A formação em uma universidade de prestígio é um desejo justo e digno de muitos estudantes que buscam se desenvolver pessoal e profissionalmente. Infelizmente, essa conquista ainda é um privilégio em nosso país. Os frutos dessa valiosa oportunidade se refletem em diversas esferas, como na chance de mobilidade social para o egresso, nas perspectivas que se abrem à sua família e, em última instância, na maior qualificação que se agrega à sociedade, ratificando a importância da universidade para o desenvolvimento socioeconômico da nação. Porém, uma vez na universidade, não será apenas o esforço acadêmico pessoal que garantirá a formação do estudante. Nossa realidade social se impõe de maneira inclemente a todo instante, materializando-se na forma de múltiplos obstáculos e necessidades que dificultam a vida do estudante na sua função precípua de estudar e capacitar-se.A gente não quer só dinheiro
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro
A gente quer inteiro e não pela metade– Titãs, “Comida”
Quando essas dificuldades se interpõem, devemos assumir o importante papel de amenizar passivos socioeconômicos. A concepção de universidade deve compreender meios de assistir a crescente demanda de graduandos e pós-graduandos que merecem o apoio institucional em seu caminho da almejada formação profissional. A esse respeito, a Universidade de São Paulo é um modelo reconhecido internacionalmente pela qualidade e quantidade de benefícios sociais que oferece. Há décadas que a Administração Central e as Unidades de Ensino e Pesquisa somam ações e esforços para acolher estudantes que apresentam necessidades que dificultam ou impedem o melhor aproveitamento em seus estudos, sobretudo as que decorrem de condições socioeconomicamente adversas. Este apoio não é pequeno, é expressivo.
O ingresso dos estudantes nos cursos de graduação da Universidade de São Paulo, neste ano de 2021, marca a conclusão do processo gradual de inclusão social iniciado em 2018. Estão sendo oferecidas 11.147 vagas, sendo 8.242 pela Fuvest e 2.905 pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU) do Ministério da Educação, de maneira que 50% dos ingressantes originam-se de escolas públicas e, destes, 37,5% se autodeclaram pretos, pardos e indígenas (PPI). Essas proporções estarão presentes em todos os cursos da USP, em todas as suas turmas, em todos os seus períodos, diurno e noturno.
Superada a fase do vestibular, a Universidade acolhe os estudantes e oferece condições para que possam permanecer no curso. Mas sabemos que os variados fatores que possibilitam a sua permanência no ensino superior são de naturezas diversas e frequentemente ultrapassam necessidades estritamente socioeconômicas. É exatamente esse o ponto que trazemos à discussão: a Universidade deve buscar valorizar a vida estudantil por meio de ações que, ao mesmo tempo, acolham as necessidades prementes dos estudantes e os posicionem na interseção da ciência, da arte, da cultura e da cidadania, para que se tornem agentes ativos frente a questões humanas, tecnológicas, socioeconômicas e ambientais que desafiam a humanidade.
“Bebida e comida” – Uma estrutura formada de apoio estudantil
Na USP, a atenção ao estudante de graduação tem início antes mesmo do primeiro dia de aula. Ingressantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica podem ter dificuldades até mesmo para vir ocupar a vaga conquistada e iniciar seus estudos. Por isso, esses estudantes recebem auxílio financeiro mensal e alimentação totalmente subsidiada nos restaurantes universitários desde o primeiro dia de aula. Este é o Suporte ao Estudante Ingressante (SEI), baseado em um processo simples, rápido e declaratório, que o estudante conclui no momento de sua matrícula eletrônica.
Uma vez na USP, matriculados, os estudantes de graduação e de pós-graduação têm acesso a uma série de benefícios (v. abaixo), acompanhados por serviços, atividades e cursos nas áreas esportiva, artística e cultural; serviços odontológicos e de saúde; acesso a inúmeras oportunidades de financiamento para intercâmbios acadêmicos nacionais e internacionais; acesso a bolsas de estágio e de pesquisa científica e tecnológica; acesso a capacitação e subsídios em empreendedorismo.
Bolsas acadêmicas
Ao longo do curso, bolsas de estudo voltadas ao desenvolvimento de projetos acadêmicos, selecionados quanto ao mérito, estão amplamente disponíveis a todos os estudantes. Internamente, para dar apenas um exemplo, temos o Programa Unificado de Bolsas (PUB), que oferece anualmente cerca de 4.000 bolsas de graduação nas vertentes de ensino, pesquisa, cultura e extensão. O PUB complementa o conjunto de bolsas externas que exerce um papel fundamental para a permanência estudantil. No âmbito das agências governamentais, as bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado são imprescindíveis, sobretudo na pós-graduação. Há também as bolsas de estágios, que estreitam a nossa relação com o setor produtivo da sociedade, além de subsidiar as necessidades de manutenção dos estudantes.
Auxílios financeiros, de alimentação, de moradia, de transporte, de livros
Para os que demonstram necessidades socioeconômicas, a Universidade oferece auxílios para moradia, alimentação, transporte e livros. Atualmente, dos cerca de 59.000 matriculados em cursos de graduação, aproximadamente 20% dos estudantes da Universidade são apoiados pelo Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE), incluindo as 2.762 vagas em dez moradias estudantis espalhadas pelos campi da USP no Estado de São Paulo.
