USP sedia encontro sobre dança e música produzidas nas periferias

“Centralidades Periféricas” acontece na segunda-feira, dia 25, a partir das 9 horas, na Cidade Universitária

 20/03/2019 - Publicado há 5 anos
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Promover o diálogo entre artes e saberes plurais com acadêmicos, artistas, intelectuais e ativistas das periferias brasileiras é o objetivo do ciclo Centralidades Periféricas, idealizado por Eliana Sousa Silva, titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O primeiro encontro deste ano acontece no dia 25 de março, segunda-feira, das 9 às 17 horas, e vai abordar a dança e a música produzidas nas periferias e suas reverberações na cidade. “A proposta é pensar qual a produção no campo da dança e da música que vem sendo produzida a partir da periferia, em um diálogo com pessoas que fazem crítica, analisam e produzem conhecimento a partir da universidade”, afirma Eliana.

A rapper, cantora e compositora Karol Conka, conhecida por suas canções que exaltam a força da mulher na sociedade – Foto: Fora do Eixo via Wikimedia Commons / CC BY-SA 2.0

No evento, Lia Rodrigues, Rubens Oliveira, Karol Conka, KL Jay e outros expoentes da dança e da música criadas nas periferias estarão ao lado de acadêmicos como a professora e crítica de dança Helena Katz e o professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Acauam Oliveira. Na primeira parte do encontro será discutido o tema “Expressões de corpos periféricos na cidade”, com a participação também da titular da Cátedra. Já na segunda parte, o tema será “Sons que ecoam das periferias”. De acordo com Eliana, a expectativa é que essas duas perspectivas possam gerar um interesse maior da Universidade em incorporar esses atores na própria dinâmica de produção de conhecimento, além de um aprendizado mútuo entre essas duas linguagens, a dança e a música.

A crítica de dança Helena Katz, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e coordenadora do Centro de Estudos em Dança (CED), vai falar sobre a invisibilidade da cultura periférica. “É um evento que está problematizando, pensando, refletindo e ajudando a formular as questões desse relacionamento entre as culturas, nesse caso a dança”, afirma Helena. Segundo ela, existe aquela dança que está fora do alcance da visibilidade e a que está em visibilidade nos últimos anos. “Há um traço que divide ambas e que tem a ver mesmo com localização geográfica, classe social, periferia etc.”, ressalta, informando que a dança realizada na periferia tem imensa dificuldade de circulação. “São movimentos constantes, fortes e permanentes dos quais não se tem notícia fora de seus locais de produção, geralmente locais mais distantes. Há uma necessidade de educar o olhar para ela, para toda essa diversidade de produção.”

“Aprendi na prática que a dança é um poderoso meio de transformações”, afirma Rubens de Oliveira, um dos convidados de Centralidades Periféricas – Foto: Divulgação via Facebook

Outra convidada para o evento, Lia Rodrigues, diretora da Companhia de Danças Lia Rodrigues, desenvolve desde 2004 ações artísticas e pedagógicas na favela da Maré, no Rio de Janeiro. Ela é cofundadora do Centro de Artes da Maré e da Escola Livre de Dança da Maré, criadas respectivamente em 2009 e 2012, em uma parceria entre a companhia e a ONG Redes de Desenvolvimento da Maré – fundada em 2007 por Eliana Sousa Silva, visando ao desenvolvimento do maior conjunto de favelas do Rio. “É uma bailarina e coreógrafa com uma trajetória reconhecida, que tem uma companhia que vai fazer 30 anos, e escolheu, há algum tempo, se estabelecer na favela da Maré e desenvolver um trabalho inserido em uma dinâmica social, justamente para pensar o seu trabalho a partir daquela realidade e do contexto político e social”, destaca Eliana.

Também participam do debate Rubens Oliveira, bailarino, professor, coreógrafo e colaborador do projeto Dança Comunidade, criado por Ivaldo Bertazzo, em parceria com o Sesc São Paulo, e atende jovens da periferia paulistana vindos de Organizações Não Governamentais (ONGs), inserindo-os nas artes em geral e, especificamente, na dança; a dançarina de funk Renata Prado, diretora da Companhia de Dança Batekooniana e idealizadora da Frente Nacional de Mulheres no Funk, instituição que visa a fomentar a discussão sobre feminismo e combater o machismo instaurado no funk; e o MC William Severo dos Santos, morador da favela de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, integrante do coletivo Eu Amo Baile Funk e um dos líderes do Grupo Imperadores da Dança, coordenando, ao lado de outros integrantes, projetos sociais que permitem aos jovens ter experiências com a dança.

DJ KL Jay, um dos fundadores do grupo de rap Racionais MCs, estará presente em Centralidades Periféricas – Foto: Fernando Eduardo – KL Jay via Wikimedia Commons / CC BY 2.0

O que os sons fazem ecoar?

Rapper, cantora e compositora, conhecida por suas canções que exaltam a força da mulher na sociedade, Karol Conka participa da segunda parte do evento Centralidades Periféricas, em que serão abordados os sons produzidos nas periferias e como eles ecoam em outros cantos da cidade. Ela é autora da canção Bate a Poeira, que afirma num de seus versos: “Negro, branco, rico, pobre/ O sangue é da mesma cor/ Somos todos iguais/ Sentimos calor, alegria e dor/ Krishna, Buda, Jesus, Alá/ Speed Black profetizou/ Nosso Deus é um só/ Vários nomes pro mesmo criador/ Pouco me importa sua etnia/ Religião, crença, filosofia/ Absorvendo sabedoria/ Desenvolvendo meu dia-a-dia”.

Ainda na mesa estarão outros três convidados: o DJ KL Jay, que com Edi Rock, Mano Brown e Ice Blue fundou, no final dos anos 80, o grupo de rap Racionais MC’s e que por mais de dez anos produziu o mais importante campeonato de DJs do País, o Hip Hop DJ – ele encerra o evento com uma pequena apresentação; o professor Acauam Oliveira (UPE), mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada e doutor em Literatura Brasileira pela USP, com pesquisa acerca da produção artística dos Racionais MC’s; e o músico e multi-instrumentista, educador, produtor musical e ativista Cláudio Miranda, que fundou aos 13 anos, em 1989, a banda Poesia Samba Soul e depois o Instituto Favela da Paz, ambos no bairro Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo.

Eliana Sousa Silva, titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência: “É uma ação que propicia, dentro do espaço acadêmico, discussões sobre linguagens artísticas e culturais que são muito potentes na periferia” – Foto: Divulgação

O ciclo Centralidades Periféricas foi criado no ano passado e já tratou dos temas literatura, teatro, produções audiovisuais e pixo/grafitti. “É uma ação que propicia, dentro do espaço acadêmico, discussões sobre linguagens artísticas e culturais que são muito potentes na periferia”, diz Eliana. Segundo ela, o ciclo pretende fazer uma provocação, estabelecendo esse encontro de projetos de artistas, ativistas no campo da arte e da cultura que têm atuação na periferia e de acadêmicos, com o objetivo de pensar como essas produções podem ser incorporadas como elemento importante para atualização do que se produz naquela área como campo artístico e cultural.

O ciclo Centralidades Periféricas: Expressões de Corpos Periféricos na Cidade e Sons que Ecoam das Periferias será realizado no dia 25 de março, segunda-feira, das 9 às 17 horas, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP (Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, em São Paulo), com transmissão ao vivo pela internet. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas neste link. Mais informações pelo telefone (11) 3091-1678 e na página do evento.


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