A relação da Biblioteca da Faculdade de Direito da USP com São Paulo não se resume à localidade. Entre as páginas, dedicatórias, datas de publicação, selos, encadernações e o próprio conteúdo do livro apresentam detalhes que remontam à história paulistana.
Diferente do que se imagina, os livros não se limitam ao conhecimento do direito. “Há livros de todas as áreas, inclusive raros, e isso reflete a importância do acervo”, afirma Maria Lúcia Beffa, chefe técnica da Biblioteca.
Esse patrimônio com cerca de 400 mil livros surgiu da união de outros dois: da Biblioteca do Bispo de Funchal ao Convento de São Francisco, no século 18, e da Biblioteca Pública de São Paulo (1825).
Maria Lúcia comenta que a segunda teve forte influência da disputa entre as províncias brasileiras para conseguir uma universidade pública em seu território, e por isso “o presidente da Província de São Paulo resolveu investir em educação e cultura para que São Paulo tivesse chance com a academia”.
A Faculdade de Direito de São Paulo começou a funcionar nas dependências do Convento São Francisco em 1827. Em 1934, com a criação da Universidade de São Paulo, a Biblioteca da Faculdade de Direito passou por reforma e se instalou no local atual.
A reorganização dos livros foi feita por Sergio Milliet da Costa e Silva. Ele foi o primeiro secretário geral da USP e participou da Semana de Arte Moderna de São Paulo.
Uma das raridades da Biblioteca é justamente o livro "O Que É e o Que Deve Ser a Biblioteca Pública", do autor mineiro José Guimarães Menegale, que enviou a obra com dedicatória a Milliet, durante a construção do prédio no Largo São Francisco.
Outro destaque da Biblioteca são obras da Tipografia Arco do Cego, que remonta à relação com os franciscanos. A editora, dirigida por frei Veloso, foi muito importante entre 1799 e 1801, mas possui poucos exemplares disponíveis no Brasil.
A Biblioteca possui um exemplar do "Anno Biographico Brasileiro", de 1876, livro que representou o Brasil na Exposição Universal, realizada naquele ano na Filadélfia, nos Estados Unidos, fato conhecido por conta de uma carta da época, presente no fim da obra.
Além de cartas, dedicatórias e datas de publicação, as etiquetas também revelam informações sobre um livro. “Com uma etiqueta, é possível estabelecer uma linha de pensamento com o comércio livreiro: rastrear o percurso do livro, quem comercializou, quem o fez”, explica Maria Lúcia.
Ela completa: “Alguns percursos mostram como a biblioteca realmente não se resume a São Paulo. Por exemplo, ela conserva livro encomendado do Maranhão”.
Um dos selos de destaque da Biblioteca é o que diz respeito à encadernação imperial, limitada a poucos encadernadores que podiam utilizá-la.
Para analisar a mudança de valores através dos livros, a chefe técnica da Biblioteca apresenta a obra "Como Uma Mulher se Perde – Memórias d’Uma Pecadora", que data de 1880.
“Hoje em dia é absurdo, mas esse era o pensamento da época.” Ela conta que outro exemplar do livro só foi encontrado na Biblioteca da Universidade Federal do Pará.
Maria Lúcia pontua que “as bibliotecas são relevantes por ser um espaço de inúmeras fontes de pesquisa, que apresentam certificado de autenticidade e têm a dinâmica interessante em que um autor cita o outro”, sendo possível estabelecer muitas relações pertinentes.
A Biblioteca da Faculdade de Direito da USP atualmente é dividida em quatro espaços. A Biblioteca Central é aberta ao público de segunda a sexta-feira das 8 às 21 horas, com empréstimo para a Comunidade USP.
A única restrição é feita para obras especiais e fragilizadas, por conta da preservação. O acesso a essas obras pode ser feito com o intermédio de funcionários da biblioteca, além de algumas obras estarem disponíveis em formato digital. Para mais informações, acesse o site.
Ir ao siteTexto: Caroline Aragaki
Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens
Diagramação: Beatriz Abdalla/Jornal da USP
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