Novo livro de Renato Janine Ribeiro reflete sobre filosofia e pandemia

Nesta quinta, às 18h30, o professor da USP participa de uma live para discutir “Duas ideias filosóficas e a pandemia”

 14/12/2021 - Publicado há 2 anos
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Renato Janine Ribeiro, professor da USP e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – Foto: USP Imagens

O filósofo e cientista político Renato Janine Ribeiro, professor da USP e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), faz uma reflexão sobre o atual momento da pandemia causada pela covid-19 em Duas ideias filosóficas e a pandemia  (Estação Liberdade).

Para isso, o professor da USP lança mão de duas ideias que serão apresentadas também durante a live Compaixão e Ciência: Um debate sobre o novo livro de Renato Janine Ribeiro, que acontecerá ao vivo nesta quinta-feira, dia 16, às 18h30, no canal do YouTube (youtube.com/EditoraEstacaoLiberdade) e no Facebook (facebook.com/eeliberdade). Participam da discussão o autor e o filósofo e professor Nythamar de Oliveira, com mediação do editor Angel Bojadsen.

Para apresentar seu novo livro, Janine compara duas grandes tragédias: “Faz uns cem anos, a gripe dita espanhola matou de vinte milhões a cem milhões de pessoas, num planeta em que viviam cerca de dois bilhões: entre 1% e 5% da população. A pandemia de covid-19, até agora, apesar de já durar mais de um ano, sacrificou três milhões de seres humanos, isto é, menos de meio milésimo da população mundial — somos atualmente cerca de 7,8 bilhões, contra 1,8 bilhão em 1920. É um horror, mas menor”.  E continua: “O índice de 0,04% de nossos semelhantes, mortos em um ano, se compara ao de cerca de 3% de cem anos atrás, o que significa que a mortandade atual atinge — até agora — pouco mais do que um centésimo da causada pela gripe espanhola”.

Capa do livro Duas ideias filosóficas e a pandemia (Editora Estação Liberdade) 

E por quê?, questiona. Segundo o professor, “porque se cristalizou em nossos corações a convicção de que ninguém deve ser deixado para trás — pelo menos entre os humanos de coração”. Como ele compara, a taxa de mortes causadas pela gripe espanhola no Brasil foi baixíssima — talvez apenas trinta mil pessoas, num país de trinta milhões de habitantes à época, ou seja, um milésimo dos brasileiros, sendo a grande maioria no Rio de Janeiro e em São Paulo. E explica: “O mundo era muito menos globalizado do que hoje. Nosso vasto interior teria sido poupado, em ampla medida. Pessoas — e vírus, consequentemente — não viajavam tanto. Assim, embora fosse enorme o morticínio causado pela gripe espanhola mundo afora, foi bem menor do que teria sido se as redes de comunicação fossem rápidas como hoje”.

É a partir de duas ideias filosóficas que Janine reflete nas 96 páginas do livro sobre o atual momento pandêmico. A primeira: a compaixão, que, nas palavras do professor, devemos a Jean-Jacques Rousseau: “sem ela, desde 2020 não teríamos vivido – ou tolerado – um verdadeiro massacre”. E a segunda ideia, mais complexa, que vem de Marx: na qual “ele diz que a humanidade somente se propõe as tarefas que pode resolver”. Aqui, o professor lança várias questões: “O que isso significa, hoje? Que uma pandemia tão dura só se deu porque, graças à internet, temos, atualmente, meios de trabalhar a distância e meios de enfrentá-la, com tantas vacinas encontradas em questão de meses? Ou, ao contrário, que, à medida que progredimos, surgem inimigos mais poderosos, como o próprio coronavírus?”. Para ele, uma discussão difícil, mas necessária: “Discutir, pensar é necessário”.

Para Janine, a ideia de Rousseau é absolutamente central em seu pensamento: “Se tudo o mais dele desaparecesse e restasse apenas a piedade, teríamos ainda o essencial de Rousseau”. Já a frase de Marx, de que a humanidade se propõe apenas as tarefas que é capaz de resolver, pode ser discutida, independentemente de sua teoria política, diz o professor. O livro aborda, como diz Janine, “as mudanças nos valores, na ética e até mesmo na sensibilidade, nos modos de sentir a vida e o mundo, que tornaram, mais do que possível, imperativo ético o combate à pandemia, tal como tem sido conduzido em quase todo o mundo — infelizmente, não no Brasil”.

Além disso, Janine discute as modificações na ciência, na tecnologia, na prática, que viabilizaram esse mesmo enfrentamento. “Assim, começamos vendo como mudou o sujeito, isto é, como nós mesmos mudamos, assim como mudaram os fins morais que nossa espécie considera importante levar em conta”, informa, acrescentando que também são mostrados como se modificaram os meios, as ferramentas e os instrumentos. Como o professor afirma: “O tempo presente marca uma vitória, pelo menos relativa, da sabedoria, do saber e da ética, assim como da ciência e da tecnologia”.

Cartaz da live Compaixão e ciência: um debate sobre o novo livro de Renato Janine Ribeiro

A live Compaixão e Ciência: Um debate sobre o novo livro de Renato Janine Ribeiro acontecerá ao vivo nesta quinta-feira, dia 16, às 18h30, no canal do Youtube e no Facebook da Editora Estação Liberdade. Mais informações sobre o livro Duas ideias filosóficas e a pandemia neste link


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