Livro retrata a obra de Ruy Ohtake, para quem a arquitetura é “expressão de vida”

Lançado no dia 4 de julho, livro reúne os principais projetos concebidos pelo arquiteto paulistano em mais de quatro décadas de carreira

 07/07/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 08/07/2016 as 14:03
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O Hotel Unique, em São Paulo – Foto: Reprodução

“Considero a arquitetura uma das manifestações humanas mais significativas, porque lida com uma série de itens importantes para a nossa cultura. A arquitetura é uma expressão de vida.” Com esse conceito, o arquiteto Ruy Ohtake é um dos responsáveis pela construção da São Paulo contemporânea. Da grandiosidade do edifício do Instituto Tomie Ohtake, entre as avenidas Faria Lima e Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros, ao condomínio residencial projetado para a comunidade carente da região do Heliópolis, Ohtake trava o desafio de projetar uma cidade que garanta a acessibilidade ao lazer, à cultura e à arte.

No livro Ruy Ohtake – Arquitetura e Design: 4 décadas + 2008–2015, da J. J. Carol Editora, estão os principais projetos do arquiteto. A sua trajetória é comentada por especialistas como Rodrigo Cristiano Queiroz, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Roberto Segre, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Paul Clemence, fotógrafo e crítico especializado em arquitetura. O livro foi lançado no dia 4 de julho, no Instituto Tomie Ohtake.

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O conjunto Aché Cultural-Instituto Tomie Ohtake – Foto: Reprodução

Logo nas primeiras páginas está Ruy Ohtake definindo e refletindo sobre o seu trabalho. “Boa arquitetura se completa com boa construção, porque a obra é a consolidação do projeto no espaço urbano, deve ser presença significativa, com inovação, provocando surpresa, e, sobretudo, ser bonita”, ressalta. “E porque, como arte, deve ser uma expressão de contemporaneidade, que em consequência significa compromisso com o futuro.”

Nesse compromisso, o arquiteto valoriza especialmente o convívio nos espaços. “A obra materializa a relação da arquitetura com as pessoas que a frequentam ou a usam: o diálogo com os espaços internos, a adequação dos materiais e a clareza funcional. É assim nas praças, nos centros de convivência, nos espaços culturais, nos aquários, nas moradias e nos complexos residenciais. São as emoções e as razões pelas quais tenho me empenhado para que meus projetos sejam construídos.”

 

 

Liberdade plástica

O arquiteto Ruy Ohtake - Foto: Reprodução
O arquiteto Ruy Ohtake – Foto: Reprodução

Há quem veja nas curvas de Ohtake a referência ao desenho de Niemeyer. Uma influência que o arquiteto nascido em São Paulo, em 1938, e formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, em 1960, não nega. Ohtake relembra: “Quando eu estava ainda no início do curso, ia ao Rio para observar o escritório de Niemeyer. Eu nem me atrevia a perguntar se ele podia me atender. Mas ficava por ali na porta, na expectativa de conversar. Até o dia em que ele me viu, perguntou o que eu queria e me mandou entrar. Fiquei observando as pessoas desenharem e ele me convidou para jantar. Eu não me sentia em condições para manter um diálogo, mas eu fiquei o tempo todo ouvindo”.

O primeiro encontro de muitos outros, que foram desenhando os caminhos do arquiteto. Na avaliação de Rodrigo Queiroz, professor da FAU, a trajetória de Ohtake é um exemplo oportuno para a compreensão da continuidade de um suposto legado moderno pós-Brasília, representado por Oscar Niemeyer. Porém, ressalta: “É importante dizer que curva, para Niemeyer e Ohtake, assume configurações absolutamente distintas: o arquiteto carioca preserva um raciocínio gráfico que se transporta do desenho para a obra, como a espessura de um gesto transformada em membrana construída, enquanto Ohtake assimila a ‘liberdade plástica’ pelo viés da maleabilidade da forma”.

Ruy Ohtake formou-se na FAU em 1960. Teve como referência os mestres João Vilanova Artigas, Lucio Costa e Oscar Niemeyer. Suas obras têm a poética das curvas do arquiteto carioca, mas primam pela liberdade plástica e maleabilidade da forma. Ohtake inventa o desenho e reinventa a técnica - Foto: Reprodução
Exposição comemorativa dos 50 anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP – Foto: Reprodução

Para o professor Roberto Segre, a dinâmica multicultural e as dimensões da vida social estão presentes na obra do arquiteto. No artigo que abre o livro Ruy Ohtake – Arquitetura e Design: 4 décadas + 2008–2015, faz uma análise de todas as obras no percurso da arquitetura mundial e no contexto histórico do País. Tem, especialmente, um foco nas obras de conteúdo social, destacando a intervenção de Ohtake na comunidade paulista de Heliópolis, em 2004. “Ao ser procurado pelos seus representantes, o arquiteto elaborou um projeto de transformação estética da região formada por casas e ruas, baseado na pintura das fachadas, que da crua e dura superfície de tijolos transformou-se em uma sintonia cromática desenvolvida com a participação ativa e voluntária dos moradores.”

Importante destacar que o projeto de reurbanização que Ohtake desenvolveu na comunidade colaborou para integrar Heliópolis em São Paulo como um novo bairro. O conjunto residencial, com prédios em formatos redondos e janelas coloridas, talvez tenha sido um dos maiores desafios de Ohtake. Integrou a arquitetura e a arte em um projeto de urbanização que incentiva a cidadania.

 

Grandes obras

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O novo livro de Ruy Ohtake – Foto: Reprodução

O livro destaca, na capa, o projeto em andamento do Aquário do Pantanal, em Campo Grande (MS). “Projetamos uma forma alongada e curva, que poderá vir a ser uma referência na cidade, em implantação no bonito Parque das Nações Indígenas”, explica Ohtake. “Será um significativo centro cultural, com biblioteca dedicada à cultura pantaneira, auditório para 240 lugares e estação para consulta interativa, não só para esse aquário, mas com conexão com outros aquários do exterior.” Em destaque também o conjunto Aché Cultural–Instituto Tomie Ohtake, que se tornou o ponto de encontro dos paulistanos, com uma agenda que inclui teatro, exposições, restaurante e cursos.

“Entre o final do século 20 e início do 21, surgiram as obras mais maduras e originais de Ohtake”, analisa o professor Segre. “As cores da torre do Hotel Renaissance, em 1992, o destacam no centro de São Paulo e a forma leve da catenária suspensa no ar identifica o Hotel Unique, em 2002, caracterizada pela imagem inédita que manifesta a alta tecnologia no sistema de janelas redondas na fachada de bronze verde. Paul Coldeberger, renomado crítico do New York Times, apontou essa obra entre as sete maravilhas do mundo em 2004.”

 

Ruy Ohtake – Arquitetura e Design: 4 décadas + 2008-2015, Editora J. J. Carol, 240 páginas, R$ 120,00.


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