Implantar modelo de avaliação é meta da pró-reitora de Pós-Graduação

Implantar um modelo próprio de avaliação, que utilize parâmetros diferentes dos critérios adotados pela Capes, é uma das metas da nova pró-reitora de Pós-Graduação, Bernadette de Melo Franco.

 19/03/2014 - Publicado há 10 anos
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Implantar um modelo próprio de avaliação, que utilize parâmetros diferentes dos critérios adotados pela Capes, é uma das metas da nova pró-reitora de Pós-Graduação, Bernadette de Melo Franco

O trabalho que a USP faz na pós-graduação está num patamar diferente daquele das outras universidades brasileiras. “Temos uma responsabilidade muito grande, porque servimos de vitrine para o País. Todos nos perguntam como resolvemos os problemas”, diz Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e, desde fevereiro, nova pró-reitora de Pós-Graduação. Um exemplo está na última avaliação trienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na qual a Universidade aparece como responsável por 22% dos programas com notas 6 e 7 – ou seja, em todo o País, um em cada cinco programas com as melhores notas é da USP.

A professora considera que a hora é de aprofundar a qualidade, até porque, em termos de quantidade, a pós uspiana já deu grandes contribuições ao sistema nacional. Uma das metas da nova gestão é implantar um modelo próprio de avaliação que utilize parâmetros diferentes dos da Capes. Para Bernadette, os programas da USP possuem muitos aspectos que a Capes não mensura como indicadores de qualidade, enquanto se vale de indicadores que talvez não sejam os mais adequados, na opinião da Universidade.

“A Capes é muito numérica e conta, por exemplo, a produção científica per capita do docente por ano”, diz a pró-reitora. O resultado, avalia, é um gráfico em que a curva da produção sobe, mas a do impacto varia muito pouco. “Estamos produzindo muita coisa que não impacta o conhecimento, ou pelo menos não impactou ainda. Essa produção sem dúvida contribui academicamente para o desenvolvimento do País, mas e do ponto de vista tecnológico, o que acontece?”, pergunta. Muitos dos doutores formados pela USP estão criando novos programas em universidades Brasil afora e ajudando a fortalecer o sistema acadêmico, mas é preciso aumentar a inserção desses pós-graduados na iniciativa privada, nos governos e em outras áreas, defende.

Um exemplo de indicador que não é levado em conta para medir a qualidade, cita a professora, é a importância de programas aplicados. “Na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, em Piracicaba), há vários programas desse tipo que não têm nota de excelência, mas são o carro-chefe do agronegócio brasileiro.” O novo modelo de avaliação da USP, cujas bases foram criadas na gestão do antecessor de Bernadette na Pró-Reitoria (o atual vice-reitor, Vahan Agopyan), deve ser implantado nos próximos meses.

Internamente, o objetivo do processo é dar um retrato melhor da pós na própria Universidade para mapear as excelências de cada programa, investir mais nelas e aumentar a divulgação do seu trabalho. Além disso, a USP quer também auxiliar a Capes a considerar novos parâmetros em suas avaliações. Experiência para esses desafios não falta à professora: Bernadette de Melo Franco acompanhou de perto as gestões dos três últimos pró-reitores (Agopyan, Armando Corbani Ferraz e Suely Vilela), além de ter trabalhado nas avaliações da Capes durante 14 anos, onde foi adjunta da coordenação da área de Ciência e Tecnologia de Alimentos.

Para leigos – Quando fala em tornar mais visível o resultado da ação dos programas de pós-graduação, a pró-reitora pensa em várias frentes. De um lado, uma medida mais, digamos, prosaica: Bernadette gostaria que, no momento em que deposita sua dissertação ou tese, o aluno escrevesse um texto que explicasse de forma compreensível a qualquer leigo – jornalistas, por exemplo – qual foi o trabalho realizado e que impacto ele terá no desenvolvimento do País. Esses textos seriam publicados numa seção do Portal da USP na internet. “Já temos o Banco Digital de Teses e Dissertações, e esse seria o banco digital para leigos, a imprensa e a sociedade em geral”, diz. “Não são muitos os alunos que sabem fazer isso, mas é necessário para que eles entendam um pouco mais a sua inserção na sociedade que nos sustenta.”

