Mostra do Cinema da USP aborda mitos e lendas

Até 19 de março, programação de 15 longas-metragens tem foco em histórias contadas de geração a geração

 02/03/2023 - Publicado há 1 ano
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Banner da mostra Mitos e Lendas, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) - Foto: Reprodução/Cinusp

No último dia 27 de fevereiro chegou ao Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) a mostra Mitos e Lendas, que se estende até 19 de março. O evento expõe filmes que evocam narrativas transmitidas oralmente entre variados povos ao redor do mundo. “Precisamos mostrar como essas diferentes culturas retratam a questão dos mitos no cinema, como o cinema retrata, inova e recria cada um deles”, comenta Clara Escamilla, curadora da mostra.

Segundo Clara, Mitos e Lendas foi idealizada por uma antiga equipe do Cinusp. Sob uma perspectiva de diversidade temporal e geográfica, a ideia foi retomada e posta em prática em 2023. “Muitos dos filmes são raros, de difícil acesso e nunca (ou há muito tempo) não passam numa sala de cinema. Como um dos poucos cinemas gratuitos de São Paulo, achamos muito importante compartilhar filmes que normalmente não passariam em uma sala comum”, explica.

O fantasioso Silvestre (1981) abre a exibição como uma adaptação de dois famosos contos portugueses, A Mão do Finado e A Donzela Vai à Guerra. O filme narra a história das filhas de um nobre, na qual elas são enganadas por um estranho peregrino. O homem passa a procurar vingança ao ter a sua mão cortada por Silvia, a mais nova das filhas, e, mais à frente, a jovem entra em uma jornada de aventura em decorrência do desaparecimento do pai.

A adaptação de lendas conhecidas está fortemente presente na mostra. A começar por Édipo Rei (1967), do diretor italiano Pier Paolo Pasolini, que adapta o clássico mito grego para os cenários italianos das décadas de 1920 e de 1960. Já em Fausto (1926), o diretor expressionista alemão F. W. Murnau reconta o conflito entre Deus e o Diabo pelo futuro da humanidade, que se desdobra através da jornada do alquimista Fausto. O terror japonês Kuroneko (1968) e a fantasiosa produção de Hong Kong A Serpente Verde (1993) complementam as adaptações, remetendo a mitos folclóricos sobrenaturais do Extremo Oriente.

Em Contos da Lua Vaga (1953), as guerras civis do Japão no século 16 são o palco de reflexões sobre o passado e sobre o horror do pós-guerra em uma atmosfera fantasmagórica e fantástica. Os efeitos das guerras também são observados em A Teta Assustada (2009), que retrata uma lenda peruana sobre uma doença cujo nome dá título ao longa. Vítima da síndrome que é transmitida através do leite materno de mulheres que sofreram grandes traumas, a protagonista precisa lidar com a morte de sua mãe, que foi abusada por terroristas no Peru na década de 1980. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2010, sendo o primeiro filme peruano a alcançar tal feito.

Mitos religiosos sobre a criação do Universo marcam presença através de Fruto do Paraíso (1970), adaptação moderna do mito de Adão e Eva, e do brasileiro Samba da Criação do Mundo (1979), que explora as origens do planeta com base na tradição Nagô, a partir do desfile de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis em 1978.

A religiosidade também aparece através da busca pela valorização de culturas afetadas pela colonização europeia. Sob o Signo do Vodu (1974) marca a história de Benim ao ser o primeiro filme produzido no país. Com direção de Pascal Abikanlou, a obra retrata os rituais vodus com um olhar sobre o passado e o presente. Além disso, A Nação Secreta (1989), de Jorge Sanjinés, adentra a cultura de uma comunidade Aymara, tendo contato com elementos mitológicos da comunidade indígena e sob uma abordagem reflexiva de morte e renascimento.

O Golem (1920), A Lenda da Fortaleza Suram (1985), Os Nibelungos – A Morte de Siegfried (1924) e Pele de Asno (1970) completam a sequência da exibição, recheados de histórias típicas da comunidade judaica, georgiana, alemã e francesa, respectivamente. “Mitos são criados há séculos e passados oralmente, em um senso de coletividade. O cinema possui o mesmo caráter de uma experiência a ser apreciada por um coletivo”, afirma Clara.

A mostra Mitos e Lendas, que começou em 27 de fevereiro, fica em cartaz até 19 de março, às 16 e às 19 horas, de segunda a sexta-feira, na sala do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) no Anfiteatro Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e às 16 e 18 horas, no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 258/294, na Vila Buarque, região central de São Paulo) aos sábados e domingos. Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.


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