Moradora do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro, a dançarina Makayla Sabino encontrou na cena ballroom carioca o espaço para cultivar suas forças como pessoa trans na sociedade. Hoje, ela faz parte do corpo de dançarinas da cantora Iza. Antes, já trabalhou com Anitta e Ludmilla. A história de vida de Makayla é uma das que são contadas na série Segura Essa Pose, lançada no Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ pela plataforma Globoplay e que contou um ex-aluno da USP na equipe de roteiristas.
Sonho de fazer filmes
Formado em Audiovisual pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o roteirista Elton de Almeida cresceu em Pontal, uma cidade de pouco mais de 50.000 habitantes na região metropolitana de Ribeirão Preto, e sonhava em fazer filmes desde criança, quando sua mãe ganhou uma câmera em uma ação de marketing da empresa para a qual trabalhava. “Por causa da minha classe social, um menino negro e gay, o que o mundo via como possibilidade para mim era limitado. Eu sempre sonhei muito alto e parecia que no interior não cabiam os meus sonhos”, diz.
Por retratar jovens que encontram na arte novas possibilidades de vida, Elton tem uma forte identificação com seu mais recente trabalho. “A série fala de pessoas em situação de vulnerabilidade que encontram umas nas outras apoio financeiro, emocional e trabalhista e mostra as relações dessas pessoas, tanto com as famílias quanto com a religião, entre outros temas. O mais bonito são os personagens jovens que estão, por exemplo, na faculdade e querem seguir carreiras que não seriam a princípio pensadas para eles pela sociedade. Penso na população trans que, há uns anos, não tinha quase nenhuma possibilidade de emprego e em como isso está mudando”, diz Elton.
Após se formar na USP, Elton se mudou para Los Angeles para fazer o mestrado em Roteiro no The American Film Institute como bolsista fulbright. Hoje, ele busca escrever histórias que trazem as experiências e vivências dele para o audiovisual. “É importante ter autenticidade para além da representatividade e da diversidade”, afirma. Mas nem sempre isso foi simples. Ao chegar em São Paulo para estudar Cinema, ele sentia que precisava se adequar a um certo padrão e pensar um certo tipo de histórias para pertencer – histórias da cidade e das classes dominantes. “Agora, entendo que existem muitas histórias que não foram contadas e que eu posso contar as histórias que me cabem, inclusive as histórias da onde eu vim. Foi assim também que fiz as pazes com o interior”, diz ele.