Série que celebra a cena “ballroom” do Rio de Janeiro contou com roteirista egresso da USP

Docu-reality “Segura Essa Pose” acompanha “houses” cariocas nos bailes onde jovens LGBTQIAPN+ negros e periféricos se enfrentam em batalhas criativas

 07/08/2024 - Publicado há 1 mês
Série que celebra a cena ballroom do Rio de Janeiro contou com roteirista egresso da USP Foto: Shikeishu/Wikimedia Commons

Moradora do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro, a dançarina Makayla Sabino encontrou na cena ballroom carioca o espaço para cultivar suas forças como pessoa trans na sociedade. Hoje, ela faz parte do corpo de dançarinas da cantora Iza. Antes, já trabalhou com Anitta e Ludmilla. A história de vida de Makayla é uma das que são contadas na série Segura Essa Pose, lançada no Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ pela plataforma Globoplay e que contou um ex-aluno da USP na equipe de roteiristas.

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A cena ballroom foi criada nos Estados Unidos no final da década de 1960 como um movimento de arte e estilo de vida e ganhou o mundo através de pessoas que precisavam celebrar as suas existências. Como espaço de liberdade e pertencimento, é nela que jovens LGBTQIAPN+, pretos e periféricos constituem “famílias”, chamadas de houses – grupos estabelecidos por laços afetivos e artísticos. As houses expressam sua criatividade em bailes, onde se enfrentam em batalhas divididas por categorias. A série Segura Essa Pose mistura documentário e reality show para retratar a emergente cena ballroom no Rio de Janeiro, frequentada por jovens LGBTQIAPN+, negros e periféricos, em grande parte.

Sonho de fazer filmes

Formado em Audiovisual pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o roteirista Elton de Almeida cresceu em Pontal, uma cidade de pouco mais de 50.000 habitantes na região metropolitana de Ribeirão Preto, e sonhava em fazer filmes desde criança, quando sua mãe ganhou uma câmera em uma ação de marketing da empresa para a qual trabalhava. “Por causa da minha classe social, um menino negro e gay, o que o mundo via como possibilidade para mim era limitado. Eu sempre sonhei muito alto e parecia que no interior não cabiam os meus sonhos”, diz.

Elton Almeida é um homem negro, cabelos encaracolados e barba preta
Elton de Almeida trabalhou na série como roteirista – Foto: Divulgação/Elton de Almeida

Por retratar jovens que encontram na arte novas possibilidades de vida, Elton tem uma forte identificação com seu mais recente trabalho. “A série fala de pessoas em situação de vulnerabilidade que encontram umas nas outras apoio financeiro, emocional e trabalhista e mostra as relações dessas pessoas, tanto com as famílias quanto com a religião, entre outros temas. O mais bonito são os personagens jovens que estão, por exemplo, na faculdade e querem seguir carreiras que não seriam a princípio pensadas para eles pela sociedade. Penso na população trans que, há uns anos, não tinha quase nenhuma possibilidade de emprego e em como isso está mudando”, diz Elton.

Após se formar na USP, Elton se mudou para Los Angeles para fazer o mestrado em Roteiro no The American Film Institute como bolsista fulbright. Hoje, ele busca escrever histórias que trazem as experiências e vivências dele para o audiovisual. “É importante ter autenticidade para além da representatividade e da diversidade”, afirma. Mas nem sempre isso foi simples. Ao chegar em São Paulo para estudar Cinema, ele sentia que precisava se adequar a um certo padrão e pensar um certo tipo de histórias para pertencer – histórias da cidade e das classes dominantes. “Agora, entendo que existem muitas histórias que não foram contadas e que eu posso contar as histórias que me cabem, inclusive as histórias da onde eu vim. Foi assim também que fiz as pazes com o interior”, diz ele.


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