A mostra A Magia do Cinema, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), está em cartaz até 20 de dezembro (sexta-feira), em sessões às 16, 18 e 19 horas, nas salas do Cinusp instaladas no Centro Cultural Camargo Guarnieri da USP (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, São Paulo) e no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 258/294, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Higienópolis-Mackenzie e Santa Cecília do metrô). Entrada grátis. A programação completa da mostra e mais informações estão disponíveis no site do Cinusp.
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Mostra do Cinema da USP explora a magia dos filmes
De 2 a 20 de dezembro, A Magia do Cinema vai exibir 18 produções de diferentes épocas, gêneros, origens e estéticas
“Existe um aspecto do cinema, existente desde o seu princípio, que convida o espectador a acreditar em uma ilusão, mesmo que ela não queira se parecer com a realidade, mas como uma mistura entre espetáculo e ilusão. Chamamos isso de efeito não transparente.” É assim que o curador do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), André Quevedo, define A Magia do Cinema, a nova mostra do Cinusp, em cartaz a partir desta segunda-feira, dia 2. Até 20 de dezembro, serão apresentados filmes de diferentes gerações e origens, mas que se reconhecem no conceito de efeito não transparente. Ao todo, são 18 produções em cartaz, que permeiam tanto o início do cinema quanto o cinema de vanguarda europeu, o cinema brasileiro, o cinema asiático e até clássicos estadunidenses.
Além da exibição dos filmes, a mostra terá três eventos: uma apresentação, um debate e uma batalha. A apresentação precede a sessão de Céline e Julie Vão de Barco (Jacques Rivette, 1974), marcada para o dia 3, às 19h, que será feita pela professora Maria Chiaretti, pesquisadora do cinema de Rivette. O tema será a nouvelle vague, movimento ao qual a obra pertence. O debate também vai abranger esse movimento, mas sob a perspectiva da nouvelle vague tcheca. Será realizado após a sessão do dia 11 de Pequenas Margaridas (1966), da tcheca Věra Chytilová — prevista para as 19h. Pesquisadora do cinema tcheco, Luiza Delfino será a responsável pelo debate.
A batalha, por sua vez, vai acontecer no Instagram do Cinusp e vai consistir em uma votação na qual os internautas comentam qual filme eles preferem assistir dentre duas opções pré-selecionadas. Para esta mostra, a disputa será entre dois filmes do início do século dirigidos pelo estadunidense Robert Rodriguez: As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl em 3-D (2005) e Pequenos Espiões 3D (2003). Também curador da mostra, Theo Gama define os filmes como “infantis e lúdicos, que usam o efeito digital da forma menos transparente possível”. O filme mais citado nos comentários será exibido na sessão das 16h da quinta-feira, dia 12.
Sem sombra para dúvidas: ficção
Segundo Quevedo, A Magia do Cinema vem para “mostrar como o cinema é capaz de criar coisas que estão fora da realidade que conhecemos, mas de uma forma muito específica, que tem a ver com o próprio surgimento do cinema, em que há um elemento de truque um tanto quanto evidente”. Como exemplo dessa perspectiva, a mostra traz Viagem à Lua (Georges Méliès, 1902) e Viagem Fantástica (Richard Fleischer, 1966), uma “versão atualizada” de seu conceito. O curador destaque que, mais do que filmes com elementos fantásticos, a ideia é passar por produções que tenham, como ideia principal de montagem e edição, a plasticidade, a visualidade, o brilho, o lúdico, sem qualquer verossimilhança. “Eles não querem te convencer, mas criar um espetáculo. É diferente do que acontece nos filmes da Marvel, por exemplo, em que, embora os elementos não sejam realistas, o universo é coerente e mantém uma textura de realismo.”
Muitas das inovações no aspecto lúdico do cinema surgiram em obras que hoje são clássicos do cinema estadunidense. Como exemplos, Quevedo cita O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939) e Mary Poppins (Robert Stevenson, 1964). No primeiro, a magia da cor no modelo technicolor foi a chave: “O Mágico de Oz é um filme que se utiliza de fantasia, de efeitos especiais, de maquete, de cenários absolutamente não realistas, e também vai trabalhar a ideia da magia como truque na figura do personagem que vai ser buscado, o Mágico”. No segundo, o ponto principal acaba sendo a magia trazida para o mundo real e “chato” em que as crianças vivem, por meio da mistura entre animação 2D e live-action. “O filme se vale de filmagem reversa, como na cena em que a protagonista, interpretada por Julie Andrews, arruma a casa em um passe de mágica. Ainda pensando em clássicos, a mostra vai exibir Superman – o Filme (Richard Donner, 1978), com Cristopher Reeve, que se tornou referência no que seria um filme de super-herói clássico.
Mas não só de cinema comercial vive A Magia do Cinema. Quevedo ressalta que as vanguardas da década de 1920, relacionadas a movimentos artísticos como o surrealismo, o expressionismo e o abstracionismo, tinham uma tendência a elogiar o chamado cinema burlesco, de feiras populares, de atrações — que tem, como expoente, Charles Chaplin (1889-1977). “Então, não é um contrassenso encontrarmos traços dessa questão da atração, dos espetáculos, no cinema de vanguarda”, analisa.
