Os modernos voltam a se encontrar

Tarsila, Di Cavalcanti, Brecheret, Volpi, Rebolo e Bonadei, entre outros, estão reunidos na nova mostra do MAM

 01/02/2017 - Publicado há 7 anos
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Tarsila do Amaral: A obra Santa Irapitinga do Segredo, de 1941 presente na exposição inaugural da Galeria - Acervo Artístico Cultural: Palácios do Governo do Estado São Paulo
Tarsila do Amaral: A obra Santa Irapitinga do Segredo, de 1941, presente na exposição inaugural da galeria – Acervo Artístico Cultural: Palácios do Governo do Estado São Paulo

Um importante ponto de encontro de artistas, críticos, jornalistas que movimentou a história da cultura paulistana está de volta. Setenta anos depois de sua fundação, a Galeria Domus, que impulsionou a arte na metrópole, é lembrada em livro e exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Com a autoria e curadoria de José Armando Pereira da Silva, a edição e a mostra reúnem obras de Tarsila do Amaral, Lívio Abramo, Alfredo Volpi, Mario Zanini. Aldo Bonadei, Tomoo Handa, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Rebolo, entre outros. E documentam também a participação dos críticos Maria Eugênia Franco, Sérgio Milliet, Ciro Mendes e Lourival Gomes Machado, do jornal O Estado de S. Paulo.

A mostra O mercado de arte moderna em São Paulo: 1947-1951, a ser inaugurada no próximo dia 7 de fevereiro, resgata o bom tempo da arte brasileira, quando artistas, críticos, curadores, jornalistas se reuniam para abrir caminhos para a cultura na metrópole. “A Galeria Domus, em seus cinco anos de existência, promoveu 91 exposições, fato que não encontrei registrado em nenhuma obra de história da arte brasileira”, argumenta o curador.

Alfredo Volpi: Paisagem de Itanhaém, década de 1940. 1940 – Pintura: Reprodução
Alfredo Volpi: Paisagem de Itanhaém, década de 1940. 1940 – Pintura: Reprodução

Tanto o livro Artistas na Metrópole, Galeria Domus 1947-1951 como a exposição resultam da pesquisa atenta do jornalista e crítico Pereira da Silva, pós-graduado em Estética e História da Arte no Programa Interunidades da USP. “Meu principal objetivo foi reavivar as vozes daquela época, por meio de notícias, documentos, entrevistas, críticas biografias e memórias, resenhando cada exposição com o olhar contemporâneo.” O historiador buscou revelar os caminhos dos artistas, tentando avaliar até que ponto as escolhas da Domus cumpriram o papel de ser um local de arte moderna. “A pesquisa também reapresenta alguns artistas relegados ao esquecimento, que naquele momento tiveram seu papel e sua hora”, observa. “Certamente o aparecimento da Galeria Domus está em sintonia com um momento da história cultural de São Paulo, quando a cidade se consolida na condição de metrópole com polos dinâmicos de teatro, cinema e música.”

Marco zero da pintura moderna

Galeria Domus: Aspecto da exposição Pintores Italianos Modernos, 1947 – Foto: Reprodução
Galeria Domus: Aspecto da exposição Pintores Italianos Modernos, 1947 – Foto: Reprodução

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Espaço pioneiro movimentou a cultura da metrópole – Foto: Reprodução
Espaço pioneiro movimentou a cultura da metrópole – Foto: Reprodução

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A Galeria Domus foi fundada pelo casal de italianos Anna Maria e Pasquale Fiocca. Estava sediada no térreo do edifício Ana Paula Leite de Barros, na esquina da Praça da República com a Avenida Vieira de Carvalho. “Eles contaram com os empresários da família Matarazzo e outros importantes italianos para introduzi-los no circuito intelectual e artístico e na atividade de tecelagem que iriam desenvolver em paralelo”, conta Pereira da Silva. “O papel estratégico que a galeria desempenhou foi graças à simpatia dos donos em sua sensibilidade e coragem de acolher artistas modernos e apostar nos jovens.”

Waldemar Belisário: Descobrimento do Brasil_ óleo sobre tela da década de 1940 Coleção Ana Maria Barbosa de Faria Marcondes – Pintura: Reprodução
Waldemar Belisário: Descobrimento do Brasil, óleo sobre tela da década de 1940.
Coleção Ana Maria Barbosa de Faria Marcondes – Pintura: Reprodução

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Tomoo Handa: Colheita de Café, óleo sobre tela da década de 1940 Coleção familia Mabe – Pintura: Reprodução
Tomoo Handa: Colheita de Café, óleo sobre tela da década de 1940.
Coleção Família Mabe – Pintura: Reprodução

O público vai ter uma visão desse espaço pioneiro, chamado de “marco zero da pintura moderna” na mostra O mercado de arte moderna em São Paulo: 1947-51, integrada por 72 obras do acervo do MAM. O curador busca resgatar a exposição inaugural de fevereiro de 1948 apresentando, na sala Paulo Figueiredo, os trabalhos de Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Alfredo Volpi e Mario Zanini. Na sequência, é exibido o núcleo dos artistas imigrantes ou estrangeiros de passagem pela cidade, como Samson Flexor, Anatol Wladyslaw, Danilo Di Prete, Bassano Vaccarini, Ernesto de Fiori e Roger Van Rogger.

Em destaque também a mostra especial de Alfredo Volpi, Paulo Rossi Osir, Francisco Rebolo e Mario Zanini que, na época, tinha o objetivo de financiar uma viagem dos quatro à Europa. “Também é recordada uma exposição de 67 artistas para arrecadar fundos em prol da revista Artes Plásticas, que não passou da quarta edição”, lembra Pereira da Silva.

No final do percurso, são apresentados trabalhos de artistas representativos no acervo do MAM que estrearam na Domus, como Raphael Galvez e Emídio de Souza, além do carioca Oswaldo Goeldi, que apresentou seus trabalhos em São Paulo pela primeira vez na casa. Também são expostas seis obras de Lívio Abramo, artista de reconhecimento internacional e que tinha boa presença nas exposições da Galeria Domus. Vitrines com documentos, convites, catálogos, revistas, recortes e fotos cedidos por herdeiros dos proprietários e colecionadores transportam o público à metrópole da década de 1950.

“Hoje, 70 anos após a fundação da Domus, vivemos num mundo muito diferente, com reflexo no campo onde se movimentam críticos e artistas”, observa o curador. “A arte se internacionalizou e ganhou foros e formas naquela época inimagináveis. Talvez um artista sensível como Bonadei tenha intuído as grandes transformações que iriam ocorrer, quando dizia, a seu modo, que no futuro a arte seria filosófica.“

Exposição

O mercado de arte moderna em São Paulo: 1947-51, curadoria de José Armando Pereira da Silva. Inauguração no dia 7 de fevereiro de 2017, às 20 horas, até 30 de abril de 2017. Sala Paulo Figueiredo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera, Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3. De terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h); entrada: R$ 6,00 e gratuita aos sábados. Tel.: (11) 5085-1300. Site: www.mam.org.br

Livro

20170201_07_domusArtistas na Metrópole, Galeria Domus 1947-1951, de José Armando Pereira da Silva, editora Via Impressa Edições de Arte, 256 páginas. Preço: R$ 120,00.


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