Alimentação subsidiada
A alimentação da comunidade universitária é vultosa. Os estudantes têm à disposição 16 restaurantes universitários, oito na capital e oito nos campi do interior, que servem aproximadamente 33.000 refeições diárias distribuídas em almoço, jantar e, em alguns deles, café da manhã. Em 2019, foram servidas mais de 5 milhões de refeições para graduandos e pós-graduandos, das quais cerca de 1,3 milhão tiveram subsídio total por meio do auxílio-alimentação provido a 11.600 estudantes, o que representa cerca de 20% do total de graduandos.
Acesso aos livros
Por meio da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), a USP concede créditos mensais para que estudantes com maior necessidade possam comprar os livros relevantes para a sua graduação. É destinado cerca de R$ 1 milhão todos os anos a esse programa.
Transporte
O transporte para deslocamento interno nos campi, entre diferentes campi, com conexão ao transporte público e moradias estudantis, é fornecido pela Universidade a todos os estudantes de maneira totalmente subsidiada. Em algumas cidades em que os campi da USP estão presentes, o transporte subsidiado pela Universidade articula-se com a isenção total ou meia-tarifa nos transportes municipal e intermunicipal, regulamentados pelas leis locais.
USP no topo internacional da assistência estudantil
A política de apoio estudantil da USP é reconhecida internacionalmente. A edição 2020 do Times Higher Education (THE – University Impact Ranking) dá nota máxima à USP, e considera seu desempenho o terceiro melhor dentre as 376 universidades analisadas no que se refere ao “Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – Combate à Pobreza”.
No “Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – Fome Zero”, as ações institucionais para segurança alimentar dos alunos também alcançaram a pontuação máxima, colocando a USP na 15ª posição entre 290 universidades analisadas.
“Diversão e arte” – Valorização integral da vida estudantil
A notável capacidade da USP de oferecer benefícios sociais está atrelada a uma visão mais ampla, a de valorizar a vida estudantil, assumindo o papel de agente promotor dos ativos gerados na diversidade universitária. Explicamos.
Uma das maiores riquezas da USP é contar com uma ampla gama de ações que permitem aos estudantes ultrapassar os contornos delimitados pelas atividades-fim de ensino, pesquisa e extensão. São ações que ampliam os horizontes dos estudantes, inserindo-os na interseção da ciência, da arte, da cultura e da cidadania, possibilitando tornarem-se agentes (cri)ativos na solução das questões humanas, tecnológicas, socioeconômicas e ambientais que desafiam a humanidade.
Compreendemos que o suporte ao estudante ultrapassa o provimento de benefícios socioeconômicos e financeiros. Vamos a alguns exemplos, dentre muitas outras ações disponíveis aos estudantes da USP. Por meio dos Escritórios da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), são oferecidas oportunidades aos estudantes de refletir e planejar sobre sua carreira (Escritório de Desenvolvimento de Carreiras) e de engajarem-se em atividades físicas e sociais (Escritório de Esportes). Nas ocasiões em que surge a necessidade de atendimento psicológico, os estudantes podem buscar apoio no Escritório de Saúde Mental, também da PRG, bem como em uma diversidade de serviços oferecidos na Universidade. O Serviço Social, ligado à Superintendência de Assistência Social e às Prefeituras dos campi, está permanentemente à disposição dos estudantes de graduação e de pós-graduação para ouvir as suas necessidades, analisar as condições, oferecer possíveis encaminhamentos especializados.
As ações multiplicam-se em tantas outras iniciativas com origem nas Pró-Reitorias, agências, órgãos centrais, Unidades de Ensino e Pesquisa, institutos especializados e museus. O ambiente criado traduz a riqueza de visões e da vida da própria Universidade de São Paulo. O desafio que se apresenta, portanto, é organizar, articular, integrar e aprimorar ações já existentes e, eventualmente, travar esforços conjuntos visando a novas iniciativas, incluindo as interlocuções com agentes externos à USP que venham a enriquecer e fortalecer o nosso diálogo com a sociedade.
A valorização da vida estudantil, concebida dessa forma, é abrangente, inclusiva, diversa, integrando e inter-relacionando aspectos de saúde mental, acolhimento psicológico, bem-estar físico, atividades esportivas, alimentação, apoio pedagógico, permanência estudantil, sustentabilidade socioambiental, moradia, mobilidade, serviço social, arte, cultura, ambiente de convívio e, não menos importante, cidadania. A Universidade tem o papel de formar cidadãos.
A operacionalização estratégica dessa visão requer a construção de parcerias, internas e externas à Universidade, que se localizem na interseção de atividades que tenham como eixo norteador a formação integral do estudante. Isso não se confunde com a replicação indiscriminada de ações e projetos. Muito pelo contrário, deve constituir projetos de ações integradas que precisam ser permanentemente acompanhados e seus efeitos, avaliados com relação à melhoria acadêmica individual e coletiva que almejam.
Poucas universidades têm vocação e condições de assumir esta ambiciosa visão de valorizar integralmente a vida estudantil. Esse não é o caso da Universidade de São Paulo. Muito pelo contrário, possuímos condições privilegiadas, de maneira que abrir mão desta nobre missão seria desperdiçar um patrimônio imaterial raro e imensurável.