Nova plataforma preserva sons históricos e “barulhos não ouvidos”

Lançado em dezembro, projeto de pesquisadores da USP reúne produções sonoras inéditas e de difícil acesso

 08/01/2020 - Publicado há 4 anos
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O logotipo do selo fonográfico digital Berro – Foto: Divulgação: Bandcamp/Berro

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Foi lançado oficialmente, no final do ano passado, o selo fonográfico digital Berro, uma iniciativa do Núcleo de Pesquisas em Sonologia (NuSom) do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, coordenado pelo professor Fernando Iazzetta. A nova plataforma digital pode ser acessada neste link.

Berro tem o objetivo de disponibilizar “barulhos não escutados, paisagens sonoras diferentes, músicas desconhecidas e sons históricos”, como se lê no site do projeto, todo em inglês. “A ideia é que seja algo bem despojado, servindo inclusive para publicar material que não tem apelo comercial”, afirma o professor Iazzetta. “Estamos tentando resgatar coisas que achamos importantes culturalmente. Dar um grito para que essas músicas e artes sonoras sejam ouvidas.”

O livro de Fernando Iazzetta e Rui Chaves, que inspirou as primeiras publicações do selo fonográfico Berro – Foto: Reprodução

A primeira publicação disponibilizada por Berro foi o álbum Make it Heard, em três volumes, que apresenta sons produzidos por diferentes artistas. No primeiro volume, por exemplo, encontram-se 11 obras sonoras compostas por Cildo Meireles, Lílian Campesato e Rogério Duprat, entre outros. O segundo volume traz dez obras, como o Poema de Repetição, de Paulo Bruscky, e 5 Peças para Microvocalidades, de Flora Hoderbaum. Já no terceiro volume ouvem-se cinco obras de artistas como Ricardo Basbaum, Leandra Lamert e Alexandre Fenerich.

“A ideia é mostrar um conteúdo com repertório que raramente está disponível de maneira organizada como essa”, informa Iazzetta. “No site, nós publicamos informações sobre cada trabalho, ao lado de uma pequena biografia do artista, e é possível relacionar o trabalho de um artista com o de outro.”

Um panorama da arte sonora

Make it Heard, volume 1, disponível em Berro – Foto: Divulgação: Bandcamp/Berro

Os três volumes de Make it Heard somam 26 trabalhos, realizados entre 1968 e 2019. “É realmente um panorama da produção em arte sonora, que é um campo que transita entre a música e as artes visuais. São obras que tradicionalmente não são consideradas como música.”

A curadoria do projeto é do professor Iazzetta e do artista sonoro e pesquisador português Rui Chaves, que fez seu pós-doutorado na ECA, tendo Iazzetta como tutor. Os dois definiram os 26 trabalhos presentes nos três álbuns, todos baseados no livro que Iazzetta e Chaves lançaram em dezembro passado, Making it Heard: a History of Brazilian Sound Art, publicado em inglês pela editora britânica Bloomsbury Academic.

Make it Heard, volume 2 – Foto: Divulgação: Bandcamp/Berro

O livro traz uma coletânea de artigos que dão uma visão nacional e latino-americana da arte sonora, uma área de estudos dominada por uma perspectiva europeia, segundo Iazzetta. “Tentamos fazer uma história local através de uma perspectiva daqui. Este livro é de arte sonora, mas não tem nada de som nele. Usamos o lançamento do Berro para fazer os três volumes, que são basicamente exemplos do que está no livro, com os fonogramas, obras dos autores que de alguma maneira estão mencionadas no livro.”

Novas publicações

Iazzetta destaca que, ainda no primeiro semestre deste ano, deverá ser postado no selo Berro o quarto volume de Make it Heard, incluindo obras que ficaram de fora dos três volumes iniciais.

O volume 3 de Make it Heard – Foto: Divulgação: Bandcamp/Berro

Outro lançamento do selo fonográfico, previsto para abril, serão obras da Orquestra Errante. “Essa é uma orquestra que chamamos de improvisação livre, não temática, que às vezes não produz nem notas, apenas sons, além de não ser ligada a um gênero ou estilo musical, como jazz e samba. São músicos que tocam há mais de dez anos e que fazem parte do NuSom.”

O professor também anuncia para breve o lançamento, no selo Berro, de CDs produzidos pelo selo Lami, feitos nos últimos 15 anos e contendo música de câmara brasileira. “Muitos desses CDs, que já não estão no mercado, incluem obras importantes do repertório brasileiro que foram gravadas pela primeira vez. A ideia é relançar aos poucos os CDs do Lami, com o objetivo de fazer um resgate histórico dessa produção.”

O selo fonográfico Berro está disponível no endereço https://berro-nusom.bandcamp.com.


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