Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Um prêmio para investigadores da realidade latino-americana

Sete docentes vão receber título de Professor Emérito do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP

 25/05/2022 - Publicado há 2 anos

Texto: Claudia Costa e Leila Kiyomura

Arte: Guilherme Castro

Nesta sexta-feira, dia 27, às 19 horas, sete docentes fundadores do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam) da USP receberão o título de Professor Emérito do Prolam, concedido pela coordenação do programa. Os docentes são estes: Afrânio Mendes Catani, Amália Inés Geraiges de Lemos, Cremilda Medina, Dilma de Melo Silva, Lisbeth Rebollo Gonçalves, Maria Cristina Cacciamali e Sedi Hirano. A cerimônia de entrega do título – pública e presencial – acontecerá no Auditório Lupe Cotrim da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, 1º andar, Cidade Universitária, São Paulo). Entrada grátis (é obrigatório o uso de máscara).

O coordenador do Prolam, professor Júlio César Suzuki, fala da importância de reconhecer o desafio dos mestres fundadores: ”Não cabia homenagear apenas um ou dois de seus docentes, construindo hierarquias sobre atuações e resultados, mas valorizar a todos que, desde o início do primeiro programa de pós-graduação interdisciplinar do Brasil, contribuíram e continuam contribuindo para a produção de compreensões e interpretações sobre a América Latina e seus processos de integração”.

O Prolam já formou 519 mestres e doutores. “A primeira dissertação de mestrado foi apresentada em 1992 e a primeira tese de doutorado foi defendida em 2002”, conta o coordenador. “Em suas 368 dissertações de mestrado e 151 teses de doutorado, perseguiram-se inúmeras temáticas, com privilégio de estudos comparados entre países da América Latina, mas também leituras em perspectiva com a valorização de toda a região.”

Uma conquista que, segundo Suzuki,  reflete o brio dos docentes do Prolam. Daí a razão de reverenciar os pioneiros. “Os sete mestres homenageados expressam a dedicação, a força, a competência e a determinação de jovens docentes da USP que, envolvidos no convite e no sonho de compreender a América Latina, sob a perspectiva do estudo comparado e da integração regional, solidificaram um programa de pós-graduação de significado internacional com forte preocupação social, política e cultural. Depois dos mais de 30 anos de atuação, extremamente consolidados em suas trajetórias, esses docentes servem de exemplo e de inspiração para a construção do Prolam dos nossos sonhos.”

O Prolam iniciou suas atividades de ensino e pesquisa em 1989, ligado diretamente à Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP. Desde 2015, está vinculado à Escola de Comunicações e Artes. “A missão do Prolam é produzir conhecimento sobre a realidade latino-americana sob as dimensões social, econômica, política, educacional e cultural por meio de metodologia comparada aplicada a, pelo menos, dois países da América Latina ou sobre uma temática comum aos países da região”, como se lê no site do Prolam.

A seguir, conheça um pouco da trajetória de cada um dos docentes que receberão o título de Professor Emérito do Prolam.

Afrânio Mendes Catani

Afrânio Mendes Catani está na USP desde 1992. Graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, cursou mestrado (1983) e doutorado (1992) em Sociologia pela USP e é docente da Faculdade de Educação, também da USP. Ingressou no Prolam a convite do professor Sedi Hirano e já orientou mais de 20 trabalhos de pós-graduação no programa. Sempre trabalhou com dois grandes temas: políticas de educação superior na América Latina em perspectiva comparada entre os países Brasil, Argentina, Chile e Venezuela, e história e historiografia do cinema brasileiro e latino-americano. Catani também presidiu a comissão Sociedad Latino-americana de Estudos sobre América y el Caribe (Solar), criada por Darcy Ribeiro, e foi coordenador da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped). Segundo Catani, a Solar foi muito importante para o programa, porque propiciou intercâmbios e pesquisas em países da América Latina. “Receber essa homenagem é uma grande alegria e um reconhecimento”, afirma. Catani espera que, assim como as universidades europeias e latino-americanas têm centros latino-americanos de estudos, o Prolam possa se tornar uma unidade de ensino e ter um corpo fixo de professores. “Não queríamos criar um curso, mas sim um programa próprio com um quadro próprio de professores”, explica.

