O sertão vai virar mar: Euclides da Cunha é homenageado na Flip

Autor é o grande destaque na 17ª Festa Literária Internacional de Paraty, que conta com docentes da USP

 12/07/2019 - Publicado há 5 anos
Paraty RJ 10 07 2019-Começa hoje na cidade de Paraty a flip17ª Festa Literária Internacional Foto Roberto Parizotti/Fotos Publicas
Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, durante a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip – Foto: Roberto Parizotti via Fotos Publicas

Publicado em 1902, Os Sertões, de Euclides da Cunha – escritor homenageado na 17ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que se realiza de 10 a 14 de julho -, é uma obra atual em razão de sua denúncia social. O livro classifica como “um massacre” a Guerra de Canudos (1896-1897), como ficou conhecido o confronto entre o Exército brasileiro e o movimento social e religioso liderado por Antônio Conselheiro no interior da Bahia, e traz críticas contundentes às políticas erradas e juízos equivocados feitos por políticos e militares sobre a natureza daquele movimento.

Essa avaliação é do professor brasileiro Leopoldo Bernucci, docente da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e um dos maiores especialistas em Euclides da Cunha. “O livro mostra como os políticos que decidiram mandar o Exército para Canudos estavam totalmente equivocados e não tiveram o tato e a sensibilidade de lidar com um fenômeno que era totalmente diferente daquilo que pensavam.” Formado em Letras pela USP em 1976, Bernucci lançou recentemente, pelas editoras Ateliê e Sesi-SP, uma edição revisada e ampliada de Os Sertões, com 928 páginas, cerca de 3 mil notas, índice de lugares e pessoas citadas no livro e iconografia, além de uma longa introdução.

A nova edição de Os Sertões, de Euclides da Cunha, organizada pelo professor Leopoldo Bernucci – Foto: Reprodução

A consciência ecológica de Euclides da Cunha também dá atualidade ao livro, segundo Bernucci. Em Os Sertões, o escritor cita um decreto do governo português, de 1776, contra o desmatamento que então ocorria em Pernambuco e na Bahia. “Ele aborda esse tema em dois subcapítulos de Os Sertões, intitulados Como se faz um deserto e Como se extingue um deserto, em que expõe uma visão científica e prática do problema – ele era engenheiro – e também propõe uma solução baseada em soluções que já haviam sido implementadas fora do Brasil.”

No dia 10 de julho de 2019, Leopoldo Bernucci foi entrevistado no programa Via Sampa, da Rádio USP (93,7 MHz), em que falou sobre a obra de Euclides da Cunha. Ouça no link acima a íntegra da entrevista.

A Universidade na Flip

Professores da USP estão entre os participantes desta edição da Festa Literária Internacional de Paraty que homenageia o autor de Os Sertões. A sessão de abertura da Flip, no dia 10, incluiu a palestra “Canudos”, proferida pela Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Walnice Nogueira Galvão. Autora de 12 livros sobre Euclides da Cunha – entre eles No Calor da Hora: A Guerra de Canudos nos Jornais, reeditado neste ano , Walnice também destacou, em sua palestra, a atualidade de Os Sertões. Segundo ela, a leitura da obra máxima de Euclides da Cunha permite entender melhor o que acontece com as camadas mais pobres da sociedade brasileira no século 21. “Os Sertões tem que ser lido todos os dias para que se entenda o que está acontecendo com os pobres do País”, afirmou ela na sessão de abertura da Flip.

Neste sábado, dia 13, às 12 horas, no Auditório da Matriz, o professor Ismail Xavier, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, participa da sessão intitulada “Monte Santo”, que vai tratar da representação do sertão no cinema. Na ocasião, Xavier – autor de Sertão Mar: Glauber Rocha e a Estética da Fome – vai debater o tema com o cineasta português Miguel Gomes, que atualmente dirige o longa-metragem Selvajaria, uma adaptação livre de Os Sertões.

Ainda no dia 13, às 15h30, também no Auditório da Matriz, o músico, compositor e professor da FFLCH José Miguel Wisnik coordena a sessão “Poço de Cima”, que terá a participação da atriz, dramaturga e diretora mineira Grace Passô.

O professor Leopoldo Bernucci, em entrevista na Rádio USP, no dia 10 de julho – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

A Flip contou ainda com as presenças do professor Guilherme Wisnik, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e colunista da Rádio USP (93,7 MHz), que no dia 11, ao lado da cantora Adriana Calcanhoto e do arquiteto português Nuno Grande, debateu arquitetura, urbanismo, literatura e música. Também no dia 11, José Miguel Wisnik falou sobre seu mais recente livro, Maquinação do Mundo: Drummond e a Mineração (Companhia das Letras, 2018).

Nesta quinta-feira, dia 12, o quadrinista Marcelo D’Salete, professor da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, conversou sobre a cultura afro-brasileira com a ativista Marcela Cananéa, do Fórum de Comunidades Tradicionais. Ainda nesta quinta, a professora da FFLCH Lilia Schwarcz falou sobre a mulher na sociedade contemporânea com as escritores Ayelet Gundar-Goshen, de Israel, e Ayòbámi Adébávò, da Nigéria.

Literatura, cinema, progresso e patrimônio cultural

Professores da USP também participam de um evento paralelo à Flip, a Casa Edições Sesc, que promove o lançamento de dez livros publicados por aquela editora. Um deles é Ecos do Brasil: Eça de Queirós, Leituras Brasileiras e Portuguesas, organizado pelo professor da FFLCH Benjamin Abdala Jr., lançado no dia 11. Essa obra foi analisada pela professora Marisa Midori, em sua coluna Bibliomania, na Rádio USP (ouça aqui).

O escritor Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, publicado em 1902 – Foto: Arte sobre foto/Wikipedia Commons

Também no dia 11, houve o lançamento de Mutações: Dissonâncias do Progresso, obra que reúne ensaios de vários autores sobre o descompasso entre progresso material e valores éticos. O evento incluiu debate com os professores Eugênio Bucci, da ECA, e Guilherme Wisnik, mediado pelo produtor cultural Adauto Novaes.

Nesta sexta-feira, dia 12, às 17 horas, acontece o lançamento de Memória da Amnésia: Políticas do Esquecimento, com debate sobre patrimônio cultural com a professora da FAU e colunista da Rádio USP Giselle Beiguelman, a diretora do Museu Paulista da USP, Solange Ferraz, e o diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexander Kellner.

Já neste sábado, dia 13, às 15 horas, a Casa Edições Sesc recebe o professor Ismail Xavier para o lançamento do livro Ismail Xavier: Um Pensador do Cinema Brasileiro, organizado por Fatimarlei Lunardelli, Humberto Pereira da Silva e Ivonete Pinto. A obra traz ensaios de 12 pesquisadores do Brasil e do exterior, que abordam o pensamento de Xavier.


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