Evento discute docência preta feminina e reforça a importância da representatividade na Universidade

Uma das propostas é somar forças para a consolidação da luta antirracista nos campi da Universidade a partir da reserva de vagas na contratação de docentes negros

 07/12/2022 - Publicado há 1 ano
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Eunice Prudente, Maria Ribeiro, Alessandra Garcia, Rosa Baptista, Marie Pedroso e Merllin de Souza – Fotomontagem com imagens de Currículo Lattes, LinkedIN e Facebook

 

A USP foi a última universidade do País a aderir ao sistema de cotas e, atualmente, o corpo docente da Universidade é composto de apenas 2,3% de pessoas pretas: há 5.531 docentes e apenas 125 deles não são brancos.

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Pensando em debater essa situação e questionar a representatividade que há nos espaços acadêmicos, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) organiza nesta quinta-feira, dia 8, a partir das 18 horas, o debate Docência Preta na USP: Mulheres negras e a importância da representatividade para o Brasil. O evento contará com a participação de estudantes, professoras e funcionárias que irão discutir suas vivências, dificuldades e representatividades na consolidação do enegrecimento na Universidade. 

Devido ao retorno das medidas sanitárias de combate à covid-19 no campus, esse momento será presencial, no entanto, os organizadores disponibilizam um link de inscrições para quem desejar participar nesta modalidade. Aos demais participantes, o debate será transmitido ao vivo pelo canal de Youtube da FFLCH. 

As convidadas serão Maria Ribeiro, professora do Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da FFLCH; Marie Pedroso, assistente acadêmica da FFLCH; Merllin de Souza, doutoranda em Ciências da Reabilitação da Faculdade de Medicina (FM); Rosa Baptista, graduanda em Educomunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA). 

Além delas, estará Eunice Prudente, secretária da Justiça da cidade de São Paulo e professora da Faculdade de Direito (FD), responsável por encaminhar um parecer ao reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior sustentando que a Universidade possui autonomia para incluir docentes negras e negros em uma resolução própria. Ele comprometeu-se a discutir as questões propostas no parecer.

Foto: Reprodução

 

Junto a elas, estará também Alessandra Garcia, mestranda no Diversitas, Programa de Pós-Graduação da FFLCH. Como mulher negra, afirma ter aderido a um programa de pós-graduação mais acessível, visto que ainda são poucas as reservas de vagas para a população preta. “Sou orientada por uma mulher negra, Maria Ribeiro, e me reconheço mestranda porque as nossas questões passam a ser legitimadas por vivenciarmos questões raciais em comum”, pontua Alessandra.

Alessandra Garcia – Foto: Currículo Lattes

Ela também é membra do Coletivo Itéramãxe, que trabalha com ingresso de estudantes negros nas universidades, e reconhece o quanto debater ingresso, permanência e representação é algo que precisa ser prioridade nas pautas da Universidade. De acordo com ela, é preciso que haja letramento racial no campus. “É preciso haver comissões que discutam questões étnico-raciais na Universidade para que os estudantes negros possam se reconhecer em seus professores”, complementa.

A conversa será mediada pela professora Tessa Lacerda, do Departamento de Filosofia da FFLCH, e o evento está sob a coordenação de Tulio Silva, doutorando em semiótica pela FFLCH e representante discente da Pós-Graduação.

O encontro é inspirado pelos movimentos estudantis da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que por conta da falta de professores negros no curso de Design, decidiram fazer uma greve reivindicando a contratação de três docentes pretos. Devido a isso, ele acredita que a Universidade só começará a rever seus posicionamentos quanto à questão étnico-racial a partir da mobilização desenvolvida pelos estudantes universitários. 

Tulio Silva – Foto: Arquivo pessoal

“Se a gente não pautar a docência preta na USP, vai ser como ocorreu com a Lei de Cotas. O resto do País vai aderir e a Universidade mais uma vez vai ser a última a se posicionar”, ressalta Silva. Como homem branco, o estudante acredita que as minorias precisam ser fortalecidas pela maioria. “Se hoje as mulheres pretas são a minoria, se não fortalecermos essas minorias elas nunca vão ter voz. Ou até vão ter, mas não terão voto. Precisamos construir força política para que elas possam ganhar apoio”, complementa o organizador do evento. 

Luta antirracista continuada

O evento faz parte das Mesas de Representações Discentes da FFLCH e visa a se consolidar como um espaço frequente para qualificar os debates e auxiliar o movimento estudantil a promover mudanças na USP.

A discussão quanto à representatividade de docentes negros na USP, sobretudo, mulheres negras, será a primeira mesa dando início a essas atividades. A ideia, segundo os organizadores, é continuar promovendo essas discussões ao longo de 2023, promovendo rodas de debates sobre acesso, permanência estudantil e direitos humanos na Universidade.

Mais informações: tuliosilva@usp.br


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