O professor Afrânio Mendes Catani - Foto: Prolam/USP

Amália Inés Geraiges de Lemos

Nascida na Argentina, Amália Inés Geraiges de Lemos tornou-se uma “latino-americana”, como diz quando se refere ao seu país natal e aos países de coração, no caso o Chile e o Brasil. Formada na Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, na Argentina, ganhou uma bolsa para estudar Geografia Urbana na USP, “onde fui muito bem recebida”. Chegou a voltar para a Argentina, mas em 1969 retornou ao Brasil, onde se casou. Em 1972, concluiu o mestrado e no mesmo ano prestou concurso e ingressou como professora assistente do curso de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em 1987, participou do 1º Encontro de Geógrafos da América Latina, que acontece a cada dois anos, alternando países entre os hemisférios Norte e Sul, e do qual ainda participa. Como ela conta, era uma época em que não se falava em América Latina, e sob a tutela do governo de Franco Montoro houve uma valorização dos trabalhos coletivos acerca da temática. Foi a época em que surgiu o Memorial da América Latina e também o Prolam, como relata. “Foi o governador quem propôs a criação de um evento interdisciplinar sobre a América Latina, e foi assim que surgiu o Prolam. Eu participei das primeiras reuniões para instalação do programa”, lembra. E lá se vão mais de 30 anos dedicados à pesquisa nessa área. Tanto que, em 2015, ganhou o Prêmio Milton Santos por sua dedicação à geografia latino-americana. “Desde o início do Prolam nunca fiquei um semestre sem dar aulas. É o que mais gosto, dar aulas”, conclui.

A professora Amália Inés Geraiges de Lemos - Foto: FFLCH/USP

Cremilda Medina

“Estou muito honrada com o título que o Prolam vai me outorgar”, afirma a jornalista, pesquisadora e professora titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Cremilda Medina, autora de 20 livros e organizadora de 60 coletâneas. Com formação humanística nos cursos de Letras e de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no início dos anos 1960, onde também deu início à docência, Cremilda se mudou para São Paulo, em dezembro de 1970, para cursar a primeira pós-graduação da área de comunicação social, pioneira na América Latina. “No segundo semestre de 1972, saio da Escola de Comunicações e Artes e mergulho, pela primeira vez, no universo latino-americano”, conta, lembrando sua experiência inicial no Centro Internacional de Estúdios Superiores de Periodismo de América Latina (Ciespal), e mais tarde no Prolam, programa implantado em 1988 na USP. É a partir do primeiro seminário transdisciplinar, promovido em 1990 pela professora, que se quebram fronteiras. Segundo ela, essa iniciativa, que vai além da interdisciplinaridade e alcança pontes transdisciplinares, nasce na ECA e no Prolam no início da última década do século passado e se espraia para outras universidades com a publicação de seminários e textos. “Quase quatro décadas se passaram e a vertente cultural da América Latina subsiste como o principal eixo dos estudos teóricos e das práticas narrativas na comunicação social”, comenta. “Sigamos, pois, enquanto a vida permitir e não se apagarem as memórias do universo lúdico dos afetos ou dos domínios do ser pensante.”

A professora Cremilda Medina - Foto: Prolam/USP

Dilma de Melo Silva

“Essa é uma homenagem que tem um significado muito grande. Não esperava um reconhecimento tão especial.” Para a professora Dilma de Melo Silva, receber o título de Professora Emérita com os pioneiros do Prolam, com quem estabeleceu muitas parcerias, é reviver momentos de luta, sonhos e desafios. “Com o objetivo de divulgar o Prolam e seu projeto de uma metodologia interdisciplinar sobre a América Latina, visitamos universidades, museus e instituições científicas e culturais de diversos países do continente”, conta. “Contatamos inúmeros pesquisadores que nos apoiaram e ficaram interessados.” Dilma lembra que os professores do Prolam viajavam nas férias. “Enviamos uma carta para a Capes, que na época não entendia o que iríamos fazer pela América Latina. Mas explicamos a importância da nossa pesquisa e recebemos o devido apoio.” Essa peregrinação logo teve resultados positivos. Os docentes com quem estabeleceram intercâmbio vieram ao Prolam ministrar disciplinas e realizar pesquisas. “O programa passou a ter muita procura também por estudantes. Os horizontes da USP e de outras universidades se abriram para a América Latina.” A história de Dilma de Melo Silva na USP começou na década de 1960, quando se formou em Ciências Sociais. Fez mestrado e doutorado em Sociologia. E se formou também em Interpretação e Direção Teatral pela Escola de Arte Dramática (EAD). Professora livre-docente da ECA, Dilma foi também pioneira no ensino da História da Arte Africana, atuando no Prolam e no Programa de Pós-Graduação Interunidades de Estética e História da Arte. Com o seu sorriso contagiante, compartilha o sonho dos sete pioneiros do Prolam: continuar lecionando e ver os seus estudantes indo universidades afora como grandes mestres.

