Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Museu do Ipiranga inaugura três exposições no Metrô de São Paulo

Peças do acervo estarão expostas nas estações Luz, Sé e República a partir desta sexta-feira, dia 20

 18/05/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 06/09/2022 as 16:49

Texto: Claudia Costa

Arte: Adrielly Kilryann

Após nove anos fechado, o Museu Paulista da USP – também conhecido como Museu do Ipiranga – já tem data marcada para reabrir suas portas ao público: 7 de setembro de 2022, em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil. Mas, enquanto o dia da reinauguração não chega, o museu preparou três exposições, que entram em cartaz nesta sexta-feira, dia 20, nas estações Luz, Sé e República do Metrô de São Paulo. Cada uma das estações vai receber uma mostra diferente. As exposições vão abordar a história do Museu Paulista, a formação da cidade de São Paulo e o quadro mais famoso do acervo do museu, Independência ou Morte, de Pedro Américo. As mostras são gratuitas e permanecerão em cartaz até 19 de junho, integrando a programação da Linha da Cultura do Metrô. O horário de visitação acompanha o de funcionamento das estações.

Segundo a professora Solange Ferraz de Lima, docente do Museu Paulista e curadora de duas das três exposições, as mostras têm características diferentes, mas seguem o mesmo princípio: divulgar as coleções do museu, que cobrem um amplo espectro da sociedade brasileira, do final do século 19 até o século 20, e os estudos de pesquisadores que fazem uso desses acervos para produzir conhecimento histórico sobre o Brasil.

Museu público mais antigo de São Paulo e também um dos mais antigos do País, o Museu Paulista passa agora a assumir como sede o Edifício do Ipiranga – a outra sede é o Museu Republicano Convenção de Itu, localizado em Itu, no interior de São Paulo. “Esse edifício não foi construído para ser um museu, mas para ser um monumento. Com uma arquitetura palaciana, ao longo de sua centenária história não havia espaço para as exposições e para a guarda das coleções. Para a restauração e ampliação, nós retiramos todas as coleções, que estão acondicionadas em espaços provisórios. A ideia é que o edifício pudesse, de fato, se tornar sede para as exposições do Museu Paulista”, explica. “Nós assumimos que a instituição museológica centenária é o Museu Paulista, que tem esse nome desde o século 19 e, em 1963, se tornou o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mas a sua sede é esse monumento, o Edifício do Ipiranga”, reforça.

Solange Ferraz de Lima, presidente da Comissão de Cultura e Extensão do Museu do Ipiranga - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A professora Solange Ferraz de Lima - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A restauração do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo - Foto: Reprodução/Hélio Nobre

O Novo Museu do Ipiranga

Na primeira exposição, na Estação da Sé, o público irá conhecer um pouco mais sobre o Novo Museu do Ipiranga através de informações sobre o seu projeto e novos espaços: 49 salas expositivas, um auditório para 200 pessoas, sala de aula e o Educalab (para atividades educativas), além da reativação do mirante, loja e café, que praticamente dobraram sua área construída. A mostra parte do Observatório da Obra, um pavilhão de dois andares que foi instalado nos jardins do Parque da Independência – onde fica o museu -, em outubro de 2019, para mostrar o andamento da reforma. “Na medida exata em que as fachadas foram ficando restauradas, elas foram se descortinando”, lembra Solange, complementando que as imagens são acompanhadas de minidocumentários como Diário do Novo Museu. Como informa a professora, a coletânea de documentários esteve e estará acessível para todo o público. A acessibilidade, destaca, é uma característica de todas as exposições do museu, que são pensadas de forma inclusiva, utilizando recursos como libras, autodescrição e legendagem.

Essa exposição conta a história do próprio projeto, como ele foi pensado pelo escritório H+F, dos arquitetos Pablo Hereñú e Eduardo Ferroni, quais seus elementos mais importantes e seus desafios. “A ampliação que aconteceu na esplanada foi extremamente desafiadora do ponto de vista da engenharia, e o próprio restauro dos ornatos foi outro grande desafio”, conta a professora, informando ainda que foram montadas oficinas de estuque dentro do próprio canteiro de obras para dar conta desses restauros e refazer certos ornatos da fachada.

