Música caipira ganha destaque com o violeiro Ivan Vilela

Professor da USP recebe homenagem da Assembleia Legislativa por sua trajetória em favor da cultura popular

 06/05/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 18/05/2022 as 18:29
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Placa entregue pela Assembleia Legislativa de São Paulo ao professor da USP Ivan Vilela da Foto: Arquivo pessoal

 

No dia 29 de abril, o violeiro Ivan Vilela – professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – recebeu uma comenda da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A honraria foi concedida a Vilela “por todo trabalho realizado em prol da música e cultura caipira”, como se lê na placa que o violeiro recebeu dos deputados paulistas. Trata-se de um reconhecimento da trajetória do compositor, arranjador, pesquisador e professor da USP que tem se dedicado há mais de 20 anos ao estudo da cultura popular. Seus trabalhos em favor da música e da cultura caipira incluem a gravação de CDs, a organização de festivais, a abertura do curso de Bacharelado em Viola na USP, a publicação de artigos, orientações na pós-graduação e o lançamento, em 2015, do livro Cantando a Própria História – Música Caipira e Enraizamento (Editora da USP), como Vilela elencou em sua conta no Facebook ao agradecer pela distinção. Além disso, o violeiro fundou, em 2001, a Orquestra Filarmônica de Violas, que, no mesmo evento realizado no dia 29 de abril, recebeu o Prêmio Inezita Barroso – uma iniciativa da Alesp -, que homenageou, no total, 20 artistas e grupos ligados à música caipira (confira neste link a relação completa dos premiados).

O violeiro e professor da USP Ivan Vilela – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Com origem na Resolução 910/16, da Alesp, a premiação tem a finalidade de homenagear o gênero musical que nasceu das modas de violas comuns entre interioranos que se reuniam em rodas para contar histórias e ouvir cantigas. Ganhou o nome de Inezita Barroso (1925-2015), primeira mulher a gravar música caipira, que, além de ter sido uma das maiores intérpretes do gênero, foi atriz, instrumentista, bibliotecária, folclorista, professora e apresentadora de rádio e televisão. A cada edição, recebe indicações de artistas e personalidades que se destacaram na sociedade pela contribuição à música caipira de raiz e qualquer outra forma genuinamente popular, e premia os indicados com uma estatueta e um diploma de reconhecimento.

No Brasil, Vilela já foi agraciado com outras honrarias, como o Prêmio Ibac de Cultura Brasileira (2009), pela inserção da viola brasileira no ensino universitário, a Medalha Carlos Gomes, da Secretaria de Cultura de Campinas (2002), o Prêmio Sharp e o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Mas suas incursões pela cultura caipira não ficam só no País, e estão ganhando a Europa. Licenciado da USP, o professor foi contratado pela Universidade de Aveiro, em Portugal, e, além de pesquisas acadêmicas, fez vários concertos, retornando ao Brasil no final do ano passado, após três anos na Europa.

Assista no link abaixo à apresentação de Ivan Vilela na Escola Superior de Música Franz Liszt, em Weimar, na Alemanha, em dezembro de 2020.

Vilela tocou viola caipira em países como França, Itália, Inglaterra e Espanha. Em maio de 2020, apesar das restrições impostas pela pandemia de covid-19, ele se apresentou no Mosteiro da Batalha, em Portugal, por ocasião de uma conferência sobre a Idade Média. Em dezembro daquele mesmo ano, deu concerto na Escola Superior de Música Franz Liszt, em Weimar, na Alemanha, em comemoração aos dez anos da Cátedra Unesco de Estudos Musicais Transculturais.

Assista no link abaixo à apresentação de Ivan Vilela no Mosteiro da Batalha, em Portugal, em maio de 2020.

Uma trajetória dedicada à viola

Caçula de uma família de 11 filhos, nascido em Itajubá (MG) em 1962, Ivan Vilela ganhou seu primeiro violão do pai ainda criança e iniciou sua carreira artística aos 18 anos, em grupos que faziam pesquisas sobre as raízes da música mineira. Em 1989, ele se mudou para Campinas (SP) e seis anos depois assumiu a viola caipira como instrumento solo. Cursou História antes de ingressar no curso de Composição Musical da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde conclui o bacharelado em 1994 e o mestrado em 1999. Em 2011, obteve o doutorado em Psicologia Social pela USP com a tese Uma História Social da Música Caipira.

Foi o idealizador da Orquestra Filarmônica de Violas, que criou em 2001, em Campinas, com a proposta pioneira de aplicar arranjos orquestrados para um grupo instrumental formado somente por violas caipiras. O o trabalho da orquestra já foi registrado em dois álbuns, lançados em 2005 e 2011, e um terceiro disco está em execução. Além de ter dirigido a Filarmônica de Violas – atualmente sob a direção de João Paulo Amaral –, Vilela também é o idealizador da ONG Núcleo da Cultura Caipira. Seu pioneirismo continua na criação do Bacharelado em Viola Caipira, no campus da USP de Ribeirão Preto (SP), abordando a história do instrumento desde sua chegada ao Brasil, no século 16, até os dias atuais, e todos os seus usos, do mais popular ao mais erudito. Com cinco pares de cordas de arame, a viola caipira é conhecida também como viola brasileira e é originária da região de Braga, em Portugal.

“É uma homenagem justíssima”, afirma o professor Alberto Ikeda, do Programa de Pós-Graduação em Música da ECA, a respeito da comenda recebida por Vilela.


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