Docentes da Comunicação da USP criam coletivo para fomentar ações contra o racismo

Grupo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP pretende mapear as práticas antirracistas do corpo docente e realizar programas de letramento racial

 23/05/2023 - Publicado há 11 meses

Texto: Rosiane Lopes*
Arte: Carolina Borin Garcia

Coletivo de docentes da ECA planeja ações para estimular ações de combate ao racismo - Foto: Divulgação/Adusp

Criado no final de 2022, o Coletivo de Docentes Antirracistas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP tem como objetivo estimular ações de combate ao racismo na vivência acadêmica da escola por meio da realização de projetos, eventos e outras ações. Para entender como o corpo docente está tratando a temática racial com os estudantes, o grupo deu início a um diagnóstico das práticas antirracistas nas atividades de ensino.

A primeira etapa do diagnóstico consiste em mapear as ações antirracistas dos professores da ECA, para, assim, articular outras iniciativas conjuntas. Esse processo será realizado a partir do preenchimento de um formulário online. Todo o corpo docente da unidade está convidado a responder.

+ Mais

Pioneira no enfrentamento a violências, ECA escolhe presidente da nova Comissão de Inclusão e Pertencimento

Recentemente, o grupo foi responsável por uma moção aprovada na última reunião da Congregação da ECA. A proposta apoia a implantação de ações afirmativas nos concursos para o ingresso de docentes na USP. Hoje, somente cerca de 2% do corpo docente da Universidade é composto de pessoas que se autodeclaram negras.

Entre o corpo discente, a situação é diferente. Em 2021, mais de 40% dos estudantes ingressantes se autodeclaravam pretos, pardos e indígenas (PPI), o que configurou um aumento de 8% em relação a 2017, ano do último vestibular sem cotas raciais para ingresso na graduação. Iniciativas para a reserva de vagas em programas de pós-graduação também já estão sendo realizadas.

Segundo o coletivo, o perfil da comunidade ecana se diversificou social e racialmente, o que indica a necessidade do letramento racial por parte dos professores e professoras, outra proposta que o grupo pretende implementar. “É fundamental que o corpo docente tenha letramento racial para que possa lidar com este perfil de aluno de graduação e pós-graduação”, pontua o grupo em resposta coletiva ao Laboratório de Comunicação da ECA (LAC-ECA). A intenção é estender as iniciativas de letramento racial ao corpo de funcionários técnico-administrativos.

A ECA sempre se afirmou como uma unidade que luta pela democracia e justiça social. Não há como defender democracia e justiça social se o conjunto de todos os integrantes da sua comunidade, em especial o corpo docente, não tiver compromisso efetivo com práticas antirracistas.”

Debate marca início de parceria com a Unipalmares

Além do mapeamento, o Coletivo de Docentes Antirracistas começará neste mês a realizar atividades conjuntas com a Universidade Zumbi dos Palmares (Unipalmares), por meio de convênio firmado entre a ECA e a instituição em 2021. O convênio contempla desde eventos acadêmicos e culturais a projetos de pesquisa e intercâmbio em disciplinas.

O evento Ações afirmativas: atualidade e necessidade nas universidades marca o início das atividades. O debate acontecerá no dia 25 de maio, às 19h30, no Auditório Paulo Emílio, localizado no Prédio Central da ECA. Entre os palestrantes convidados para o evento estão o professor José Vicente, reitor da Unipalmares, a professora Eunice Prudente, da Faculdade de Direito (FD) da USP e o professor Dennis de Oliveira, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA.

A apresentação do evento ficará por conta da professora Irene Machado, do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), e coordenadora pela ECA do convênio com a Unipalmares. Quem faz a mediação do evento é a professora Cláudia Lago, também do CCA.

Origem e composição do coletivo

O Coletivo de Docentes Antirracistas surgiu a partir da iniciativa da professora Cláudia Lago de formar um grupo de professores para discutir a temática do racismo na ECA. O grupo se fundamenta na experiência acumulada na Comissão de Direitos Humanos da ECA (CDH/ECA) e em ações realizadas por coletivos negros. Reúne atualmente professores dos Departamentos de Jornalismo e Editoração (CJE), Cinema, Rádio e Televisão (CTR) e Comunicações e Artes (CCA), mas está aberto a todos os docentes que queiram participar.

A formação do grupo tem como contexto a ampliação da discussão do tema racial — que vem sendo fomentada pela luta de estudantes negras e negros da USP —, a conquista das cotas raciais e, de maneira geral, as ações do movimento negro no Brasil.

Como participar?

O Coletivo de Docentes Antirracistas da ECA está aberto a novos integrantes. Docentes interessados podem escrever para o endereço eletrônico diversidadenaeca@usp.br.

O grupo indica como seu objetivo principal “conscientizar o conjunto do corpo docente da ECA para a importância deste tema [racismo], tanto para ser pautado nas relações internas na instituição, como também contaminar as discussões no âmbito do ensino, da produção do conhecimento, dos projetos extensionistas”.

Além de criar um espaço que permita a discussão e conscientização do corpo docente em relação ao racismo, a presença, na Universidade, de um grupo como o Coletivo de Docentes Antirracistas possibilita que “todos/as alunos e alunas, mas também servidores/as e docentes, independente do seu pertencimento racial, sintam-se acolhidos na unidade”, apontam.

A formação do grupo tem como contexto a ampliação da discussão do tema racial — que vem sendo fomentada pela luta de estudantes negras e negros da USP —, a conquista das cotas raciais e, de maneira geral, as ações do movimento negro no Brasil.

Serviço

Ações afirmativas: atualidade e necessidade nas universidades
Dia 25 de maio, às 19h30
Local: Auditório Paulo Emílio, Prédio Central da ECA, 2º andar (Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, São Paulo, SP)

*Texto escrito por Rosiane Lopes, do LAC – Laboratório Agência de Comunicação da ECA, e informações da assessoria de comunicação da ECA


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.