Musicistas - Fotomontagem Jornal da USP

Público ainda desconhece a arte das violonistas brasileiras

Tema será debatido em evento on-line no dia 30, às 14 horas, por quatro instrumentistas

 26/08/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 19/12/2022 as 19:41

Texto: Claudia Costa

Arte: Simone Gomes

No dia 30 de agosto de 1889, a compositora carioca Chiquinha Gonzaga (1847-1935) regeu uma orquestra de quase cem violões, violas e pandeiros no Theatro S. Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro. O concerto reuniu músicos amadores dos subúrbios carioca, que executaram uma composição de autoria de Chiquinha, Caramuru, o Deus do Fogo, uma homenagem ao maestro Carlos Gomes. A compositora foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, abrindo caminho para a presença feminina no universo da música brasileira. Mas ainda hoje as obras para violão compostas ou interpretadas por mulheres são pouco conhecidas do público e até mesmo dos praticantes do instrumento.

Para debater essa questão, o Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa (Celp) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP promoverá o evento Violonistas Brasileiras, Literaturas, Conversas Transversais, no próximo dia 30, segunda-feira, das 14 às 16 horas, no canal da FFLCH no Youtube. A coordenação do evento é das professoras Rejane Vecchia da Rocha e Silva e Paola Poma, docentes do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH e diretoras do Celp.

Cláudia Garcia – Foto: Arquivo pessoal

Segundo a violonista Marinês Mendes, integrante do Celp que auxiliou na organização do evento, a temática adquiriu uma grande importância a partir do episódio trágico que envolveu a jovem violonista Mayara Amaral, vítima de feminicídio em 2017. “Ela tinha acabado de apresentar sua dissertação de mestrado, que falava justamente da participação da mulher no universo composicional musical brasileiro para o violão, analisando perfis biográficos de cinco compositoras da década de 1970, entre elas Eunice Catunda e Esther Scliar”, lembra Marinês. “Sua pesquisa procurava dar visibilidade a obras pouco conhecidas, e a partir dessa tragédia a também violonista Thaís Nascimento tomou para si a tarefa de continuar essa divulgação.”

O evento vai reunir quatro violonistas brasileiras: Claudia Garcia, Gabriele Leite, Marcia Taborda e Thaís Nascimento, além da antropóloga e compositora Luz Gonçalves Brito (Marcia Taborda e Gabriele Leite vão participar por vídeo). Elas vão discutir, a partir de suas próprias experiências, a produção feminina para o violão.  O objetivo é “dar relevo à produção feminina no que diz respeito às composições que surgem para o violão ou a partir do violão”, destaca Marinês. Segundo ela, são experiências relacionadas às letras e à literatura trazidas por Claudia Garcia; a questão da performance na visão de Gabriele Leite; a musicologia histórica tratada de forma mais contundente por Marcia Taborda; o debate de gênero em relação às composições e o sotaque mais popular sob a perspectiva de Luz Gonçalves Brito; e, finalizando, a temática de gênero no campo do erudito, por Thaís Nascimento

 Experiências musicais

Marcia Taborda – Foto Raul Taborda

Referência na historiografia do violão, Marcia Taborda é professora de violão e coordenadora do Núcleo de Estudos de Violão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com pós-doutorado pela University of New South Wales, Sidney (2020). É autora de vários livros, dos quais Marinês destaca Violão e Identidade Nacional, Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música (2010), “leitura obrigatória para quem estuda a história do violão”, e O Violão na Corte Imperial, que pode ser acessado gratuitamente no portal da Biblioteca Nacional. É uma violonista de alta performance, com várias gravações, entre elas o CD Choros de Paulinho da Viola, com a obra do compositor escrita para violão.

Fundadora da Associação Internacional de Violonistas Compositoras, Thaís Nascimento é bacharel e mestranda em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com pesquisas relacionadas às mulheres compositoras para violão. Como reitera Marinês, Thaís vem se dedicando a fazer um levantamento sobre as compositoras que estão ou não na cena profissional da música, e também acerca da violência de gênero. Violonista virtuose, lançou o CD Expressivas – Mulheres Compositoras para Violão, em homenagem a Mayara Amaral, além de ter organizado vários eventos sobre essa temática.

