Robôs sociais ou de companhia podem auxiliar idosos em atividades diárias, simulando ações humanas - Foto: Arquivo pessoal

Robôs sociais ou de companhia podem auxiliar idosos em atividades diárias, simulando ações humanas - Foto: Arquivo pessoal

Cientistas da USP buscam programar robôs que ajudem no bem-estar de idosos

Com atividades lúdicas, as inteligências artificiais podem melhorar desenvolvimento cognitivo e ajudar em quadros de depressão de idosos.

 15/12/2022 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 19/12/2022 as 16:33

Texto: Camilly Rosaboni

Arte: Guilherme Castro

A ideia de robôs auxiliando humanos em suas demandas profissionais e pessoais pode não ser tão futurista quanto parece. Cientistas de um grupo de pesquisa na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, atuantes na área de Sistemas de Informação e Gerontologia, estão avaliando o uso de aplicações para robôs sociais ou robôs de companhia para auxiliar em atividades diárias, como cuidar de idosos. As máquinas simulam ações humanas e podem ajudar no engajamento social e qualidade de vida de idosos com problemas cognitivos e depressão.

Os pesquisadores da EACH têm apoio do Centro de Inteligência Artificial (C4AI) – fruto de uma parceria da IBM, da Fapesp e da USP – e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), – com dois financiamentos aprovados, sob a responsabilidade da professora Meire Cachioni – para juntar robôs sociais e a população idosa.

A facilidade em unir pesquisadores dos programas de Sistemas de Informação e de Gerontologia no próprio campus da EACH facilitou o projeto. “Pensamos que seria um bom ambiente para fazer o desenvolvimento da pesquisa, porque teríamos profissionais e pesquisadores que entendem tanto da programação de robôs sociais quanto da interação com idosos”, conta Sarajane Marques Peres, integrante do grupo de pesquisa da EACH e do C4AI. Entre os pesquisadores de Gerontologia que atuam no projeto, estão: Meire Cachioni, Ruth Caldeira de Melo e Mônica Sanches Yassuda.

Ao todo, o grupo de cientistas da EACH está adaptando robôs para três projetos com idosos. O primeiro caso envolve idosos com um grau leve de demência em casas de repouso (instituições de longa permanência de idosos), de forma que as máquinas inteligentes possam ajudar em seu desenvolvimento cognitivo por meio de atividades lúdicas. A partir de testes futuros com músicas e conversas, “nós esperamos ver uma melhora no engajamento cognitivo do idoso pela interação com o robô”, observa Marcelo Fantinato, docente e integrante do grupo de pesquisa da EACH.

A segunda hipótese levantada é a de que os robôs possam ajudar idosos depressivos que moram sozinhos. A máquina disponibilizaria tarefas lúdicas e aplicaria protocolos que serviriam para realizar uma avaliação preliminar sobre o grau de depressão do idoso. “O robô não fornece diagnóstico porque essa é a função dos profissionais da área da saúde. Apenas indica o nível da doença, de forma preliminar e, com isso, pode-se encaminhar a pessoa aos devidos cuidados, incluindo a confirmação do diagnóstico profissional”, afirma Fantinato.

Porém, ainda são necessários ajustes para que a pessoa possa conviver em segurança e autonomia com o robô em sua casa. “Muita pesquisa e desenvolvimento precisam ser feitos nesse projeto em particular. Por enquanto, estamos testando em laboratório funcionalidade que implementam essas atividades”, explica o professor da EACH. Uma vez que esses testes estejam finalizados – com previsão para 2023 -, inicia-se a utilização da inteligência artificial em interações com idosos do USP 60+ nos laboratórios da EACH.

Meire Cachioni - Foto: Reprodução/ResearchGate

Meire Cachioni - Foto: Reprodução/ResearchGate

Ruth Caldeira de Melo - Foto: Arquivo pessoal

Ruth Caldeira de Melo - Foto: Arquivo pessoal

Monica Sanches Yassuda - Foto: Reprodução/Fapesp

Monica Sanches Yassuda - Foto: Reprodução/Fapesp

Equipe que vem implementando funcionalidades para o uso dos robôs nos cuidados a idosos - Foto: Arquivo pessoal

Autocrítica

O terceiro projeto se baseia na autocrítica. A hipótese levantada é de que a personificação de um robô influencia na interação com a tecnologia. “Precisamos entender qual é o nível de confiança dos idosos com essa tecnologia e a inserção dela em seu dia a dia”, conta Sarajane. “O resultado desse estudo pode interferir nos demais, porque nós podemos concluir que os idosos não confiam nos robôs e, então, buscaríamos aumentar essa confiança”, explica o professor Fantinato.

Com a pandemia da covid-19, os testes práticos foram postergados. “Nós fizemos uma interação com os robôs antes da pandemia, com o pessoal do USP 60+ , mas só conseguimos obter algumas impressões prévias”, observa Sarajane. A interação entre robôs e idosos está programada para 2023. 

Marcelo Fantinato - Foto: Arquivo pessoal

Marcelo Fantinato - Foto: Arquivo pessoal

Em entrevista ao Jornal da USP, Sarajane fala sobre a receptividade dos idosos com a novidade tecnológica. “Tivemos dois tipos de reações: uma muito positiva, com as pessoas querendo ter esses robôs em suas casas, e outra menos positiva, dizendo que eles não substituem relações humanas”, conta ela. Além disso, a pesquisadora explica que a efemeridade pode ser um problema. “No começo, é legal por ser uma novidade. E depois isso pode mudar”, complementa.

O projeto conta com duas linhas de robôs. Uma é da marca estrangeira Asus e outra da empresa brasileira Human Robotics. A diferença interfere no aproveitamento de cada máquina. “Como a Human Robotics é uma empresa brasileira, a interação e autonomia são maiores com ela. Se temos algum problema, ela ajuda a arrumar”, conta Sarajane. Os cientistas vêm trabalhando com o robô brasileiro Robios, da Human Robotics. Além disso, as linguagens de programação e as estratégias de armazenamento de dados podem mudar entre os diferentes modelos de robôs.

Sarajane Marques Peres - Foto: Arquivo pessoal

Sarajane Marques Peres - Foto: Arquivo pessoal

As empresas que gerenciam os dados garantem sua proteção às pessoas que utilizarem os robôs. “Há o compromisso da empresa de não divulgar os dados, então quando ela nos dá o serviço de armazenamento da informação, ela tem esse protocolo de proteção”, explica Sarajane.

Ao Jornal da USP, os pesquisadores contam a importância dessas iniciativas tecnológicas na Universidade. “Se nós não educarmos e criarmos as situações, elas vão ser impostas por uma outra cultura”, observa Sarajane. “O nosso papel é trabalhar essa autonomia no contexto brasileiro e preparar a sociedade”, complementa ela. “Eu destaco também a vantagem de estarmos em um ambiente que propicia o desenvolvimento desse tipo de projeto, que é a USP e principalmente a EACH por sua característica multidisciplinar”, ressalta Fantinato.
 

Auditório - Foto: Arquivo pessoal

Com informações de Henrique Fontes e Eduardo Sotto Mayor

Mais informações: sarajane@usp.brm.fantinato@usp.br, meirec@usp.br, ruth.melo@usp.br e yassuda@usp.br


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