Curso da USP propõe educação antirracista por meio da literatura africana

Desenvolvido pelo Centro de Estudos Africanos, programa contemplará autores da literatura africana, afro-brasileira e portuguesa para diversificar o repertório das leituras escolares; curso on-line e gratuito terá encontros aos sábados, até dezembro

 12/09/2022 - Publicado há 2 anos
Noémia de Sousa, escritora moçambicana, será um dos temas de curso do Centro de Estudos Africanos da USP – Imagem: Reprodução / FFLCH

 

O Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP promove o curso de difusão Leituras Africanas, Afro-Brasileiras e Afro-Portuguesas: conversas literárias por uma educação antirracista. As inscrições podem ser realizadas pelo Sistema Apolo até o dia 14. As aulas serão gratuitas e ocorrerão de forma on-line, com transmissão ao vivo pelo Google Meet, entre os dias 17 de setembro e 10 de dezembro, sempre aos sábados. 

O curso disponibilizará 60 vagas. Caso o número de inscritos seja superior ao de vagas, as matrículas serão realizadas via sorteio. Todos os participantes que possuírem frequência mínima de 75% receberão certificados de conclusão de curso, emitidos pelo serviço de Cultura e Extensão da FFLCH. 

De acordo com a organização, o evento foi pensado para refletir acerca das escolhas literárias no espaço escolar e para repensar a cultura desenvolvida pela educação, que ainda não possui um programa antirracista formal. O objetivo é apresentar autores e textos das literaturas africanas de língua oficial portuguesa e da literatura negra brasileira, a fim de ampliar o repertório construído por autores negros como protagonistas na construção das narrativas, não apenas coadjuvantes. O intuito também é praticar a leitura coletiva e colaborativa e refletir acerca das escolas literárias no espaço escolar. 

“Apresentar textos de escritores africanos e afro-brasileiros não apenas cumpre o que está previsto na lei, mas possibilita compartilhar textos que implicam um conjunto de práticas discursivas em que predomina a resistência às ideologias colonialistas e que, obrigatoriamente, exige um alargamento do corpus com que a escola usualmente trabalha”, afirma Rosangela Sarteschi, vice-diretora do Centro de Estudos Africanos da USP e coordenadora do curso de difusão. A lei a que se refere é a 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para implantar a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas de Ensino Fundamental e Médio. Contudo, essa obrigatoriedade, ainda, enfrenta alguns obstáculos para se estabelecer de forma completa, acessível a todos.

Programação

As aulas abordarão diferentes temáticas da literatura negra e suas relações com a vida cotidiana. No primeiro encontro, será abordada a experiência e a subjetividade negra em Contos Crespos, de Cuti – pseudônimo de Luiz Silva. Nesta obra o foco central são as personagens negras e a narrativa se concentra na paternidade responsável, que tem realce na busca de um pai por uma boneca negra para a filha. Situações ainda comuns no nosso país que tornam visível a presença do preconceito racial nas microviolências do cotidiano, conforme relata a ministrante do curso Emily Cristina dos Ouros, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da FFLCH.

“Atualmente, nota-se um avanço expressivo em relação à oferta de bonecas negras, o que, de certo modo, revela como a literatura de Cuti já se mostrava preocupada com tais questões, numa época em que isso pouco se debatia. Tais aspectos tornam sua literatura fundamental para trazer o racismo para o centro do debate e para desconstruir os efeitos do racismo estrutural tão presente na sociedade. É também a partir dessa consciência social que se constrói uma postura antirracista”, ressalta Emily.

O curso também abordará o trabalho de alguns escritores brasileiros e estrangeiros. Serão estudadas as obras da escritora cearense Jarid Arraes, conhecida pelos cordéis que resgatam a identidade negra nordestina, e do escritor moçambicano Mia Couto, autor da obra Terra Sonâmbula, fábula que mescla fantasia e relatos reais africanos. Feminismo, multiculturalidade e negritude são alguns dos assuntos que serão debatidos nas aulas.

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“Por isso, abordar, no curso, escritores negros com obras que explicitam essa condição revela um posicionamento claramente ideológico, porque se coloca contra silenciamentos e apagamentos históricos da tradição, da história e da cultura afro-brasileira e tem uma função inestimável para a formação dos leitores como o que envolve o trabalho desses cursistas. Nesses espaços, a produção literária chamada nacional, com fortes vínculos com a história, nasce sob o signo da reivindicação, trazendo para si a função de participar do esforço de construir um espaço de discussão sobre a condição colonial, preenchendo as lacunas deixadas pelo discurso oficial da história metropolitana”, completa a coordenadora do curso.

Confira a programação completa abaixo:

 

Bibliografia completa do curso está disponível neste link – Imagem: Reprodução Facebook/Centro de Estudos Africanos

 

Curso Leituras Africanas, Afro-Brasileiras e Afro-Portuguesas: conversas literárias por uma educação antirracista

Inscrições de 09/09 a 14/09 neste link
60 vagas | curso gratuito
Público-alvo: Professores da educação básica, gestores escolares, responsáveis pela sala de leitura, bibliotecários, pedagogos hospitalares (ou profissionais que promovem a leitura no ambiente hospitalar)
Duração: 17 de setembro a 10 de dezembro; quinzenalmente, aos sábados.

Mais informações: tel. (11) 3032-9416, e-mail cea@usp.br, site http://www.fflch.usp.br/cea


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