Em outra frente, a ideia é promover um grande evento, com o apoio, entre outras instâncias, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária e da Agência USP de Inovação, para apresentar projetos de pesquisa. O público-alvo não são apenas outros pesquisadores, como em geral ocorre nos congressos científicos, mas potenciais investidores do Brasil e do exterior.

Esse evento deve receber, de acordo com a professora, aproximadamente metade da verba destinada à Pró-Reitoria neste ano. O orçamento, por sinal, caiu de cerca de R$ 5 milhões em 2013 para pouco mais de R$ 1 milhão em 2014. Uma das medidas de contenção de gastos foi a suspensão temporária dos programas de auxílio financeiro da Pró-Reitoria, anunciada no dia 26 de fevereiro, e que atingiu principalmente os pedidos de auxílio para viagens de professores a congressos. Uma nova tabela de priorização dos gastos está sendo finalizada, na qual uma parte das verbas será reservada para apoio a parcerias internacionais – por exemplo, para publicação de trabalhos em inglês.

“Nossa situação é diferente da área de pesquisa porque nossos programas são fomentados pelas agências e conseguimos manter a qualidade do trabalho sem grande prejuízo”, diz Bernadette. Para a professora, a crise orçamentária da Universidade será logo deixada para trás. “Vamos otimizar o dinheiro, que é como fazemos na nossa casa. A quem interessa que a USP reduza o que faz em graduação, pós, pesquisa e cultura? É interesse da sociedade que a USP caminhe para a frente.”

Momento de intervir – Dos 230 programas de pós-graduação da USP avaliados pela Capes no triênio 2010-2012, 67,4% receberam as notas 5, 6 e 7, enquanto 26% ficaram com 4 e 6,6% tiveram nota 3. Uma parte dos problemas dos programas com pior conceito – que já vinham sendo alvo de atenção das gestões anteriores – vem de falhas na elaboração dos relatórios enviados à agência. Mas, quando as avaliações repetidamente mostram conceitos insuficientes, “é hora de intervir”, diz a pró-reitora.

Entre as medidas de intervenção podem estar o desmembramento ou a junção de programas, ou mesmo a saída de professores que não sejam considerados produtivos pelos critérios numéricos. “Existe uma cultura grande na Universidade de querer ser da pós-graduação, mas nem todo professor pode ser, porque nem todos são cientistas. Temos que acabar com essa cultura de que quem não faz parte da pós é pior do que quem faz”, acredita a pró-reitora.

Bernadette saúda a iniciativa do reitor Marco Antonio Zago de preparar a criação de uma comissão que vai rever a carreira docente. “Hoje, é como se todos os 6 mil professores tivessem que ser bons na aula, na pesquisa, na extensão, na administração… Não é possível. Temos que apostar no que a pessoa tem de melhor e valorizar isso.”

A descentralização é outra iniciativa da gestão anterior a ser aprofundada. Cada vez mais as unidades terão que prover a infraestrutura de seus programas, e não exigi-las da Pró-Reitoria, a quem caberá a função de ter o olhar sobre o todo. “Se a unidade não tem setor de convênio internacional, como quer que seu programa seja internacional? Não é possível”, exemplifica.

Essa infraestrutura, especialmente no trabalho com tecnologia da informação, será cada vez mais fundamental. No próximo dia 27, a Capes lança a Plataforma Sucupira – nome que homenageia o professor alagoano Newton Sucupira (1920-2007) –, o equivalente na pós-graduação à Plataforma Lattes. Para que tudo funcione, observa a pró-reitora, será fundamental que os sistemas de informática das diversas instituições consigam conversar adequadamente.

(Matéria publicada no Jornal da USP, edição nº 1.025, 17 a 23 de março de 2014 / Foto: Cecília Bastos)


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