Thaís Nascimento – Foto: Arquivo pessoal

Gabriele Leite, assim como Thaís Nascimento, é oriunda de projetos sociais, como revela Marinês, tendo iniciado sua carreira através do Projeto Guri. Formada em violão clássico pelo Conservatório de Tatuí (SP), atualmente cursa mestrado na Manhattan School, de Nova York, nos Estados Unidos, com bolsa integral da Cultura Artística, entidade que a apoia desde 2016. Nas palavras de Marinês, ela se destaca por ser uma violonista jovem, que tem colecionado muitos prêmios. Foi semifinalista do concurso internacional de violão de Koblenz, na Alemanha, em 2019, recebendo menção de Melhor Participação Brasileira, e entrou na lista Forbes Under 30, composta de jovens abaixo de 30 anos que se destacaram em 2020. Também em 2020 foi eleita pelo júri popular como Jovem Talento no Grande Prêmio da revista Concerto e recebeu convite para ingressar no seleto grupo de artistas Augustine Strings.

Além de solista e camerista, Claudia Garcia coordena a Camerata de Violões na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), onde também integra o quadro docente, e tem sua pesquisa relacionada às áreas de performance, canção de câmara brasileira, violão e literatura. “Ela mostra o quanto a literatura conversa com o violão, ou seja, o violão enquanto personagem literário, e também como instrumento auxiliar de uma composição artística”, afirma Marinês, acrescentando que a pesquisadora traz uma abordagem de como o violão é visto no imaginário dos compositores, sob o ponto de vista da produção feminina.

Gabriele Leite – Foto: Arquivo pessoal

Já a antropóloga, musicista e poetisa Luz Gonçalves Brito é autora de várias composições. Formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), tem experiência em estudos linguísticos e literários, com pesquisas na área de sociolinguística, no que se refere à intersecção entre ensino, representações e identidades negras. Mestre e doutora em Antropologia Social, desenvolveu pesquisas sobre religiosidade e espiritualidade e ecologia e espiritualidade. É autora do livro O Véu do Congá: Sobre Três Aspectos do Conhecimento Umbandista.

Luz Gonçalves Brito – Foto: Sara Gonçalves Brito

O evento Violonistas Brasileiras, Literaturas, Conversas Transversais, promovido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, será realizado no dia 30 de agosto, segunda-feira, das 14 às 16 horas, no canal da FFLCH no Youtube. Grátis. Mais informações na página do evento e no Facebook.


