Edital da Fapesp concede bolsa de PhD em projeto sobre relações étnico-raciais na USP

Projeto de pesquisa consiste em investigar bem-estar de estudantes negros em instituições de ensino superior subsiando políticas de permanência estudantil; valor mínimo da bolsa é R$8.479,20 e inscrições se encerram dia 16 de abril

 22/03/2023 - Publicado há 12 meses
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Processo seletivo da Fapesp visa a concessão de bolsa para pós-doutoramento no Instituto de Psicologia – Foto: Rovena Rosa -Agência Brasil

 

O Instituto de Psicologia (IP) da USP está com inscrições abertas para pessoas interessadas em participar do processo seletivo em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na modalidade jovem pesquisador. O processo corresponde à concessão de bolsa para Pós-Doutorandos, mais conhecido como PhD.

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O aprovado ou aprovada deverá desenvolver estudos em tema de projeto pré-concebido pela fundação de pesquisa, Limites e possibilidades para o bem viver de estudantes negros em instituições de ensino superior: o caso da USP. O objetivo do projeto é descrever e analisar o bem viver de estudantes negros em instituições de ensino superior. Investigando o bem-estar subjetivo, os episódios de preconceito e discriminação étnico-racial no ambiente acadêmico, os serviços de acolhimento e assistência psicossocial que são oferecidos pelas universidades, as formas de organização dos estudantes e o suporte social oferecido por suas famílias para continuidade dos estudos.

Este conhecimento poderá subsidiar em âmbito local, isto é, na USP, e também em âmbito nacional a formulação ou aprimoramento de políticas universitárias de promoção da saúde, permanência e assistência estudantil, capazes de minimizar comportamentos que conduzam ao abandono dos estudos e fracasso acadêmico destes estudantes.  

Alessandro de Oliveira dos Santos – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

A vaga está aberta para brasileiros e estrangeiros. A pessoa selecionada desenvolverá um subprojeto dedicado, em especial, à sistematização de relações teórico-conceituais entre a noção de bem-viver, o pensamento decolonial e as políticas de promoção de igualdade étnico-racial.

Coordenado pelo professor Alessandro de Oliveira dos Santos, do IP, o projeto também consiste compreender a implantação, nas últimas décadas, de programas de ação afirmativa com reservas de vagas para negros nas universidades públicas, que propiciou um acréscimo desta população no ensino superior, constituindo-se como uma forma justa, rápida e eficiente de mitigar sua sub-representação no ambiente acadêmico. “Entretanto, diversos estudos têm mostrado que ao ingressarem nas universidades públicas os estudantes negros tem sido alvo de manifestações de preconceito e discriminação por parte de colegas, funcionários e até professores. Há também os desafios impostos por uma academia cujos referenciais epistemológicos são quase sempre eurocêntricos”, diz o coordenador.

“O ambiente acadêmico hostil encontrado pelos estudantes negros gera sofrimento contribuindo muitas vezes, para dificultar seu rendimento acadêmico e para o abandono e/ou trancamento do curso, em função da hostilidade e situações estressantes que têm enfrentado. Nenhum dos critérios de excelência adotados pelas universidades inclui aspectos humanos fundamentais da vida acadêmica como, por exemplo, se as relações e a cultura institucional de ensino e pesquisa são acolhedores e saudáveis. Entendo que saúde mental e qualidade de vida acadêmica deveriam ser critérios para dizer se uma universidade é de fato de excelência ou não”. Alessandro de Oliveira Santos

Além disso, o docente, que também é pesquisador de temas relacionados à temática étnico-racial, relata ao Jornal da USP a importância dos coletivos negros estudantis: ” Os coletivos contribuem para a permanência e bem-estar dos estudantes negros na medida em que proporcionam sensação de pertencimento e apoio aos estudos, merecendo mais atenção da USP no sentido de integrá-los a sua política de permanência estudantil e criar formas de financiamento capazes de consolidá-los e ampliar suas ações”.

Pré-requisitos

É preciso ter concluído o Doutorado na área de ciências humanas ou saúde no máximo em até sete anos; ter conhecimento da língua inglesa; ausência de reprovações em histórico escolar da pós-graduação; experiência em grupos de pesquisa; aprovação de dois trabalhos para publicação – artigo, capítulo de livro ou livro – ou de dois trabalhos já publicados, ou ainda de um trabalho publicado e de um trabalho aceito para publicação.

A concessão da bolsa corresponde à dedicação exclusiva de 40 horas semanais, com remuneração mensal de R$ 8.479,20. O edital prevê duração de 12 meses com possibilidade de extensão conforme o desempenho do candidato ou candidata.

Além disso, a Fapesp destina um auxílio financeiro, uma reserva técnica, equivalente a 10% do valor anual da bolsa para as despesas diretamente relacionadas às atividades de pesquisa. Também está prevista a concessão de auxílio instalação e transporte caso o candidato selecionado seja de fora do município de São Paulo ou do Brasil. 

Processo seletivo

O processo seletivo é dividido em duas etapas:

A primeira etapa corresponde em: entrega de redação em inglês de duas laudas sobre o tema do projeto; cópia de histórico escolar e certificado de conclusão do curso de pós-graduação em nível de doutorado; endereço e contato de duas pessoas – professores e/ou pesquisadores – indicadas a título de referências pessoais do candidato; comprovante de trabalhos publicados ou aceitos para publicação; e súmula curricular no modelo Fapesp contendo endereço completo, e-mail e telefone para contato. Essas documentações deverão ser enviadas até o dia 16 de abril para o e-mail alos@usp.br indicando no assunto “inscrição para bolsa de estudos de PD”.

Já a segunda etapa consiste em uma entrevista por teleconferência, para os selecionados na fase 1, no dia 20 de abril, a partir das 10 horas. 

A ata de promulgação de resultado da Comissão Julgadora das Candidaturas, formada por professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social do IP, será enviada por e-mail aos candidatos selecionados para a fase 02 do processo seletivo e aos demais candidatos do processo seletivo que a solicitarem. De acordo com Santos, o tema da pesquisa é algo inédito nesse programa. “Embora, a Psicologia tenha como um de seus principais focos a mitigação do sofrimento e a promoção da saúde, tendo portanto, enquanto ciência e profissão, um compromisso com o bem viver das populações, a preocupação com a saúde da população universitária, em especial com o estudantes negros, é algo recente”, diz.

Não serão aceitas inscrições com a documentação incompleta e tampouco inscrições enviadas fora do prazo. Casos omissos a este edital serão decididos pelo responsável pelo projeto, resguardadas as regras estabelecidas pela Fapesp.

Antes mesmo de o projetos ser concebido e apoiado pela Fapesp, o grupo de pesquisa Psicologia e Relações Étnico-Raciais do IP já discutia o bem viver dos estudantes, sobretudo os estudantes negros. O grupo é bastante ativo na Universidade desenvolvendo atividades que discutem saúde mental, permanência estudantil e trajetórias acadêmicas.

Saiba mais: bemviver@gmail.com


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