Peça de Plínio Marcos censurada pela ditadura militar recebe leitura dramática

Apresentada uma única vez, em 1965, antes de ser vetada pela censura, Reportagem de um Tempo Mau será tema de debate no dia 25 de junho

 23/06/2016 - Publicado há 8 anos
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Plinio Marcos - Foto: Oficina Cultural Pagú
Plinio Marcos – Foto: Oficina Cultural Pagú

Reportagem de um Tempo Mau, peça de Plínio Marcos censurada pela ditadura militar (1964-1985), será tema de debate e leitura dramática no dia 25 de junho, sábado, às 14 horas, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo. O evento faz parte do projeto Censura em Cena, que tem como objetivo entender como a censura interferiu na produção artística e os impactos disso na atualidade. O projeto é coordenado pelo Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) da USP, que vem realizando debates e leituras dramáticas de peças censuradas durante a ditadura militar no Brasil, hoje pertencentes ao Arquivo Miroel Silveira, mantido pela ECA.

Em sentido horário: Carlos Palma, Cristina Mutarelli, João Signorelli e Walter Breda - Foto: Divulgação
Em sentido horário: Carlos Palma, Cristina Mutarelli, João Signorelli e Walter Breda – Foto: Divulgação

“Temos feito essas exibições já há um certo tempo”, comenta a professora Renata Pallottini, dramaturga, pesquisadora e coordenadora das leituras dramáticas realizadas pelo Obcom. “Nós escolhemos um certo número de autores cujas peças foram proibidas pela ditadura na época em que foram apresentadas. Muitas peças foram vetadas durante esse período.”

Encenada uma única vez, em 1965, antes de ter sua exibição definitivamente proibida, a peça de Plínio Marcos é feita através de colagens de textos de vários autores (indo de Bertold Brecht à Bíblia) e aborda temas como as contradições e problemas sociais do período que sucede o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a exploração dos trabalhadores, o racismo, a repressão sofrida pela mulher em sua vida conjugal, a concentração de terras nas mãos de poucos e a hipocrisia moral da sociedade. Por tratar desses temas, a peça foi vetada.

Nós escolhemos um certo número de autores cujas peças foram proibidas pela ditadura na época em que foram apresentadas. Muitas peças foram vetadas durante esse período.”

Nelson Rodrigues - Foto: Divulgação
Leitura dramática de obra de Nelson Rodrigues promovida pelo Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da ECA – Foto: Divulgação

Nascido em Santos (SP), o ator, diretor e jornalista Plínio Marcos (1935-1999) escreveu mais de 30 peças de teatro – compostas, principalmente, durante a ditadura militar –, sendo um dos primeiros dramaturgos a retratar a vida do “submundo” da cidade de São Paulo. Começou sua carreira aos 16 anos, no circo, como palhaço, porque queria namorar uma garota que trabalhava ali. Sua jornada no teatro começou por influência de Patrícia Galvão, conhecida como Pagu, que o incentivou a seguir carreira no meio teatral. Sua primeira peça foi Barrela, escrita em 1958, baseada em fatos reais ocorridos na cadeia, em Santos. No início da década de 1960, logo após ter se mudado para São Paulo, o escritor participou da criação do Centro Popular de Cultura da União Nacional do Estudantes (UNE).

Por apresentarem uma linguagem forte e tratar de temas marginalizados à época, como a homossexualidade, as peças de Plínio Marcos foram duramente perseguidas por censores e policiais. Um desses acontecimentos data do dia de estreia da peça Navalha na Carne (1967). A apresentação aconteceria no Teatro Opinião, em São Paulo. No entanto, o local foi cercado pelo Exército, que impediu a encenação da peça.

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Peças censuradas durante o regime militar, hoje guardadas no Arquivo Miroel Silveira, da ECA – Foto: Divulgação

Com o fim da censura, o escritor continuou a produzir romances e peças e tornou-se palestrante, ministrando mais de 150 conferências por ano. Suas peças receberam traduções e encenações em francês, espanhol, alemão e inglês. Foram estudadas em teses ligadas a diferentes áreas do conhecimento, como a sociolinguística, a filosofia e a psicologia.

Segundo Renata Pallottini, a peça Reportagem de um Tempo Mau foi escolhida por ser pouco conhecida. “As peças mais conhecidas do Plínio são refeitas, remontadas, enfim, há mais possibilidades de vê-las. Já essa peça ficou praticamente escondida. Então aproveitamos para tirá-la do anonimato.”

No debate após a leitura dramática da peça, será analisado o processo de censura pelo qual a obra passou. A mesa de conversa contará com a professora Mayra Rodrigues Gomes, do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, Oswaldo Mendes, autor de Bendito Maldito – Uma biografia de Plínio Marcos, Rafael Macedo, pesquisador do Obcom, e a professora Maria Cristina Castilho Costa, coordenadora do Obcom.

 

 

 

 

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A leitura dramática e o debate sobre a peça Reportagem de um Tempo Mau, de Plínio Marcos, serão realizados no dia 25 de junho, às 14 horas, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc (Rua Dr. Plínio Barreto, 285, 4º andar, Bela Vista, em São Paulo). A entrada é grátis, mas é preciso fazer inscrição no endereço eletrônico

https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/censura-em-cena-reportagem-de-um-tempo-mau

 

 

 

 

 


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