Livro narra trajetória do vice-reitor cassado Helio Lourenço

Vice-reitor em exercício entre os anos de 1967 e 1969, Helio Lourenço foi cassado e exilado pela Ditadura

 04/08/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 10/08/2017 as 13:31
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O lançamento do livro foi realizado no auditório do Bloco Didático da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

No dia 4 de agosto aconteceu o lançamento do livro “Helio Lourenço – Vida e Legado”, da Edusp, em comemoração ao centenário de nascimento do professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e vice-reitor da USP em exercício entre os anos de 1967 e 1969.

Escrito por seu filho, também professor da FMRP, Ricardo Brandt de Oliveira, e pela jornalista Regina Prado, o livro reúne histórias, cartas e documentos do professor que foi cassado pelo Ato Institucional Número 5 (AI-5). “Eu tinha em casa um arquivo contendo documentos, textos e anotações que ele escreveu em vários momentos, sobre vários assuntos. Embora a trajetória acadêmica e o protagonismo por ele assumido em um período conturbado da Universidade de São Paulo já estivessem bem retratados por contemporâneos seus, eu tinha a convicção de que do material guardado poderia emergir um retrato mais inteiro, mais verdadeiro da pessoa que ele foi, de como ele enxergava o mundo e a humanidade além dos limites da academia”, comentou Ricardo Brandt de Oliveira.

Ricardo Brandt de Oliveira, filho de Helio Lourenço e coautor do livro, e a jornalista Regina Prado na sessão de autógrafos. Foto: Cecília Bastos / USP Imagem

“É uma honra oferecer para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, como presente de 65 anos, essa obra em comemoração pelo centenário do professor Helio Lourenço, que deixou marcas indeléveis ao longo de sua vida. Eu não tive o privilégio de sua convivência, mas como membro do Departamento de Clínica Médica e diretora desta Faculdade, convivo com seu legado de dignidade e princípios acadêmicos”, ressaltou a diretora da FMRP, Margaret de Castro.

O reitor Marco Antonio Zago lembrou que “os tempos são outros, os problemas talvez muito mais complexos, mas os princípios fundamentais não mudam, nem a essência da história que se repete. Em 4 de julho passado, o Conselho Universitário da USP decidiu instalar um novo curso de medicina, desta vez no campus de Bauru. Apesar da votação maciça favorável naquele colegiado, não faltam, agora, vozes discordantes. Nada de novo, pois quem, como eu, ouviu o relato do reitor Miguel Reale, sobre as enormes resistências à criação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, sabe que estamos apenas repetindo a história. Eu só espero que esta história se repita por completo, inclusive no sucesso que se mostrou a criação da nova faculdade em Ribeirão Preto”.

“Vejamos se não sairá de nossa Faculdade a figura que fará, em Bauru, o mesmo papel inovador que Hélio Lourenço teve aqui em Ribeirão Preto, no seu tempo. Seria a maior homenagem que poderíamos prestar a um homem que, apesar de morto há 32 anos, vive na nossa admiração e no nosso respeito”, concluiu o reitor. (Clique aqui para ler o discurso do reitor na íntegra.)

Prestigiaram o evento o vice-reitor Vahan Agopyan; o pró-reitor de Graduação, Antonio Carlos Hernandes; o pró-reitor de Pesquisa, José Eduardo Krieger; o chefe de Gabinete, Thiago Rodrigues Liporaci; o secretário-geral Ignácio Maria Poveda Velasco; o chefe do Departamento de Clínica Médica da FMRP, Jorge Elias Júnior; e diretores de várias Unidades da USP.

Vice-reitor em exercício

Helio Lourenço de Oliveira nasceu em 1917, na cidade de Porto Ferreira, a cerca de 230 km da capital de São Paulo, e graduou-se em Medicina, Ciências Sociais e Filosofia. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e do Departamento de Clínica Médica da FMRP.

Professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Lourenço exercia também o cargo de vice-reitor quando, em 1967, o então reitor da USP, Luís Antônio Gama e Silva, foi conduzido ao cargo de ministro da Justiça durante a presidência de Artur da Costa e Silva. Com a saída do reitor, Lourenço assumiu a gestão da Universidade como vice-reitor em exercício. Liderou a reforma universitária na USP em 1968 e, em sua homenagem, o documento foi chamado de Estatuto Helio Lourenço.

Logo após o decreto do AI-5 (1968), as entradas para a Cidade Universitária, em São Paulo, foram bloqueadas pelas forças policiais e militares, que também invadiram o Conjunto Residencial da USP (Crusp). Diante da situação, Helio Lourenço reuniu conselheiros para elaborar um documento em protesto contra a operação surpresa.

Lourenço foi cassado do cargo de reitor por iniciativa do próprio Gama e Silva, em um decreto que demitiu outros 23 professores. Forçado a se exilar do País, o professor iniciou seu trabalho no Oriente Médio e na África pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unesco. Só retornou ao Brasil em 1980, com a abertura política.


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