Nova mostra do Cinema da USP põe em cena emoção e sentimentalismo

Até 28 de maio, “Melodrama: Cinema de Lágrimas” apresenta 19 filmes de um gênero marcado pelo pitoresco

 04/05/2023 - Publicado há 12 meses
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Banner da mostra "Melodrama: Cinema de Lágrimas", do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) - Foto: Reprodução/Cinusp

Suspiros de alegria ou tristeza da plateia são esperados na nova mostra do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp). Até 28 de maio, Melodrama: Cinema de Lágrimas exibirá 19 filmes que prometem emocionar os espectadores. “O melodrama é um gênero que, entre outras coisas, se caracteriza pelo pitoresco. Por isso mesmo, o exagero, o conflito e o sentimentalismo são tão presentes nesses filmes”, explica Clara Barra, curadora do Cinusp.

O gênero não é próprio do cinema. Ele já existiu no teatro popular, na ópera e na novela de folhetim. Hoje, o adjetivo “melodramático” é utilizado de forma pejorativa, conta a curadora. Por isso, o objetivo da mostra é apresentar um panorama amplo do gênero ao longo dos anos, mas também reabilitá-lo aos olhos do público. “Valorizar o gênero em sua história é também valorizar essa emoção que é tão presente no nosso imaginário e no nosso presente”, defende Clara Barra.

“A sensibilidade de ver algo exagerado, melodramático, e não ser cínico e rir, mas sim se desarmar e chorar, é algo central para nós na mostra”, diz a curadora.

O primeiro filme a ser exibido é de Douglas Sirk, conhecido como o “príncipe do melodrama”. Em Tudo o Que o Céu Permite (1955), o romance entre uma viúva e um jardineiro de diferentes classes sociais é o centro de uma trama de egoísmo, ciúmes e preconceito. Na segunda sessão do filme, em 17 de maio, às 19 horas, ocorrerá um debate com o crítico de cinema e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Ismail Xavier.

A viuvez também está presente em outras histórias, como na de uma família do sul da Itália que migra para Milão após a morte do pai. Em Rocco e Seus Irmãos (1960), uma mãe viúva e seus cinco filhos enfrentam as dificuldades financeiras da mudança para a cidade, enquanto dramas internos ameaçam a união familiar. Já em Tormento (1964), de Mikio Naruse, a protagonista se apaixona por seu cunhado após perder o marido em um bombardeio na Segunda Guerra Mundial.

Imitação da Vida (1959) é outro filme de Douglas Sirk que integra a mostra. No longa-metragem, a vida de duas mães e as dificuldades de relacionamento com suas filhas compõem o enredo. Por um lado, a busca pela fama de Lora Meredith é um obstáculo para se aproximar de sua filha e, por outro, Annie Johnson sofre com o racismo de sua filha, que não aceita suas origens afro-americanas. Um debate sobre o filme acontecerá com Luiz Carlos de Oliveira Júnior, professor do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 23 de maio, após a sessão das 19 horas.

Em Era Uma Vez em Tóquio (1953), de Yasujirō Ozu, a complicada relação entre pais e filhos também é encenada. No filme japonês, pais idosos viajam a Tóquio para visitar os filhos, que os negligenciam por falta de tempo. Em 9 de maio, às 19 horas, o documentarista Alexandre Kishimoto estará presente para debater o filme com os espectadores.

Dois filmes da mostra abordam relações de amor interrompidas pela guerra. No soviético Quando Voam as Cegonhas (1957), de Mikhail Kalatozov, o alistamento para a Segunda Guerra Mundial separa dois amantes e dá início a uma história que mistura otimismo e decepção. Já em Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), de Jacques Demy, uma mulher grávida é separada de seu companheiro em razão do alistamento para a Guerra da Argélia.

Durante a Primeira Guerra Mundial, uma mulher engravida de um piloto, mas o filho é adotado por outra família. Os diferentes estados emocionais dessa mulher são contados em um flashback de 30 anos no filme Só Resta Uma Lágrima (1946), de Mitchell Leisen.

O Direito do Mais Forte à Liberdade (1975), de Rainer Werner Fassbinder, narra um conflito de classes no romance de um integrante da classe trabalhadora com um homem burguês após ganhar na loteria. A Lei do Desejo (1987), de Pedro Almodóvar, é outro melodrama queer do século 20 que foi selecionado pela curadoria.

O filme mais antigo da mostra, Aurora (1927), de F. W. Murnau, apresenta o tédio do casamento de um homem ser abalado quando ele é seduzido por uma mulher que tenta convencê-lo a afogar a esposa. Já o mais recente, A Vida Invisível (2019), de Karim Aïnouz, acompanha a forma como a opressão masculina sofrida ao longo da vida de duas irmãs cariocas afeta suas relações, sexualidades e sonhos.

A Separação (2011), de Asghar Farhadi, é outro filme do século 21 que será exibido. O melodrama é sobre um casal iraniano que deseja se divorciar por causa de um impasse: a esposa almeja sair do país com a filha, mas o marido se recusa por não querer deixar para trás o seu pai doente.

Histórias de amor com um pano de fundo político são exploradas em dois filmes da mostra. Enamorada (1946), de Emilio Fernández, apresenta um romance durante a Revolução Mexicana, quando um general ocupa uma cidade inimiga e se apaixona pela filha de um homem rico. A Casa e o Mundo (1984), de Satyajit Ray, foca a formação de um triângulo amoroso, quando uma mulher casada se aproxima romântica e politicamente do líder de uma rebelião econômica.

Uma Rua Chamada Pecado (1951), de Elia Kazan, explora como o desejo e a repulsa simultâneos causam o desgaste da relação entre uma mulher e seu cunhado. Em Desencanto (1945), de David Lean, uma mulher casada narra em retrospecto a relação de amor fracassada com seu amante.

Os espectadores ainda podem conferir sessões de Titanic (1997), de James Cameron, e Cane River (1982), de Horace B. Jenkins.

A mostra Melodrama: Cinema de Lágrimas, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), está em cartaz até 28 de maio, de segunda a sexta-feira, com sessões às 16 e às 19 horas, nas salas do Cinusp no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 258/294, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.


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