Para abordar as vanguardas, além dos já citados Céline e Julie Vão de Barco e Pequenas Margaridas, a mostra traz uma sessão específica de filmes surrealistas, que conta com Entreato (René Clair, 1924) e Sangue de um Poeta (Jean Cocteau, 1932). Enquanto um é mais associado ao cinema dadaísta — com a aplicação dos efeitos pelos efeitos, sem qualquer lógica —, o outro tem na magia e no surrealismo seus pontos de destaque.
Embora tenham origem na Europa, o cinema de vanguarda e seus conceitos acabam se vendo representados em Labirinto do Cinema, último filme do diretor japonês Nobuhiko Obayashi. “É um filme que conta a história do cinema de guerra japonês, mas que é construído de uma forma totalmente vanguardista, com o uso de cenários mágicos, mistura de animação com live-action e a juntaposição de camadas gravadas em fundo verde”, explica Quevedo.
Ainda no espectro do cinema japonês, a mostra exibirá Godzilla vs. Hedorah (Yoshimitsu Banno, 1971). Parte de uma segunda leva de filmes do Godzilla, o longa em questão tem, no protagonista, alguém de quem o público infantil já gosta. Por isso, optou-se por criar um vilão para o Godzilla — Hedorah, um monstro de poluição. “E utiliza-se muito de maquete, de perspectiva para fazer parecer que o ator vestido de Godzilla é gigante, de explosões e de luzes”, conta Gama. Na mesma sessão de Godzilla vs. Hedorah, será apresentado um curta-metragem brasileiro de temática semelhante: O Dragãozinho Manso – Jonjoca (1942), de Humberto Mauro. A obra conta a história de São Jorge sob uma outra perspectiva: em vez de matar o dragão, o santo opta por levá-lo para casa, porque ele se mostrou bom. Mas o dragão acaba sofrendo para se enturmar entre os humanos — e tem medo deles.
Imagens: Reprodução/Cinusp
Alucinógeno
Imagens: Reprodução/Cinusp
Outro filme brasileiro que passará na mostra é Brasa Adormecida (Djalma Limongi Batista, 1987), uma história de família com teor experimental que homenageia o filme Brasa Dormida (1928), de Humberto Mauro, e mistura animação e live-action de uma forma que Gama define como “lisérgica, alucinógena”.
Seguindo conceito semelhante, mas de volta à Ásia, estão na programação dois filmes de Hong Kong, de 1983, e que têm o que os curadores definem como “temática budista, com mitologia própria”: Zu – Os Guerreiros da Montanha Mágica (Tsui Hark) e The Boxer’s Omen (Kuei Chih-Hung). O filme de Tsui Hark é identificado com o wuxia, versão chinesa e honconguesa do que seriam os filmes de samurai no Japão. “Lá, os espadachins não só usam espadas, como voam, têm poderes… é algo muito mais fantástico, com o uso de efeitos variados”, explica Gama. Já a obra de Kuei Chih-Hung é do ramo das artes marciais mas vai além disso: “O filme fala sobre um homem cujo irmão acabou de ser assassinado e que é obrigado por uma maldição a virar um monge budista, e ganha poderes para vingar outro monge budista. Utiliza-se muito a luz colorida, os efeitos e as maquiagens especiais. É quase alucinógeno”, comenta Quevedo.
Imagens: Reprodução/Cinusp
Há, ainda, mais três produções notadamente incluídas na temática da mostra. A primeira é Milagre em Milão (Vittorio de Sica, 1951), que compõe o neorrealismo italiano. “O filme mostra um cenário de miserabilidade na Itália do pós-guerra, além de ter uma preocupação com a fotogenia popular, da apresentação de pessoas em vulnerabilidade extrema, mas ao mesmo tempo é profundamente lúdico.” A análise de Gama sobre o longa se dá pelo fato de que, apesar do contexto em que a trama ocorre, ela apresenta uma série de elementos fantásticos, ao contar a história de um menino, órfão, nascido de um repolho, que é acolhido por uma senhora e levado a um orfanato após a morte dela. “Ao longo do filme, ele descobre que tem poderes, e passa a ajudar as pessoas ameaçadas, com a ajuda de uma pomba enviada pela senhorinha. Ele combina esse retrato com o lúdico e o esperançoso, com muitos efeitos visuais”, completa.
Completam a lista Labirinto (Jim Henson, 1986) e Os Contos de Hoffmann (Michael Powell e Emeric Pressburger, 1951). O filme de 1986 conta a história de uma adolescente que, com ciúmes de seu irmão mais novo, pede a um personagem de um livro que leve o bebê embora. Ao se arrepender da decisão, ela se vê obrigada a ir a um labirinto mágico para resgatá-lo. Já a obra de 1951 traz, por meio do poeta Hoffmann, três histórias de amor fantásticas, com o uso de cores, texturas e estratégias de montagem para fazer parecer que as personagens aparecem e desaparecem.
Imagens: Reprodução/Cinusp
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