Obras que marcaram a história das Bienais estão no MAC

Tarsila, Anita e Brecheret, entre outros nomes do Brasil e do exterior, ocupam o prédio do museu no Ibirapuera

 03/12/2018 - Publicado há 5 anos
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Escultura de Robert Muller, apresentada na 8ª Bienal de São Paulo, em 1965 – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

A passarela que liga o Parque Ibirapuera ao prédio do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP é a travessia para se conhecer a história da arte brasileira e internacional que se produziu desde 1951. Enquanto a 33ª Bienal Internacional de São Paulo apresenta Afinidades Afetivas reunindo cerca de 600 trabalhos e mais de cem artistas, o MAC traz o percurso dessa grande mostra – uma das mais importantes do circuito da arte internacional –  com as obras premiadas que marcaram a sua história e fazem parte do seu acervo.

Nessa ligação entre o passado e a atualidade, o público tem a oportunidade de presenciar os questionamentos e tendências da arte e dos artistas. Na exposição As Bienais e o MAC, todos podem apreciar as obras premiadas desde a primeira edição, em 1951. São telas e esculturas de artistas brasileiros e de diversos países que integram exposições que ocupam os sete andares do prédio.

A vice-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, professora Ana Gonçalves Magalhães – Foto: Cecília Bastos/ USP Imagens

A vice-diretora do MAC, professora Ana Gonçalves Magalhães, fala da importância dessas obras no acervo. “O MAC possui um conjunto grande de obras que vem do ambiente da Bienal dos anos 1950”, conta. “Essa presença deve-se ao sistema de premiação da Bienal na sua primeira década de existência, que distribuía prêmios regulamentares e os chamados prêmios de aquisição, em três categorias: pintura, escultura e obra sobre papel.”

Segundo Ana, a categoria de premiação de aquisição foi, como ela própria define, explicitamente criada para a ampliação do acervo do nascente Museu de Arte Moderna de São Paulo, inaugurado por Ciccillo Matarazzo em 1948. “Ao receber o acervo do MAM, reunido ao longo da década de 1950, o MAC ganhou em torno de 1.250 obras, das quais sabemos hoje que 215 ingressaram no antigo MAM via premiação de aquisição”, observa. “Mas, além dessas pinturas e esculturas, outros artistas que receberam a premiação regulamentar acabaram também por doar suas obras para o acervo do MAM.”

Importante lembrar também as obras que Ciccillo Matarazzo adquiriu na Bienal de Veneza. “Ele era patrocinador de um prêmio de aquisição dessa mostra italiana que intitulou Museu de Arte Moderna de São Paulo”, observa a professora. “Disso resulta que praticamente metade do acervo que o MAC recebeu do MAM foi formado por obras que vieram da Bienal de São Paulo e da Bienal de Veneza.”

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As obras premiadas que vieram do MAM estão sempre presentes nas exposições organizadas pelo MAC. Em 2012, Ana apresentou uma seleção paralela à 31ª Bienal de São Paulo na exposição Um  Outro Acervo do MAC USP. “Essa mostra resultou num exercício de voltar às obras e aos artistas ali presentes para que fossem compreendidos como possibilidades abertas pela pesquisa artística, demonstrando que o acervo do antigo MAM estava em um diálogo aberto com o seu próprio tempo”, afirma. “Procurou-se privilegiar nomes e obras menos conhecidos atualmente, mas que em seu tempo constituíram elementos importantes na história da arte moderna.”

Estrada de Ferro Central do Brasil, de Tarsila do Amaral, foi prêmio de aquisição da Reitoria da USP na 1ª Bienal de São Paulo.”

Nessa peregrinação no MAC, percorrendo cada andar e apreciando cada exposição, o visitante vai resgatar e descobrir a história das Bienais e, especialmente, da arte moderna. Quando observar a famosa tela Estrada de Ferro Central do Brasil, apresentada na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, estará diante do quadro ícone do Manifesto e Movimento Pau-Brasil. É considerado uma das principais conquistas estéticas do Modernismo.

A curadora Ana Magalhães faz uma observação pouco divulgada: “Estrada de Ferro Central do Brasil, de Tarsila do Amaral, foi prêmio de aquisição da Reitoria da USP. Isso significa que, naquele momento, a Universidade patrocinou a compra de uma obra exposta na Bienal para o acervo do MAM”.

Outra obra que recepciona o visitante, logo no térreo, é A Soma de Nossos Dias, da artista, jornalista e poeta mineira Maria Martins. A escultura, que pode ser observada na sua extensão no mezanino, surpreende. Faz lembrar um esqueleto simulando o primitivo, as paixões, a vida e o humano. “Essa bela escultura ganhou o prêmio regulamentar de escultura brasileira na 3ª Bienal de São Paulo, em 1955”, explica Ana.

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Também no mezanino está a escultura monumental Cavalo, do italiano Marino Marini, de 1951, apresentada na 2ª Bienal, de 1953. “A peça não representa movimento, mas está imbuída de energia interna e primitiva. As patas afastadas e o pescoço estirado para o alto emanam força e determinação de confronto com o entorno. O despojamento de detalhes da figura converte-a em uma abstração, em símbolo”, comenta a crítica e professora Daisy Peccinini, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

O visitante tem à disposição, na recepção, um guia  indicando a localização das obras com o seu título, nome do autor e a sua participação na Bienal.”

O roteiro é tranquilo. O público aprecia as obras em exposição com a coordenação da equipe de curadores do MAC. Estão em espaços generosos, onde o visitante pode observar com atenção os detalhes das obras no contexto não só das Bienais como da exposição onde está integrada.

No terceiro andar, na exposição Reserva em Obras, está a obra Movimento, de Waldemar Cordeiro, apresentada na 1ª Bienal.  Um movimento expressado por linhas horizontais de diversas cores: vermelha, verde, amarelo, preto, cinza, que dialogam com a percepção e o olhar do espectador. “Neste andar está também O Muro, do austríaco Hundertwasser, da 5ª Bienal, em 1959. Há ainda Cantate Dominus, de Barbara Hepworth, também da 5ª Bienal”, sugere Ana. “No quarto andar, há o pintor espanhol Modesto Cuixart, de nosso acervo, além de outros artistas latino-americanos ali presentes, como Nemezio Antunes, Marta Colvin, José Luíe Cuevas, Villamizar, Omar Rayo e Peláez.”

No quinto andar, Ana aponta as obras de Jonathas Andrade, da Bienal de 2010, e Nino Cais, de 2012.  No sexto e sétimo andares, chama a atenção para Ídolo Hermafrodita, de Edoardo Paolozzi, da Bienal de 1963, Expansão Controlada, de César Baldaccini, da 9ª Bienal (1967), Codices Madrid, de Joseph Beuys, da 15ª Bienal (1979), Plano de Superfícies Moduladas, de Lygia Clark, da 4ª Bienal (1957), e  Cabeça Trágica, de Karel Appel, da 5ª Bienal (1959). “Há muitas outras obras para serem apreciadas. O visitante tem à disposição, na recepção, um folheto indicando a localização das obras com o seu título, nome do autor e a sua participação na Bienal. Todas as obras estão identificadas com uma etiqueta. Vale muito conhecer.”

A exposição As Bienais e o MAC está em cartaz de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254.

 

 

 

 


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