Um dos desafios que a epidemia de zika trouxe para o sistema de saúde e de pesquisa foi a ausência de um teste acessível e capaz de identificar a infecção específica pelo vírus. No dia 14 de março, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP anunciaram o desenvolvimento do primeiro teste específico para detecção da doença.
O teste discrimina os anticorpos gerados após infecção pelo vírus zika daqueles gerados em pessoas infectadas pelo vírus da dengue ou em pessoas que foram vacinadas contra a febre amarela.
Os professores Luís Carlos Ferreira, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, e Edison Luiz Durigon, do Laboratório de Virologia Clínica, ambos do ICB, explicam como o vírus se comporta e quais foram os desafios da validação do novo método.
O método, chamado imunoenzimático do tipo Elisa, é usado desde a década de 1980 para a detecção do vírus da Aids. Esta é uma vantagem do teste desenvolvido pela USP: a rede de saúde já tem os equipamentos e conhece a técnica de utilização.
Antes do Elisa, o único método de diagnóstico utilizado para detectar o zika era o PCR, que pesquisa diretamente no sangue do paciente a presença de material genético do vírus. Esse exame é caro e não está disponível em todos os laboratórios. Além disso, o PCR só funciona nos cinco primeiros dias da infecção.
Ao mesmo tempo em que estudavam as proteínas do vírus in vitro, os pesquisadores usaram o teste em camundongos, em amostras de vírus coletadas de pacientes e, finalmente, em pessoas sabidamente infectadas. Entre as amostras, sangue de mulheres de Itabaiana, em Sergipe, e de pacientes de São Paulo, em um momento em que o vírus zika ainda não estava circulando no Estado.
Paolo Zanotto, coordenador da Rede Zika da USP, conta como foi o trabalho dos pesquisadores em Sergipe, local que teve um dos maiores surtos de microcefalia no Brasil, em 2014. O professor também explica como as amostras trazidas do nordeste ajudaram a validar a sorologia desenvolvida pelo ICB.
Para desenvolver o teste, Luis Carlos de Souza Ferreira e a equipe do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas encontraram, entre as proteínas produzidas pelo vírus zika, uma que é diferente de todas as outras produzidas pelo vírus da dengue.
De acordo com Ferreira, a dificuldade foi encontrar um fragmento de uma das proteínas do vírus zika que não compartilhasse semelhança antigênica com o da dengue. “Com isso, nós conseguimos identificar pessoas que foram infectadas com o vírus mesmo meses ou anos depois da infecção, propriamente dita. Numa análise epidemiológica, é uma informação extremamente importante para que a gente possa dimensionar o tamanho dessa infecção no país”, destaca.
Com a sorologia validada, o próximo passo será testar o método no Instituto Fernando Figueira, da Fiocruz, um dos parceiros da Rede Zika, no Rio de Janeiro.
(Material produzido pelo Núcleo de Divulgação Científica da USP)