físicas. Na cidade de São Paulo, assim como em outras grandes metrópoles, a falta de segurança é um elo comum entre elas.
A insegurança individual causa uma sensação de medo social, influenciando o comportamento das pessoas. Especialistas comentam que o medo da violência é provocado pela invasão e rompimento com a integridade das pessoas, seja ela moral, psíquica, física, privada, sexual ou qualquer outra que constitua uma ameaça ao indivíduo enquanto pessoa e cidadão.
Quando se fala em segurança pública, é impossível não falar, no caso da cidade de São Paulo, da Cracolândia, que parece ser um problema sem solução. A cidade possui não apenas uma, localizada no centro da capital, mas 72 Cracolândias espalhadas pela cidade.
No primeiro semestre de 2024, segundo dados do painel de monitoramento das cenas de uso de drogas, mantido pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU), em média mais de 400 pessoas circulavam pelas zonas de aglomeração em cada período do dia. Usuários de drogas, traficantes, desocupados, batedores de carteiras, de bolsas e celulares, todos juntos e misturados.
A Cracolândia surgiu a partir da década de 1990. Alguns pesquisadores acreditam que um dos motivos coincidentes que permitiram a sua formação foi o antigo Terminal Rodoviário da Luz, que já era um ponto de venda de drogas tradicional da cidade. A falta de políticas públicas contínuas ajuda a manter ativa a região central.
A intervenção na Cracolândia precisa considerar história, experiência urbana e social. Pesquisadores alegam ser preciso assegurar a possibilidade de permanência e garantia de direitos das pessoas e coletivos que compõem aquele tecido urbano. Na Cracolândia existem problemas muito sérios, como os do desemprego, do desrespeito aos direitos humanos e da falta de moradia, que clamam por alguma solução.
Por que, em diferentes regiões urbanas, alguns delitos prevalecem sobre outros? Fazendo um raio X do crime urbano, onde é mais provável ser vítima dele? A questão de segurança pública pode ser encarada a partir da geografia da cidade, cruzando características espaciais com a ocorrência de crimes. De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o Estado contabilizou 228 mil roubos em 2023.
Segundo um estudo realizado pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, o roubo sob ameaça a pedestres acontece em áreas que geralmente têm ao menos uma de duas características: alta taxa de homicídios ou proximidade com avenidas, ruas principais e comércio. Outros crimes, como os homicídios, tendem a ocorrer em regiões específicas e afastadas. Já o contrário se observa com o furto, que se concentra mais no centro.
Nesse quadro complexo, a relação entre pobreza e criminalidade é menos direta do que se imagina. Segundo Marcelo Nery, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, apesar da percepção popular ser de que a pobreza e violência estão intimamente ligadas, essa correlação nem sempre é tão clara como se imagina.
“Quando as pessoas pensam em crimes de violência, violação de direitos e imaginam uma relação direta e necessária entre esses elementos e pobreza, muitas vezes pensam que a melhor resposta é a mais simples. Só que normalmente encontrar uma resposta simples requer muito trabalho, e a relação entre crime, violência e violações de pobreza é uma tentativa de uma explicação rápida para um problema complexo”, afirma.
Nesse contexto, é importante um diagnóstico detalhado e específico da criminalidade por localidade para que seja possível a elaboração de políticas públicas mais adequadas para o seu combate, já que cada região possui suas próprias particularidades. Outro ponto importante é envolver a população no processo de elaboração e execução das políticas de segurança, garantindo que sejam compreendidas e aceitas pelos moradores.
Preparamos um especial sobre segurança pública e suas implicações no cotidiano da sociedade. Nossos repórteres conversaram com especialistas da Universidade de São Paulo, que traçam um amplo panorama sobre o tema.
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O que faz o Brasil ter números de violência tão altos?
Medo e insegurança estão entre os principais sentimentos nas grandes metrópoles
A cidade de São Paulo possui 72 Cracolândias e não apenas uma no centro da capital
Algumas particularidades podem explicar os altos índices de violência no litoral paulista
Falta de políticas públicas contínuas ajuda a manter ativa a região da Cracolândia
Intervenção na Cracolândia precisa considerar história, experiência urbana e social
A geografia do crime: por que em diferentes regiões urbanas alguns delitos prevalecem sobre outros?
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Relação entre pobreza e criminalidade é menos direta do que se imagina
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