Engenho dos Erasmos busca parceria para projeto de modernização

O engenho de açúcar construído em 1534 representa o mais antigo investimento de mercadores flamengos no Brasil e é um marco histórico das relações entre os dois países

 10/03/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 29/03/2021 as 17:14
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No dia 23 de fevereiro, o embaixador da Bélgica no Brasil e o cônsul-geral belga em São Paulo visitaram, pela primeira vez, o Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos, em Santos – Foto: Luis Otávio Tasso

 

O Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos está iniciando a última etapa de seu projeto de modernização. Com o intuito de auxiliar na captação de possíveis patrocinadores para o projeto, o embaixador da Bélgica no Brasil, Patrick Hermann, e o cônsul-geral da Bélgica em São Paulo, Matthieu Branders, visitaram as ruínas, localizadas no município de Santos.

O sítio arqueológico preserva os vestígios de um dos primeiros engenhos de açúcar construídos na América portuguesa, que pertenceu à poderosa família belga Schetz por mais de um século. Tombado como patrimônio histórico nas esferas municipal, estadual e federal, o Engenho dos Erasmos é um monumento nacional cujas ruínas registram o início da ocupação europeia do território americano e constituem um exemplo arquitetônico singular para compreender e fortalecer a identidade plural do Brasil.

O grupo foi acompanhado pela diretora das Ruínas Engenho dos Erasmos, Beatriz Pacheco Jordão, que falou sobre o significado histórico do local e detalhou os projetos de modernização que estão sendo realizados. “O Engenho representa um importante ativo da nossa memória e os Schetz, eminentes comerciantes de Antuérpia no século XVI, fizeram parte dessa história no período mais produtivo desse engenho de açúcar. O Engenho reúne, hoje, os principais requisitos para se tornar patrimônio da Unesco”, explicou Beatriz.

O monumento é exemplo de uma arquitetura histórica que registra a ocupação europeia no Brasil – Foto: André Muller

 

“Eu estava, então, particularmente curioso e animado quando fui abordado pela Claudia Toni no quadro do projeto de modernização e valorização dessa herança. A visita que pudemos realizar no local, com a presença do embaixador e do conjunto de partes envolvidas, a quem aproveito para agradecer, nos permitiu conhecer muito melhor suas diferentes facetas. Fui conquistado particularmente pela abordagem transversal que nos foi apresentada e pelos esforços empregados para explorar todas as dimensões de estudo e reflexão promovidas no local. É um belíssimo projeto com imenso potencial, e espero que consiga reunir o apoio necessário para atingir pleno sucesso”, afirmou o cônsul-geral Matthieu Branders.

Branders lembrou que “as Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos são apresentadas nas primeiras páginas da obra de referência Brasil e Bélgica, Cinco Séculos de Conexões e Interações. Elas representariam, na verdade, o mais antigo investimento de mercadores flamengos no Brasil – fato que se tornou um marco incontornável na história das relações e dos intercâmbios entre nossos países”.

Além do embaixador e do cônsul-geral, participaram da visita o cônsul Thomas Maes, o cônsul honorário Matheus Menezes Dolecki, a assessora do DePar, Cláudia Toni, e os pesquisadores André Müller de Mello e Luis Otávio Tasso.

Projeto de modernização

O encontro foi organizado pelo Escritório de Desenvolvimento de Parcerias (DePar) e, além de apresentar as ruínas aos visitantes e divulgar um pouco de sua história, teve o objetivo de planejar possíveis parcerias para promover a captação de patrocínios para a realização da etapa final do projeto de modernização do Engenho.

“A visita e a conversa iniciada com as autoridades belgas reforçam os esforços da Universidade em aprofundar nossos programas de parceria. Eles visam buscar a participação do setor privado e de organizações internacionais no financiamento de projetos importantes da área cultural e científica da USP”, explicou o coordenador do DePar, Rudinei Toneto Júnior.

Em 2012, a USP lançou um projeto para dar ao Engenho dos Erasmos maior visibilidade e melhores condições de acesso. Em 2014, a relevância do plano e a importância das ruínas conquistaram recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), dando início às ações que compõem o projeto integral de Modernização, Valorização Patrimonial e Ampliação de Acesso ao Engenho São Jorge dos Erasmos.

O projeto tem o propósito de valorizar os elementos fundamentais do papel da Ilha de São Vicente no período colonial, e constituir um corredor cultural que prestigie e incentive novos conhecimentos e abordagens sobre o porto e os engenhos de açúcar.

O projeto de modernização inclui a valorização do papel da Ilha de São Vicente no período colonial – Foto: André Muller

 

Entre as etapas já concluídas do projeto estão a inauguração do Espetáculo Luz e Som – Memórias de um velho engenho, em 2017, e o mapeamento do patrimônio histórico, arquitetônico e arqueológico da Baixada Santista, que resultou na catalogação de 193 sítios patrimoniais e na criação de 26 roteiros de visitas na Baixada Santista.

Ainda está em andamento a construção de uma Torre-Mirante, com área de exposição complementar, elevador para acesso e um sistema de passarelas para visitação. A obra é fundamental tanto para a preservação da reserva florestal na qual o sítio arqueológico está instalado quanto para a ampliação das pesquisas arqueológicas e da visitação.

Engenho dos Erasmos

Com um terreno de aproximadamente 3.200 metros quadrados, localizado na divisa entre os municípios de Santos e São Vicente, o Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos guarda a mais antiga evidência física preservada da colonização portuguesa em território brasileiro.

Construído em 1534, pelo donatário da Capitania de São Vicente, Martim Afonso de Sousa, em sociedade com seu irmão Pero Lopes de Sousa, com o flamengo Johan Van Hielst e os portugueses Francisco Lobo e Vicente Gonçalves, o lugar era originalmente chamado de Engenho do Governador ou Engenho do Trato.

Foto: Reprodução / YouTube Canal USP

 

Foi só a partir de 1540, quando foi vendido à família do poderoso banqueiro e proprietário de navios Erasmo Schetz, que o lugar passou a ser chamado de Engenho São Jorge dos Erasmos. O Engenho teve seu apogeu no século XVI e, embora tenha entrado em decadência por causa da concorrência com o açúcar produzido na região Nordeste, continuou funcionando até o século XVIII.

Em 1958, as ruínas foram doadas à USP, que, desde 2004, desenvolve programas educacionais interdisciplinares que levam em conta os contextos histórico, geográfico, arqueológico, arquitetônico, social e ambiental em que as ruínas estão inseridas. Atualmente, as Ruínas Engenho dos Erasmos são um órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.


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