Há também imagens históricas do Edifício-Monumento – tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal –, desde sua construção, no final do século 19, até os dias atuais. “É muito interessante ver como o museu foi um vetor para a expansão urbana do bairro do Ipiranga”, afirma. Além disso, diz a professora, mostra ao longo do período como o bairro cresceu, inclusive com o processo de verticalização a leste da região. O público vai poder comparar as imagens e observar esse contraste entre o Museu do Ipiranga ainda isolado, em 1890, e as transformações que acontecem até 1940 e 1950, pontua Solange. E adianta que parte dessa exposição no Metrô integrará a mostra Para Entender o Museu, que fará parte da reabertura da instituição, em setembro.

Transformações de São Paulo

o Paulo – Território em Construção, presente na Estação Luz, propõe um mergulho nas paisagens da cidade desde o fim do século 19 até os dias atuais. Segundo a professora Solange, que também assina a curadoria dessa mostra, há alguns anos o museu vem investindo, de maneira significativa, em coleções de paisagens urbanas da capital paulistana. O passeio inclui as transformações de diversos cartões postais, como a Avenida Paulista, Pátio do Colégio, Avenida 9 de Julho (que comemorou 80 anos em 2021) e até locais que quase desapareceram, restando apenas resquícios, caso da Várzea do Carmo.

São imagens de Militão Augusto de Azevedo, retiradas de seu Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo (1887), que mostram a preocupação do fotógrafo em registrar os melhoramentos da cidade imperial; do suíço Guilherme Gaensly, editor de cartões-postais que registrou a São Paulo que se expandia, mostrando os primeiros bairros planejados da cidade, à semelhança de Paris; e do alemão Werner Haberkorn, também editor de cartões-postais da Fotolabor – de quem o museu adquiriu uma extensa e “importantíssima” coleção, como frisa Solange –, que cobre a urbanização desenfreada das décadas de 1940-50, mostrando a verticalização de São Paulo e sua metropolização ao estilo de Nova York.

Há ainda imagens de fotógrafos contemporâneos que registraram, além da Avenida Paulista – centro financeiro nas décadas de 70 e 80 -, a região da Berrini, “chamando a atenção para essa permanente cidade em transformação que é São Paulo, com todos os problemas urbanos que acarreta”, informa a professora.

Já a Estação República recebe a exposição A Independência do Brasil na Tela: Imaginando o Grito do Ipiranga, que convida o público a pensar sobre a imagem mais icônica do episódio histórico. O quadro Independência ou Morte, pintado em 1888 por Pedro Américo, ganha uma reprodução de 3m x 1,70m, e incluindo informações sobre o contexto histórico, recortes da tela com detalhamento e esboços da pintura, além de conteúdo em vídeo sobre o restauro realizado entre 2017 e 2022. Trata, ainda, da polêmica em torno do quadro, mostrando como o artista se inspirou em outras pinturas históricas, um expediente comum na época. “Quando visualizamos uma imagem, devemos sempre lembrar que ela é fruto de uma construção”, comenta o curador da exposição e professor do Museu Paulista, Paulo César Garcez Marins, em texto publicado no material de divulgação. Ele continua: “A exposição convida a refletir sobre o contexto da obra, para que estejamos mais preparados para desfrutá-la, totalmente restaurada, na reabertura do museu”.

As exposições são resultado de parceria firmada entre o Metrô e a USP, com apoio do Escritório de Desenvolvimento de Parcerias da USP.

Independência ou Morte, pintado em 1888, por Pedro Américo - Foto: Reprodução/Hélio Nobre

As exposições Novo Museu do Ipiranga (Estação Sé), São Paulo – Território em Construção (Estação Luz) e A Independência do Brasil na Tela: Imaginando o Grito do Ipiranga (Estação República) podem ser vistas a partir desta sexta-feira, dia 20, até 19 de junho, diariamente, das 4h40 à 0h00. Entrada grátis.


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