Projeto de pesquisa da USP precisa de voluntários com deficiência visual

Objetivo é investigar o reconhecimento e a complexidade do uso de metáforas entre as pessoas com deficiência visual congênita e entre as que enxergam; voluntários passarão por exames de ressonância magnética

 07/03/2023 - Publicado há 1 ano
Fotomontagem com imagens de Freepik e Pexels por Rebeca Fonseca

 

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP busca voluntários em pesquisa sobre leitura audiodescrita para pessoas com deficiência visual. Os voluntários vão participar do projeto de pesquisa interdisciplinar Recursos inferenciais na metáfora situada e audiodescrição – estudo contrastivo, que busca compreender como as conexões neuronais se configuram durante o reconhecimento de metáforas a partir da leitura audiodescrita. A ideia é comparar o efeito em pessoas com deficiência visual congênita comparadas a pessoas que enxergam. As pessoas interessadas em participar devem entrar em contato pelo e-mail: leitura.audiodescrita.usp@gmail.com.

“Utilizaremos o recurso da ressonância magnética para mapear o cérebro em atividade durante a solução dos problemas que apresentaremos. Trabalharemos com dez pessoas com deficiência visual congênita e um grupo comparativo de dez indivíduos que enxergam. A ideia é compreender se os processos neurais são os mesmos nos dois grupos”, explica a coordenadora do projeto, Maria Célia Lima-Hernandes, professora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH.

A coleta de dados será realizada por meio de ressonância magnética funcional, no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. A ideia é selecionar dez participantes – cinco homens e cinco mulheres – que cumpram as condições indicadas abaixo:

 

Podem participar:
– Pessoas a partir de 18 anos, independentemente do gênero;
– Pessoas com deficiência visual congênita – segundo os critérios médicos oftalmológicos, são pessoas que deixaram de enxergar antes do desenvolvimento do córtex visual cerebral, que ocorre durante os primeiros anos de vida;
– Pessoas com disponibilidade para ir aos encontros de orientação e experimentos.
Restrições:
– Alterações cognitivas, sensoriais e/ou psíquicas;
– Implantes metálicos fixos localizados do quadril para cima, colocados com mais de 20 anos: pino, prótese, implantes dentários, etc.;
– Implantes eletrônicos: marcapasso ou implante coclear;
– Suspeita de gravidez (principalmente o primeiro trimestre);
– Claustrofobia severa (pessoas que não conseguem usar elevador ou pegar um objeto embaixo da cama).

Tanto as pessoas cegas quanto as videntes participarão do experimento seguindo os mesmos protocolos. Todos utilizarão máscaras escuras para impedir qualquer interferência decorrente de visão ambiental.

Pesquisa

Maria Célia Lima-Hernandes é professora da FFLCH e coordenadora do convênio – Foto: Reprodução/Lattes

“Estudamos como os cegos congênitos reconhecem metáforas e em qual complexidade de usos. Os resultados desse projeto potencialmente vão auxiliar na compreensão de como as pessoas reconhecem metáforas e como podemos identificar métodos mais eficazes de fazer audiodescrições para pessoas com alguma deficiência de visão”, comenta a coordenadora.

Com a pesquisa, espera-se monitorar a fluência verbal de leitura passiva, na competência de sinonímias e inferências de metáforas situadas e seus efeitos na região rotulada “caixa de letras”. Como método, será utilizada a combinação de audiodescrições com ressonância magnética funcional. Uma leitura passiva é aquela que é feita por meio da audiodescrição, ou seja, alguém reporta a leitura a alguém que não enxerga as letras.

“Não sabemos se cegos utilizam essa mesma região e se as metáforas processam-se da mesma forma nos dois grupos. Por ser pesquisa inédita, não temos certeza de conseguirmos responder a todas as questões neste projeto. Contudo, o que conseguirmos já será um passo enorme no entendimento da leitura de metáforas por cegos congênitos. A partir dessas respostas, talvez possamos formular perguntas mais adequadas para pesquisas mais desafiadoras”, afirma Maria Célia.

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Este projeto de pesquisa é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e desenvolvido em conjunto com a Associação Brasileira de Assistência à Pessoa Deficiente (Laramara) e com o Instituto Jundiaiense Luiz Braille de Assistência ao Deficiente da Visão, entidades que possuem a expertise de profissionais no campo da deficiência visual. Dentro da USP, por ser um projeto interdisciplinar, tem a parceria de unidades de diversas áreas, como: Instituto de Física, por intermédio do Laboratório de Ressonância Magnética, com os professores Said Rabhani e Hernán Joel Cervantes; Instituto de Psicologia, na área de Psicologia do Desenvolvimento, com a professora Fraulein Vidigal de Paula; e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, por intermédio do Departamento de Radiologia e Oncologia do Instituto de Radiologia, representado por Mariana Penteado Nucci da Silva.

Os resultados poderão trazer contribuições para o campo do ensino e aprendizagem escolar, seja na produção de materiais adaptados, seja na forma de criar audiodescrições mais ajustadas a esse perfil de indivíduos.

Saiba mais:

Site do projeto: Recursos inferenciais na metáfora situada e audiodescrição – estudo contrastivo
E-mail: leitura.audiodescrita.usp@gmail.com

 

Com texto de Eliete Viana, da Assessoria de Comunicação da FFLCH


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