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No dia 30 de agosto de 1889, Chiquinha Gonzaga (1847-1935) regeu uma orquestra de quase cem violões, violas e pandeiros, no Theatro S. Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro. O concerto reuniu músicos amadores dos subúrbios carioca, que executaram a composição de sua autoria, Caramuru, o deus do fogo, uma homenagem ao maestro Carlos Gomes. A compositora foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, abrindo caminho para a presença feminina no universo da música brasileira, mas ainda hoje as obras para violão compostas ou interpretadas por mulheres são pouco conhecidas do público e até mesmo dos praticantes do instrumento. Para trazer à luz essa questão, o Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa (Celp), centro interdepartamental da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, promoverá o bate-papo Violonistas brasileiras, literaturas, conversas transversais, no dia 30 de agosto, das 14 às 16 horas, no canal uspfflch. A coordenação do evento é das professoras Rejane Vecchia da Rocha e Silva e Paola Poma, docentes do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH/USP e diretoras do Celp. Segundo a violonista Marinês Mendes, integrante do Celp que auxiliou na organização da mesa, a temática adquiriu uma grande importância a partir do episódio trágico que envolveu a jovem violonista Mayara Amaral, vítima de um feminicídio em 2017. “Ela tinha acabado de defender sua tese de mestrado que falava justamente da participação da mulher no universo composicional musical brasileiro para o violão, analisando perfis biográficos de cinco compositoras da década de 1970, como Eunice Catunda e Esther Scliar”, lembra. “Sua pesquisa procurava dar visibilidade a obras pouco conhecidas, e a partir dessa tragédia a também violonista Thaís Nascimento tomou para si a tarefa de continuar essa divulgação”, afirma Marinês, informando que além de participar do evento da USP, ela faz a mediação da mesa. A live discute, através da interdisciplinaridade entre música, literatura, antropologia e sociologia, a produção feminina para o violão, comentada pelas próprias violonistas, a partir de suas experiências. O evento vai reunir quatro violonistas brasileiras Claudia Garcia, Gabriele Leite, Marcia Taborda e Thaís Nascimento, além da antropóloga e compositora Luz Gonçalves Brito (por motivos pessoais, tanto Marcia Taborda quanto Gabriele Leite participam por vídeo). O objetivo é “dar relevo à produção feminina no que diz respeito às composições que surgem para o violão ou a partir do violão”, destaca Marinês. Segundo ela, são experiências relacionadas às letras e à literatura trazidas por Claudia Garcia; a questão da performance na visão de Gabriele Leite; a musicologia histórica tratada de forma mais contundente por Marcia Taborda; o debate de gênero em relação às composições e o sotaque mais popular sob a perspectiva de Luz Gonçalves Brito e, finalizando, a temática de gênero no campo do erudito por Thaís Nascimento.  Experiências musicais Referência na historiografia do violão, Marcia Taborda é professora de violão e coordenadora do Núcleo de Estudos de Violão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com pós-doutorado pela University of New South Wales, Sidney (2020). É autora de vários livros, dos quais Marinês destaca Violão e identidade Nacional, Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música (2010), “leitura obrigatória para quem estuda a história do violão”, e O Violão na corte imperial, que pode ser acessado gratuitamente no portal da Biblioteca Nacional. É uma violonista de alta performance, com várias gravações, entre elas o CD Choros de Paulinho da Viola com a obra do compositor escrita para violão. Fundadora da Associação Internacional de Violonistas Compositoras, Thaís Nascimento é bacharel e mestranda em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com pesquisas relacionadas às mulheres compositoras para violão. Como reitera Marinês, Thaís vem se dedicando a fazer um levantamento sobre as compositoras que estão ou não na cena profissional da música, e também acerca da violência de gênero. Violonista virtuose, lançou o CD Expressivas – Mulheres Compositoras para Violão, em homenagem a Mayara Amaral, além de ter organizado vários eventos sobre essa temática. Gabriele Leite, assim como Thaís Nascimento, é oriunda de projetos sociais, como revela Marinês, tendo iniciado sua carreira através do Projeto Guri. Formada em violão clássico pelo Conservatório de Tatuí, atualmente cursa mestrado na Manhattan School, de Nova York, com bolsa integral da Cultura Artística, entidade que a apoia desde 2016. Nas palavras de Marinês, ela se destaca por ser uma violonista jovem, que tem colecionado muitos prêmios. Foi semifinalista do concurso internacional de violão de Koblenz de 2019, na Alemanha, recebendo menção de “Melhor Participação Brasileira”, e entrou na lista Forbes Under 30, composta de jovens abaixo de 30 anos que se destacaram em 2020. Também em 2020 foi eleita pelo júri popular como “Jovem Talento no Grande Prêmio da Revista Concerto” e recebeu o convite para ingressar no grupo seleto de artistas Augustine Strings. Além de solista e camerista, Claudia Garcia coordena a Camerata de Violões na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), onde também integra o quadro docente, e tem sua pesquisa relacionada às áreas de performance, canção de câmara brasileira, violão e literatura. “Ela mostra o quanto a literatura conversa com o violão, ou seja, o violão enquanto personagem literário, e também como instrumento auxiliar de uma composição artística”, afirma Marinês, acrescentando que a pesquisadora traz uma abordagem de como o violão é visto no imaginário dos compositores, sob o ponto de vista da produção feminina. Finalmente, a mesa traz a antropóloga, musicista e poetisa Luz Gonçalves Brito, autora de várias composições. Formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), tem experiência em Estudos Linguísticos e Literários, com pesquisas na área de Sociolinguística no que se refere à intersecção entre ensino, representações e identidades negras. Mestre e doutora em Antropologia Social, desenvolveu pesquisas sobre religiosidade e espiritualidade, e ecologia e espiritualidade. É autora do livro O Véu do Congá: sobre três aspectos do conhecimento umbandista (Coleção Antropologia Hoje – Núcleo de Antropologia Urbana da USP). O bate-papo Violonistas brasileiras, literaturas, conversas transversais será realizado no dia 30 de agosto, das 14 às 16 horas, no canal uspfflch. O evento é gratuito e as primeiras 150 pessoas que assinarem a lista de presença receberão o certificado de participação de ouvinte. Mais informações na página do evento e no Facebook.