A nova edição da Revista USP traz ainda um artigo sobre as ameaças à liberdade de imprensa que seguem operando mesmo sem a existência de uma censura oficial. Assinado pela professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Carla Risso e pelo editor de Cultura do Jornal da USP Marcello Rollemberg, o texto elenca episódios recentes de censura, ameaça e desmoralização da imprensa, com atenção especial para o tratamento que políticos da extrema direita dispensam aos jornalistas e meios de comunicação.
Mesmo com o fim da censura oficial no País, a partir da Constituição de 1988, os autores apontam que a cultura censória permanece em voga, materializando-se em processos judiciais, boicotes financeiros ou vetos a mensagens publicitárias estatais. Além disso, ataques diretos ou provocações feitas por autoridades – como o tratamento que Jair Bolsonaro dispensou aos jornalistas ao longo de seu mandato – são avaliados pelos pesquisadores como perigosos para a manutenção da democracia, já que colocam em xeque um de seus pilares, a liberdade de imprensa.
“Sem uma imprensa livre, o que sobra é o autoritarismo – ou pior, o totalitarismo, a repressão, as bocas caladas, as mentes embotadas e os corações travados”, escrevem os autores.
Outra contribuição ao volume vem do professor da ECA Jean Pierre Chauvin, que trata do consumismo na sociedade contemporânea. Chauvin analisa os aspectos psicológicos e sociais da ascensão dos shopping centers e dos hipermercados e investiga os mecanismos da mentalidade e do discurso de consumo. O autor reconstrói a arquitetura dos templos de consumo e faz a leitura dos comportamentos instigados pela lógica do mercado, que criam “superclientes” e fazem emergir a “fala consumista”.
“Para os adeptos e praticantes do hiperconsumismo, as compras perfazem a plenitude possível”, escreve Chauvin. “Trabalhar até a exaustão passa a ser percebido como chancela nobre e critério nobilitante, capaz de explicar o gasto desenfreado a reboque do salário (ou do novo endividamento via cartão de crédito). Mesmo quando isso acontece, o consumo costuma ser descrito como recompensa moral, mas também funciona como uma espécie de muleta emocional.”
Completam a edição um resumo da biografia artística de Cândido Portinari, assinado pela professora da ECA Elza Ajzenberg, e resenhas dos livros A Economia Brasileira Como Ela É (J. Carlos de Assis), Os Diabos de Ourém (Maria Luiza Tucci Carneiro) e de uma nova edição de A Carta de Pero Vaz de Caminha.
Revista USP, número 139, publicação da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, 190 páginas. Disponível neste link.