O que é necessário para garantir o sucesso acadêmico de grupos marginalizados?

Pesquisadores do Brasil e dos EUA apresentam exemplos e desafios das ações afirmativas como instrumento de igualdade e diversidade nas universidades; evento on-line e gratuito terá tradução simultânea

 12/08/2022 - Publicado há 2 anos
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Foto: Marcos Santos / USP Imagens

 

O Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP promove, no dia 16, o evento Diversity, Mental Health and Affirmative Action in Universities, com tradução simultânea para o português e transmissão ao vivo pelo site e pelo canal do Youtube do IEA. Com apresentação de pesquisadores brasileiros e norte-americanos, o seminário irá discutir os desafios da proteção da saúde mental e da promoção do sucesso acadêmico de estudantes pertencentes a populações historicamente marginalizadas que ingressam no ensino superior. A relevância das ações afirmativas enquanto ferramenta de promoção da diversidade e acesso a oportunidades também será tema de debate. O evento é gratuito e é necessário se inscrever neste formulário para participar.

Gislene Santos coordena o nPeriferias – Foto: Acervo pessoal

“Há um equívoco quando se fala em ações afirmativas como um ganho, um benefício, somente para os negros, para os indígenas, para as mulheres, para as pessoas com deficiência ou para as pessoas trans. É algo maior do que a inserção de pessoas nos espaços de poder, uma forma de assegurar que a Universidade represente e dialogue com a sociedade que a sustenta”, afirma Gislene dos Santos, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e da Faculdade de Direito, ambas da USP. A docente coordena o grupo de pesquisa de/com comunidades de baixa renda nPeriferias (Grupo de Pesquisa das Periferias), do IEA, e conduzirá as mesas de apresentação e debate do evento.

O seminário tem o apoio da Fapesp e do Grupo de Pesquisa Psicologia e Relações Étnico-Raciais da USP. A programação contará com a participação de Cássia Virgínia Bastos Maciel, da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assuntos Estudantis da Universidade Federal da Bahia, Juarez Tadeu de Paula Xavier, da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Unesp, e Maria Aparecida da Silva Bento, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades.

Em conferência prevista no evento, o ex-secretário adjunto de Defesa do Pentágono e ex-reitor da LBJ School of Public Affairs, Edwin Dorn, falará sobre a experiência com ações afirmativas nas universidades dos Estados Unidos. Também Sharon Davies, da Fundação Kettering, apresentará a conferência Democracia, diversidade e luta por justiça. Sharon foi reitora e vice-presidente sênior de Assuntos Acadêmicos do Spelman College, uma faculdade historicamente negra para mulheres, em Atlanta, nos EUA.

É possível ativar uma notificação do Youtube para assistir ao evento no player abaixo:

Diminuindo as desigualdades

Acessar, permanecer e concluir uma formação no ensino superior são etapas distintas da vida acadêmica que têm mobilizado um recente histórico de políticas de ações afirmativas no Brasil. As políticas de incentivo ou “cotas”, como ficaram conhecidas, são estratégias de acesso que visam promover a igualdade de oportunidades em países com populações historicamente marginalizadas.

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Os estudos sobre esse fenômeno são recentes e começam a se multiplicar, principalmente, a partir de 2008, quando universidades públicas e privadas passaram a utilizar mais amplamente algum sistema de incentivo em seus processos seletivos. No entanto, uma consequência direta da escolaridade pode ser constatada na empregabilidade. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2017 apontaram que, no período de crise, em todos os níveis de instrução, a taxa de desocupação cresceu mais entre os negros que entre os brancos. Os diferenciais entre os grupos caíram à medida que se avançava nos níveis de instrução. Ainda de acordo com a 26ª edição do Boletim de Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o serviço público reflete a forte influência do elemento racial sobre a estrutura de poder. Utilizando dados da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), de 2014, o boletim constata que os negros ocupavam menos de 30% dos cargos; brancos representavam 51,7%; amarelos, 26,4% e indígenas, 0,3%.

Segundo a organização do evento no IEA, as ações afirmativas também contribuem para o fortalecimento dos direitos civis e da democracia, “na medida em que favorecem a retirada destas populações da situação de exclusão social e subcidadania em que estavam inseridas”. Já Gislene ressalta a importância não só do acesso, mas da permanência estudantil de grupos diversos no ambiente acadêmico para a construção do conhecimento. Para a docente, é fundamental associar o adoecimento mental de todos os estudantes com “as opressões racistas dentro de espaços de formação que deveriam ser acolhedores”.

Neste sentido, o evento discutirá as possibilidades de bem-estar subjetivo, apresentando o projeto Limites e possibilidades para o bem viver de estudantes negros em instituições de ensino superior. “Trata-se de uma abertura de diálogo para compreender o quanto o racismo, o sexismo, o patriarcalismo, o machismo, a homofobia e o capacitismo podem fazer adoecer”, afirma a docente. O seminário deve apresentar, ainda, os trabalhos da Clínica de Direitos Humanos das Mulheres da USP, além de um relatório sobre aborto legal, feito em parceria com a Clooney Foundation for Justice, organização de direitos humanos fundada por Amal e George Clooney.

 

Diversity, Mental Health and Affirmative Action in Universities
16 de agosto, das 8h30 às 18h
Evento público e gratuito | Com inscrição
Evento on-line | Evento em inglês, com tradução
Acompanhe a transmissão do evento em www.iea.usp.br/aovivo

 

 


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