Ex-presidente do Chile conclui atividades como titular em Cátedra na USP

No dia 20 de março, o ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos, ministrou a conferência “Os desafios políticos para a América Latina no século 21”, como conclusão de suas atividades à frente da Cátedra José Bonifácio, na qual ressaltou que estamos passando por um novo ciclo que tem demandas novas, e uma das questões é manter a ascensão social obtida nos últimos anos e a capacidade de continuar crescendo.

 24/03/2014 - Publicado há 10 anos
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Estamos passando por um novo ciclo que tem demandas novas. Esta foi uma das reflexões propostas pelo ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos, na conferência “Os desafios políticos para a América Latina no século 21”, realizada na tarde do dia 20 de março, no Auditório Prof. István Jancsó, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, como conclusão de suas atividades à frente da Cátedra José Bonifácio, que faz parte do Centro Ibero-Americano (Ciba) da USP, núcleo ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa.

A Cátedra, que foi anunciada no dia 18 de dezembro de 2012 e criada em 18 de março de 2013, teve à frente, durante o ano de 2013, como primeiro titular, o ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos, que encerrou sua participação no dia 20 de março

Nova disciplina

Antes da conferência de Lagos, o coordenador do Ciba, Pedro Bohomoletz Dallari, falou da ideia de criação da Cátedra, que “não esteve associada a um novo programa de Pós-Graduação ou nova pesquisa, mas surgiu como mecanismo destinado a agregar qualidade e consistência às pesquisas e programas já existentes” e também sobre a escolha do ex-presidente do Chile para ser titular da Cátedra que “levou em conta a história do patrono da Cátedra [José Bonifácio], que era homem ligado à ciência, foi professor na Universidade de Coimbra e ajudou na independência do Brasil, assim como Lagos, que lutou contra a ditadura de Pinochet [1973 a 1990]”, destacou Dallari.

Segundo o coordenador, os frutos da Cátedra vão se perpetuar na Universidade com a criação recente de uma disciplina optativa na Graduação e Pós-Graduação no Instituto de Relações Internacionais (IRI), do qual Dallari é diretor, para disseminar os estudos realizados e entender melhor a América Latina e a Ibero-América. Em seguida, foi a vez do coordenador do Programa Conferências USP, do qual as atividades do evento fazem parte, Joaquim Guilhoto, dar as boas-vindas aos presentes.

Manter a ascensão social

Na conferência, Lagos disse que há no momento o fim de um ciclo político e econômico, falou da crise financeira de 2008, sobre as redes sociais “nas quais temos emitido e vemos muitas opiniões”, que a demanda por mudanças sociais hoje é muito maior e que há a necessidade de uma sociedade mais inclusiva, na qual “vemos famílias que estão com sua primeira geração estudando nas universidades”. Por isso, um dos grandes desafios apontados pelo ex-presidente é manter a ascensão social obtida nos últimos anos e a capacidade de continuar crescendo, que são políticos mas também passa por um sistema educacional melhor.

(Da esq. p/ dir.) O embaixador Fernando Mello Barreto; o presidente da Fapesp, Celso Lafer; o reitor Marco Antonio Zago; primeiro titular da Cátedra, Ricardo Lagos; novo titular da Cátedra, Enrique Iglesias; o reitor da USP na gestão 1997-2001, Jacques Marcovitch; e o coordenador da Cátedra, Pedro Dallari

De acordo ele, estes desafios são vividos não só pelos latinoamericanos, mas também pelo mundo todo. Lagos comentou que a integração entre os latinoamericanos não deu muito certo porque os países têm diferentes interesses, lembrou da importância do México neste cenário e falou da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – formada por 12 países da América do Sul, entre eles o Brasil, em 2008, com o objetivo de construir, de maneira participativa e consensual, um espaço de articulação no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus povos. E, ao final, indagou sobre qual deve ser o papel da Cátedra hoje para depois responder que é enfrentar os desafios de um novo ciclo.

Coube ao reitor da USP, na gestão 1997-2001, Jacques Marcovitch, fazer a saudação de despedida à Lagos e a apresentação do novo titular da Cátedra para o ano de 2014, o ex-chanceler do Uruguai, Enrique Iglesias, falando das características de ambos. “Conhecem os problemas e desafios, pessoas que partiram da economia, para depois ir também para a política, humanidades, de uma forma multidisciplinar, transdisciplinar. Não se limitam à retórica, ligando ela à métrica, quantificando e prevendo aonde quer chegar”.

Papel no mundo

“Continuar a trajetória de Lagos não é fácil, mas é desafiador e um privilégio”, ressaltou Iglesias. Indo ao encontro com o pensamento de Lagos exposto na conferência, o novo titular da Cátedra lembrou que hoje o mundo passa por grandes mudanças, instabilidade e também colocou os questionamentos que pretende abordar durante o ano: “Quais são os grandes desafios que temos com estas instabilidades? Como a América Latina vai enfrentar esta situação? E qual o papel que podemos desempenhar no mundo?”.

Finalizando o evento, o reitor Marco Antonio Zago destacou a importância das Conferências USP e de núcleos de pesquisa como o Ciba, como espaços de diálogo e pensamento na USP, o que é primordial segundo ele, porque “não podemos desprezar o que está acontecendo no mundo”.

Depois, ainda no prédio da Brasiliana, mas dentro da Livraria João Alexandre Barbosa, aconteceu o lançamento da coletânea “A América Latina no Mundo”, livro editado pela Editora da USP (Edusp), fruto das atividades da Cátedra em 2013, que reuniu 55 pesquisadores de 20 Programas de Pós-Graduação da Universidade, de diversas áreas, como relações internacionais, direito, economia, engenharia, arquitetura, enfermagem, saúde e literatura. Também foram selecionados duas pós-doutorandas, uma chilena e outra brasileira para auxiliar na coordenação dos trabalhos.

 

(Fotos: Cecília Bastos)


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