Novo álbum de ex-professor da USP lembra poemas de cordel

“A Girassol”, de Paulo Iumatti, traz canções de ritmo trovadoresco, letra sobre o cangaço e desconstrói a noção de gênero

 24/01/2023 - Publicado há 1 ano
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Capa do álbum A Girassol, de Paulo Iumatti – Foto: Divulgação

 

O cantor e compositor Paulo Iumatti –  atual professor da Universidade Sorbonne Nouvelle e ex-vice-diretor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP – lançou o álbum A Girassol. Com dez músicas que incluem temas como o cangaço, a violência contra as mulheres e as transformações no meio rural, tendo letras que lembram cordéis, Iumatti criou os arranjos e as escritas em parceria com Álvaro Faleiro, livre-docente de língua francesa da USP, e com o músico Cassiano Nogara. O nome do álbum surgiu com a proposta de “trazer essa indefinição de gênero, perturbar a ideia de que temos uma essência masculina ou feminina nas coisas e nelas mesmas” explica o autor. 

Paulo Teixeira Iumatti – Foto: Arquivo pessoal

A primeira música de A Girassol é Antônio Silvino. Conta a história do cangaceiro mais conhecido nos primeiros anos do século 20. Ao som de cordas, contrabaixo acústico, teclado e percussão, Iumatti traz uma ambientação sonora trovadoresca para narrar a vida de Silvino que, ao ser preso, evangelizou-se. “Escolhi Antônio Silvino para abrir o álbum pela ressonância que a trajetória de um cangaceiro que se tornou crente acaba tendo no Brasil de hoje, em que tanto a questão das milícias como a do crescimento da população evangélica são tão fortes”, explica o compositor. 

Silvino foi perdoado por Getúlio Vargas um ano antes do presidente trucidar Lampião. “O novo contexto histórico, como o nosso, permite iluminar figuras esquecidas no passado”, diz Iumatti. “Assim como o próprio passado revisitado permite uma iluminação do presente”, completa. A música propõe pensar quantos outros personagens foram e são importantes para a história, além das grandes estrelas.

Em A Girassol, música que nomeia o álbum, a proposta é levantar questões de gênero e da violência contra a mulher. A música brinca com a noção de tempo e a vontade de beijar a amada. A canção se articula com a realidade de Iumatti: “Girassol, para mim, prolonga-se também em ‘girassonia’, o que se transforma, aos meus ouvidos, em Vila Sônia – o bairro onde morei na minha infância e adolescência”, relembra.

O cantor conta que Emblema foi a música mais difícil de finalizar a composição: “A melodia principal é uma das mais antigas que criei, ainda quando adolescente; a letra teve várias versões, para as quais o Álvaro contribuiu”. “Pra mim nada é triste” é a frase que inicia e finaliza a música, narrando o processo de conhecer um novo amor, o que também inclui o fim desse amor e a dor com que se lida sozinho.

Com participação de Perla Bulhões, Ela disse não conta a história de uma donzela traiçoeira, que teria traído o rapaz. O empoderamento feminino é o destaque dessa canção, explica Iumatti. Por isso, convidar Perla para cantar era essencial. E a faixa seguinte segue o mesmo conceito. O processo criativo de Amora partiu da melodia, criada por Iumatti, para depois Álvaro Faleiro escrever a letra.

O álbum termina com Divisamos assim o adolescente. Com um ritmo mais jovial, a batida ganha força nos seus 48 segundos de introdução. A letra da canção traz diferentes momentos da juventude masculina, na tentativa de separar os homens. “A música que fecha o álbum veio de uma ideia antiga que fiz no contrabaixo, a partir do poema de Mário Faustino”, conclui.

O álbum A Girassol, de Paulo Iumatti, está disponível, desde  o dia 14 de outubro, nas principais plataformas digitais, como Spotify, Amazon Music, iTunes e Deezer

 

Ouça aqui a faixa Divisamos assim o adolescente:


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