Seminário discute Brasil retratado por olhares estrangeiros

No dia 7 de maio, especialista vai analisar telas e textos de viajantes pintores dos séculos 17 ao 19

 03/05/2018 - Publicado há 6 anos
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Baía de Guanabara Vista da Ilha das Cobras (1828), Félix Taunay

Nesta segunda-feira, 7 de maio, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) recebe o seminário A História e o Brasil em Telas e Textos de Viajantes Pintores (Séculos XVIII a XIX). O evento será ministrado pela professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Ana Beatriz Demarchi Barel e acontece das 9 às 17 horas, com entrada gratuita.

Dois eixos estruturam o seminário. No primeiro, Ana Beatriz falará sobre o Brasil colonial dos séculos 17 e 18 e o trabalho dos viajantes holandeses Albert Eckhout (1610-1666) e Frans Post (1612-1680). Integrando a comitiva de Maurício de Nassau, os dois artistas produziram obras com a incumbência de documentar o Brasil sob invasão holandesa. Enquanto Eckhout se especializou em retratos e naturezas-mortas, a produção de Post se carateriza pela paisagem de traçado documental.

Família do Interior do Brasil em Viagem (1818), Aimé-Adrien Taunay

O segundo eixo do evento se concentra no século 19 e nos artistas franceses Jean Baptiste Debret (1768-1848), Félix Taunay (1795-1881) e Adrien Taunay (1803-1828). Chegando ao Rio de Janeiro em 1816 (Félix e Adrien acompanhando o pai Nicolas), compunham a Missão Artística Francesa, trazida ao Brasil durante a estadia da família real portuguesa. Além de registrar o País em telas e gravuras, coube à missão estabelecer o ensino de artes plásticas na cidade.

“Podemos, em linhas gerais, constatar que entre os pintores que escolhemos há em comum o projeto de divulgar elementos de terras distantes, desconhecidas ou pouco conhecidas, ao público europeu, ávido por novidades trazidas no bojo dos projetos expansionistas de suas metrópoles e de outros países europeus que vieram para as Américas”, comenta Ana Beatriz. “Também havia um grande interesse por mapear, ‘etiquetar’ cientificamente todo esse mundo desconhecido, no intuito de ampliar o conhecimento intelectual dos europeus sobre terras cobiçadas nos projetos colonialistas.”

Le moulin (1668), Frans Post

Cada um dos artistas que será discutido no seminário apresenta, contudo, suas particularidades, salienta a professora. “Em Frans Post, há um destaque à representação e à documentação da presença holandesa no Nordeste, em particular no território hoje correspondente ao estado de Pernambuco e às atividades econômicas ligadas à produção do açúcar.” Segundo Ana Beatriz, grande parte da obra de Post é dedicada às realizações holandesas na construção de engenhos e nos elementos que compõem o mundo açucareiro.

“Já em Eckhout”, continua a professora, “há o desejo de documentar a flora e a fauna do Brasil. Frutas tropicais, flores e animais examinados de forma científica, revelando seus detalhes e peculiaridades. E também seus habitantes, nas telas representados com seus adereços, trajes, objetos de uso diário.”

Vista da Baía do Rio tirada das Montanhas da Tijuca (1816-21), Nicolas-Antoine Taunay
Mameluca (1641), Albert Eckhout

Ana Beatriz também aponta elementos de aproximação e afastamento entre os pintores franceses. “Todos estão inseridos num período histórico e em projetos bastante próximos, o que faz com que sua produção se afine. Prova disso são as temáticas que se voltam à documentação da vida no Brasil no período colonial. Porém, Debret concentra sua atenção em boa parte de seu trabalho no estudo dos habitantes do Brasil, retratando de forma extremamente detalhada diferentes nações indígenas, negros e também tipos locais como os paulistas e os portugueses, a vida no Rio de Janeiro, as relações sociais na colônia. Os Taunay têm, eles também, características diferentes entre si. Nicolas-Antoine revela uma forte influência das escolas holandesas, o apreço pelos detalhes, pela miniatura, e os temas de paisagens se prestam bem a isso. Já Aimé-Adrien, seu filho, tem aquarelas belíssimas, combinando a pintura de intenção científica a um traço limpo e despojado, com o constante jogo de claro-escuro, tons sobre tons e poucos detalhes.”

O seminário faz parte do ciclo História das Relações Franco-Brasileiras: França e Brasil em Textos e Telas do Século XVIII ao Século XX. A inscrições podem ser feitas pelo telefone 3091-1154 ou pelo e-mail bbm@usp.br. A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin fica na Rua da Biblioteca, s/nº, na Cidade Universitária, em São Paulo.


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