A professora Dilma de Melo Silva - Foto: Prolam/USP

Lisbeth Rebollo Gonçalves

“Ser Professora Emérita do Prolam é uma honra. O título é um reconhecimento importante da nossa trajetória na Universidade”, afirma Lisbeth Rebollo Gonçalves, professora titular da Escola de Comunicações e Artes da USP. “Todos os professores homenageados foram muito engajados na construção e solidificação do programa, de um projeto interunidades,  novo na época. O Prolam foi pioneiro nessa modalidade. Foi muito frutífero o resultado de aproximar professores especialistas em um tema ou questão de importância na atualidade e para o futuro e desenvolver um campo de ensino novo.” Lisbeth tem uma história de mais de cinco décadas dedicadas à Universidade. Tem graduação, mestrado e doutorado em Sociologia na USP. E seguiu dedicando-se à história da arte brasileira, com diversos livros publicados. Foi diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP em duas gestões, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e atualmente preside a Associação Internacional de Críticos de Arte. No Prolam, atuou como coordenadora em dois mandatos, entre 2012 e 2019. Continua como professora e também integra o Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da USP. “Comecei a lecionar na pós-graduação em 1987. Em 35 anos, orientei cerca de 40 mestres e doutores. Neste momento, oriento 11 pesquisadores e supervisiono dois pós-doutorados.”

A professora Lisbeth Ruth Rebollo Gonçalves - Foto: Matheus Araújo/IEA-USP

Maria Cristina Cacciamali

Considerada uma dos 100 economistas mais citados na América Latina, Maria Cristina Cacciamali, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, também faz parte da lista de professores fundadores do Prolam agraciados com o título de Professora Emérita. Seus temas de pesquisa são economia política, desenvolvimento econômico na América Latina e políticas públicas, e, mais recentemente, a partir de 2020, violência de gênero. “Busco a consolidação das linhas de pesquisas do Prolam por meio do estudo epistemológico das grandes questões da região (instabilidade política, pobreza, concentração de renda, falhas nas políticas públicas básicas – educação, saúde e saneamento) e enfatizo sempre questões de distribuição de renda, informalidade e atraso no desenvolvimento econômico, associando os temas e objetos a questões políticas”, explica a professora. Possui vários livros e artigos publicados – muitos deles transformados em capítulos publicados por organizações internacionais como a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), entre outras. Para Maria Cristina, receber o título de Professora Emérita do Prolam é o reconhecimento do trabalho realizado de implantação de uma pós-graduação interdisciplinar voltada para a região. “Vivemos na região, em geral, de costas para os países vizinhos, e os estudos comparativos, assim como as diferentes epistemologias latino-americanas sobre diversas áreas de conhecimento da região, mostram um tecido comum muitas vezes desconhecido.”

A professora Maria Cristina Cacciamali - Foto: Prolam/USP

Sedi Hirano

O título de Professor Emérito do Prolam a Sedi Hirano se soma ao título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que ele recebeu em 2010. O professor recebeu também a comenda Ordem do Sol Nascente com Raios de Ouro e Laço do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, em nome do imperador japonês, uma relevante homenagem pela sua atuação acadêmica e científica entre universidades japonesas e do Brasil. O professor tem uma trajetória de mais de cinco décadas de dedicação à USP. Ele aliou a função de docente e pesquisador às atividades administrativas. Além de fundador do Prolam, foi diretor da FFLCH, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da mesma unidade e pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP. Como professor, cientista e acadêmico, Sedi Hirano comenta os princípios que orientam a sua atuação na USP: “Aprendi com os meus mestres Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso que a questão da autonomia acadêmica é um princípio central. Os professores, pesquisadores e os alunos devem ser livres para planejar e realizar projetos de investigação de alto nível, bem como para reformularem, definirem e redefinirem criticamente os conteúdos curriculares das várias áreas de conhecimento, incluindo os temas de interesse social e cultural da sociedade”. Na avaliação do professor, a USP exerce um papel acadêmico  civilizador na qualificação e na conscientização do cidadão brasileiro dotado de conhecimento especializado. Sedi Hirano, que já formou incontáveis mestres, doutores e pós-doutores, tem no horizonte o ideal de continuar professor.

O professor Sedi Hirano - Foto: Prolam/USP


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.