Instituto de Psicologia da USP oferece assistência a imigrantes e refugiados de São Paulo

Projeto discute psicanálise, raça e gênero em laboratório de pesquisa visando a estabelecer espaços de escuta e fala com recém-chegados ao Brasil em encontros semanais

 28/02/2023 - Publicado há 1 ano
Por
Projeto do IP-USP busca ressignificar os contextos nos quais migrantes estão inseridos, de modo a possibilitar revisar e elaborar formas de viver novas experiências de vida – Fotomontagem: Freepik e Wikimedia Commons

 

Além das barreiras físicas, migrações envolvem hábitos diferentes, linguagem nova e, por vezes, palavras intraduzíveis. Mudanças — não só de espaço físico para habitar e se desenvolver socialmente —, mas também na forma como emoções são expressas e nem sempre são fáceis de lidar. 

Pensando em auxiliar imigrantes e refugiados, a USP oferece serviço de atendimento psicológico e psicanalítico gratuito a esse público por meio do Grupo Veredas, do Instituto de Psicologia (IP). Os trabalhos são coordenados pelo Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL) da unidade.

Nesta quarta-feira, dia 1º, o grupo estará presente na sala 13 do Bloco F do IP apresentando as ações e pesquisas que irão desenvolver este ano. Segundo os coordenadores Miriam Debieux e Gabriel Binkowski, ambos docentes do IP, será também um momento de reunir pessoas interessadas que desejam se unir à rede, composta de estudantes de graduação, pós-graduação e professores.

Gabriel Binkowski, professor do IP e membro do Veredas – Foto: Arquivo pessoal

Gabriel Binkowski conta que, muitas vezes, as pessoas recorrem ao atendimento e atividades desenvolvidas em função da falta de pertencimento que sentem ao chegar ao Brasil, país que cultivou a imagem de ser um lugar acolhedor. No entanto, ao chegar aqui são muitos os desafios vivenciados, inclusive situações que são desconhecidas em seus lugares de origem. Ele comenta que “a experiência do deslocamento traz muitas questões. Uma delas é o racismo vivenciado pela população negra refugiada e imigrante. Advindos do continente africano, esse público em maior ou menor grau sente o quanto essa violência se manifesta em seus cotidianos”.

Muitos também são os motivos que levam essas pessoas a optarem, ou não, por esses deslocamentos. Seja por acesso à educação, trabalho ou por manifestar livremente sua fé ou posicionamento político. “No geral, é preciso ter muita coragem! Migrar é sobreviver. Há muita sazonalidade nos fluxos migratórios, e consequentemente no público que atendemos”, diz Binkowski. “A depender da etnia, gênero, classe e credo as vulnerabilidades são ainda mais intensificadas, não só pela insegurança da garantia de direitos, mas também na saúde psíquica daqueles que chegaram ao nosso País”, complementa.

Veredas

Como o próprio nome sugere, o grupo se origina a partir da necessidade de auxiliar imigrantes e refugiados a trilharem um caminho seguro em novos espaços, os quais não são seus locais de origem. Existente há quase 20 anos, o projeto propõe estabelecer espaços de intervenção com essa população, buscando elaborações singulares — individuais e grupais —, apontando as diferentes possibilidades de reconstituição de laços sociais e favorecendo os vínculos afetivos e de trabalho. 

+ Mais

Fluxo migratório mundial, agravado no pós-pandemia, tem reflexos no Brasil

Em busca de um lar: imigrantes e refugiados contam com projetos da USP para tentar uma nova vida no Brasil

A proposta é também ressignificar os contextos nos quais estão inseridos, de modo a possibilitar revisar e elaborar formas de viver novas experiências de vida.  Isso é trabalhado por meio de cursos, oficinas, palestras e os atendimentos clínicos. “Por meio da fala e escuta reconstruímos nos participantes os sentidos, a noção de sensibilidade. ‘Em um país novo, o que é uma casa para mim? O que perdi? O que desejo ganhar?’ são questões trabalhadas nas sessões”, explica Binkowski.

Havendo como um dos pilares a extensão universitária, o Veredas dialoga também com o público por meio de instituições parceiras localizadas em São Paulo, como o Centro de Integração de Imigrantes (CIM), o Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI) e a Casa do Migrante.

Nesses espaços, ocorrem acompanhamentos psicológicos e psicanalíticos, tanto na modalidade presencial quanto on-line. Para participar é preciso ser residente do Estado de São Paulo. Basta enviar um e-mail para veredas@usp.br justificando os motivos para iniciar os atendimentos, quais idiomas são falados, contato e país de origem. Não há nenhuma seleção. Todas as pessoas serão acolhidas pela rede, seja de forma individual ou em grupo.

Saiba mais: https://www.veredaspsi.com.br/ e gabriel.binkowski@gmail.com


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.