A Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP participou da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29), realizada de 11 a 22 de novembro, em Baku, no Azerbaijão. Durante o evento, a superintendente da área, Patrícia Iglecias, acompanhou as negociações e as agendas oficiais do Brasil, com destaque para o anúncio das novas NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas) e da Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e Transformação Ecológica (BIP).
As NDCs são compromissos assumidos por cada país em 2015, no âmbito do Acordo de Paris, que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover medidas de adaptação às mudanças climáticas. Esses compromissos, definidos e apresentados pelos próprios países, devem ser atualizados periodicamente, refletindo maior ambição e alinhamento com as metas globais de limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Já a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e Transformação Ecológica (BIP) é uma iniciativa estratégica do governo brasileiro, lançada durante a COP29, para atrair e mobilizar investimentos em projetos de sustentabilidade e transformação ecológica no país. A proposta visa alinhar recursos financeiros nacionais e internacionais com as metas climáticas brasileiras, conforme estabelecido nas NDCs. A plataforma se concentra em setores prioritários, como energia renovável, bioeconomia, descarbonização industrial e mobilidade urbana sustentável. Por meio de parcerias entre governos, empresas privadas, instituições multilaterais e sociedade civil, a BIP busca viabilizar projetos que promovam a transição para uma economia de baixo carbono, incentivem a inovação tecnológica e fortaleçam a infraestrutura verde.
“Essas iniciativas representam passos importantes no compromisso brasileiro com o enfrentamento das mudanças climáticas e a mobilização de recursos financeiros para transformar a economia em direção a um modelo sustentável”, avalia Patrícia.
Diálogo com o governo
Durante a COP29, Patricia dialogou com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, sobre o papel da academia na agenda climática sob a perspectiva governamental. Alckmin destacou que “a academia é essencial para o Brasil alcançar essas metas, trazendo conhecimento, expertise e parcerias. E a USP é a mais conceituada do Brasil, o orgulho justo dos paulistas e dos brasileiros”. Ele ressaltou, ainda, a relevância da Universidade na produção de hidrogênio verde a partir do etanol e em outras pesquisas avançadas, afirmando que a instituição desempenha um papel crucial na conscientização, educação ambiental, ações concretas e parcerias com o setor privado e o governo.
A superintendente apontou a conexão direta das metas brasileiras com as pesquisas conduzidas no Programa USP Sustentabilidade (USP Susten), que já trabalha com temas prioritários alinhados aos compromissos climáticos apresentados na COP29: soluções baseadas na natureza e bioeconomia, incluindo restauração ambiental, agricultura regenerativa e gestão de resíduos sólidos; indústria e mobilidade com foco na descarbonização de setores como aço, alumínio e cimento, além da promoção da mobilidade urbana sustentável; e energia renovável, envolvendo fontes como energia eólica, solar e hidrogênio de baixo carbono.
Resultados e desafios da COP29
Ao final das negociações, foi anunciado um acordo de financiamento climático de US$ 300 bilhões anuais até 2035, destinados aos países em desenvolvimento para mitigar e combater as mudanças climáticas. Embora o valor represente uma atualização das promessas feitas na COP de Copenhague, a superintendente considerou decepcionante a indefinição sobre a origem desses recursos. “O texto final prevê aportes não apenas de fontes públicas, mas também privadas, bilaterais e multilaterais, o que pode gerar endividamento para os países mais vulneráveis, comprometendo o princípio da justiça climática.”
Patricia avaliou que o Brasil sai da COP29 com uma responsabilidade ampliada para liderar as discussões na COP30, que ocorrerá em Belém, no Pará. “A academia tem papel central na busca por soluções concretas e a USP está preparada para contribuir com pesquisas e inovações voltadas à sustentabilidade e à transformação ecológica”, afirmou.