Coletivo negro da USP, em Piracicaba, promove campanha antirracista inédita durante o mês de maio

Ressignificando e resgatando a memória da liberdade negra, atividades desenvolvidas visam a desenvolver unidade de ensino posicionada ao combate do racismo em Piracicaba

 09/05/2023 - Publicado há 11 meses
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Encontro terá lugar no Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da Esalq – Foto: Reprodução/Instagram @esalquspbaobas

 

Nesta quinta-feira, dia 11, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, acontece o 1º Maio Antirracista: (Re)Memórias e (Re)Significados da Liberdade Negra. O evento faz parte de uma das iniciativas da campanha que a unidade de ensino tem desenvolvido em combate ao racismo durante o mês de maio. 

O evento parte do Coletivo Negro Baobá, da Esalq, e começará a partir das 17h30, no Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da escola. A ação surge como uma tentativa de revisar as memórias e significados da liberdade negra, denunciando e combatendo o racismo no meio acadêmico. Para participar não é preciso realizar inscrição previamente. O momento não se restringe aos estudantes, pois também será aberto aos moradores da cidade. Segundo levantamentos do Perfil de Ingressante da Esalq, em dez anos, a média de novos estudantes negros na unidade corresponde a pouco mais de 2%. 

Em formato de aula aberta, o evento contará com referências da comunidade negra piracicabana, como Luciano Alves Lima, advogado e presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Piracicaba (Conepir); Mayra Kristina de Camargo, multiartista, educadora e produtora de eventos culturais; e Pâmela Cristina Oliveira, psicóloga clínica e social com abordagem socio-histórica-cultural, e pós graduanda em Educação em Direitos Humanos pelo Instituto Federal de São Paulo, no Campus Piracicaba. Na cena musical estará presente o DJ Gab. A atividade conta com apoio do Sesc.

Stefany Correa – Foto: Arquivo pessoal

“Nosso objetivo é iniciar a construção de uma Esalq antirracista. É quase um século da passeata de libertação dos bixos, tradição com trotes vexatórios – como a ridicularização de símbolos da cultura negra – aos calouros, que ocorre em algumas repúblicas da cidade ironizando o dia 13 de maio e a atuação do movimento negro no Brasil na luta pela liberdade”, explica Stefany Correa, membra do coletivo negro da faculdade, um dos motivos que levaram a desenvolver a campanha antirracista na escola.

Com placas espalhadas nas áreas comuns da instituição, os membros do coletivo questionam: “Qual liberdade temos para celebrar no dia 13 de maio?”. Eles enxergam o antirracismo como uma responsabilidade de todas as pessoas que querem uma sociedade melhor e mais justa. “É importante que todos pensem sobre isso e por isso trazemos a campanha.” A data é reconhecida oficialmente como o dia escolhido para a suposta libertação dos escravizados. Hoje, o dia foi ressignificado pelo movimento negro brasileiro como o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo. 

Foto: Reprodução/Instagram @esalquspbaobas

 

A circulação de cartazes, no entanto, não basta para acabar com o racismo. As provocações que os membros do coletivo sugerem ainda são muito pouco para acabar com um problema que também é estrutural. “Mensagens espalhadas pelo campus não são suficientes, é um problema secular. O maior apoio que poderíamos ter, de fato, seriam políticas efetivas durante todo o ano que impeçam a reprodução do racismo e da cultura do trote na cidade”, reforça Stefany. 

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Esalq enegrecida

O coletivo negro da Esalq foi fundado após a morte de George Floyd, negro estadunidense assassinado brutalmente pela polícia em 2020. Para João Victor de Oliveira, um dos fundadores da rede, o fortalecimento das pautas antirracistas ao redor do mundo inspiraram estudantes negros da escola a se aliarem. “Decidimos nos organizar em torno da pauta racial para defender um projeto de universidade pintada de povo”, observa o estudante de Gestão Ambiental da escola.

João Victor de Oliveira – Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo após a adesão do sistema de cotas pela USP, segundo João, ainda são escassas as políticas de inclusão e pertencimento que assegurem a vivência estudantil da comunidade negra na faculdade. “Poucos colegas de turma são negros, nas formaturas menos ainda”, pontua. “A luta do movimento negro na Esalq se consolida minimamente a partir do momento que as pessoas negras ocupam esses espaços. Portanto, a força concreta que temos agora, ainda que pouca, é maior que nos anos passados”, complementa. 

A campanha do 1º Maio Antirracista: (Re)Memórias e (Re)Significados da Liberdade Negra irá durar até o dia 31 de maio. Até lá haverá outras atividades, como workshop de danças afro e campanhas panfletárias de combate ao racismo em Piracicaba e na Esalq.

Saiba mais: @esalquspbaobas, com o Coletivo Negro Baobás


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